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Central de ensaios nucleares da Coreia do Norte entra em colapso

por Graça Andrade Ramos - RTP
Presidente da Coreia do Norte Kim Jong Un observa o lançamento de um míssil Hwasong-12 numa foto sem data publicada pela KCNA a 16 de setembro de 2017 Reuters

Pode ser a explicação que faltava para o recente recuo de Pyongyang quanto ao seu programa nuclear, depois de tantos testes e ameaças. Geólogos chineses afirmam que o centro de ensaios onde se realizaram várias explosões nucleares corre o risco de ficar soterrado.

A montanha acima de Punggye-ri, a principal base de testes,  colapsou ao fim de cinco detonações nucleares, afirma-se no estudo assinado por Tian Dongdong, Yao Jiawen e Wen Lianxing. O risco de realizar ali novos ensaios e a possibilidade de fugas de radiação é muito real, alertam.

Os autores apelam às autoridades chinesas para que continuem “a controlar qualquer fuga de materiais radioativos”, tendo em consideração que “a base de testes da Coreia do Norte em Mantapsan colapsou”.

As conclusões foram divulgadas depois de o Presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-un, anunciar sábado passado unilateralmente que o país iria pôr fim ao seu programa de armas nucleares. Um “grande progresso”, rejubilou na altura o seu homólogo, Donald Trump.

O regime de matriz estalinista não anunciou a desistência total do seu programa nuclear, embora admita agora debater a sua desnuclearização com os Estados Unidos – que em 2017 ameaçaram intervir em força caso Pyongyang concretizasse as suas ameaças bélicas.

Após a divulgação do estudo chinês, a resistência residual de Pyongyang revela-se um provável bluff, mas permanece uma carta na manga essencial antes das reuniões com os Estados Unidos sobre o desarmamento do país.
Cimeiras 

Previstas para finais de maio ou inícios de junho, as conversações deverão realizar-se ao mais alto nível e de forma inédita juntar os presidentes de ambos os países, Kim Jong-un e Donald Trump.

Nas últimas semanas, Pyongyang assumiu uma postura conciliadora, depois de ao longo de 2017 realizar com sucesso vários testes nucleares e lançamentos de mísseis balísticos intercontinentais capazes de suportar engenhos atómicos.

Para esta sexta-feira está marcada uma cimeira entre os presidentes das duas Coreias, do Norte e do Sul, estando em agenda uma possível declaração de paz que substitua o armistício ainda em vigor.

O principal tema da cimeira histórica será a recente capacidade nuclear adquirida pela Coreia do Norte. Por isso mesmo, o anúncio de desistência do programa de armas nucleares, quando se assumia como ameaça concreta, foi surpreendente.Estado incerto
A Coreia do Norte afirmou-se ainda disposta a desmantelar o local dos ensaios, para garantir toda a transparência.

Analistas sublinham contudo que, a confirmarem-se as conclusões do estudo dos geólogos chineses, a verificação desse desmantelamento poderá ter de ser feita apenas através de robots e radares.

Além disso apontam a incongruência de Pyongyang parecer não estar incomodada com o possível acesso de terceiros aos segredos do seu programa nuclear, levantando a hipótese de o regime estar confiante de que não será possível qualquer inspecção real.

Dada igualmente a incerteza que paira sobre o estado do sistema de túneis de Punggye-ri - poderão estar completamente destruídos ou permanecer parcialmente operacionais -, Trump deverá exigir no mínimo uma visita ao local por parte de inspetores da IAEA - a Agência Internacional de Energia Atómica.
“Enxame de sismos”

O estudo chinês foi elaborado pela Universidade de Ciência e Tecnologia da China e tratou dados recolhidos após o teste nuclear mais potente de sempre realizado pela Coreia do Norte, a 3 de setembro de 2017.

Os geólogos acreditam que a explosão, que terá registado um impacto equivalente a 100 quilotoneladas de TNT, tenha desencadeado um colapso inicial sobre o centro de testes, a que se seguiu um “enxame de sismos” ao longo de várias semanas.

O risco de colapso do centro norte-coreano, devido aos testes, era uma hipótese há muito admitida.

As consequências sísmicas dos testes nucleares norte-coreanos têm sido uma fonte de preocupação para as autoridades chinesas. O centro de ensaios dista menos de 100 quilómetros da fronteira chinesa e alertas de radiação levaram diversas vezes à evacuação de escolas e hospitais e escritórios.

Kune Yull Suh, um engenheiro nuclear e professor na Universidade Nacional de Seul, avisou que novos testes poderiam desencadear uma erupção vulcânica do Monte Paektu, na fronteira sino-norte-coreana.
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