Caso secreto revelado. Milhares de afegãos foram transferidos para o Reino Unido após fuga de informação

Milhares de afegãos foram transferidos para o Reino Unido ao abrigo de um programa secreto criado pelo anterior Governo britânico, liderado por Rishi Sunak, na sequência da divulgação acidental dos dados pessoais de cerca de 19 mil pessoas que colaboraram com o exército britânico antes da retirada das forças ocidentais do Afeganistão e da tomada de posse do regime taliban, em 2021. O caso foi silenciado pelas autoridades britânicas até esta terça-feira, dia em que a justiça decidiu que a ordem de silêncio deveria ser suspensa.

Rachel Mestre Mesquita - RTP /
Karim Sahib - AFP

Foi tornado público esta terça-feira o erro cometido por um funcionário anónimo do Ministério britânico da Defesa, cometido em fevereiro de 2022, e que comprometeu a segurança de milhares de ex-colaboradores das Forças Armadas britânicas no Afeganistão que tinham pedido proteção a Londres.  Esta fuga de informação, uma das maiores da história do Reino Unido, continha nomes, contactos e algumas informações de pessoas potencialmente em risco de sofrerem represálias por parte do regime taliban.

O governo anterior, liderado pelo conservador Rishi Sunak, só tomou conhecimento desta fuga massiva de informação em agosto de 2023, quando alguns dos dados apareceram na rede social Facebook. Para concertar o erro foi criado nove meses depois um novo programa de reinstalação para as pessoas que constavam da lista e que permitiu até ao momento acolher 4.500 afegãos. 

De acordo com a BBC, o caso da violação de dados, a resposta do Governo e o número de afegãos acolhidos ao abrigo deste programa especial foram mantidos em segredo de justiça até esta terça-feira, depois de o Governo de ter obtido uma ordem judicial que proíbe a divulgação de determinadas informações, designada "injuction"

Esta terça-feira um juiz do Supremo Tribunal de Justiça decidiu que a ordem de silêncio deveria ser suspensa, o que possibilitou a imprensa britânico divulgar o caso.
"Sincero pedido de desculpas"

O ministro britânico da Defesa, John Healey, apresentou esta terça-feira um "sincero pedido de desculpas" às pessoas cujos dados foram divulgados por lapso, nomeadamente  altos funcionários militares, funcionários governamentais e deputados. 

Numa intervenção na Câmara dos Comuns, em Londres, Healey explicou que se tratou de um "grave erro departamental" que resultou de um envio de uma folha de cálculo por email "fora dos sistemas autorizados do Governo", mas que não mereceu uma investigação policial por parte da Polícia Metropolitana de Londres.

O ministro acrescentou que nem ele próprio nem o atual primeiro-ministro inglês, Keir Starmer, tinham sido informados sobre a ordem de silêncio até "assumir o cargo após as eleições", escreve o The Guardian

Segundo informações do ministério britânico da Defesa, as pessoas cujos dados foram divulgados por engano só foram informadas esta terça-feira.  Além disso, permanecem no Afeganistão 600 soldados afegãos incluídos na fuga de informação, além de 1800 familiares

O Executivo afirma que o programa já está encerrado mas garante que as ofertas de realocação já feitas aos indíviduos que permanecem no Afeganistão serão honradas, sem especificar o número. 

O programa secreto - designado "Rota de Realojamento Afegão" - custou até agora 400 milhões de libras, o equivalente a 468 milhões de euros, aos cofres britânico. Estima-se que o valor possa chegar ao dobro.
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