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Central nuclear de Fukushima. Peixes com radiação 180 vezes superior ao limite legal
Foi detetado césio radioativo 180 vezes o máximo legal do Japão em peixes capturados no porto da central nuclear de Fukushima. A China, a maior compradora de produtos do mar japoneses, já começou a fazer testes de radioatividade aos produtos alimentares provenientes da orla marítima do Japão e a Coreia do Sul intensificou a monitorização do pescado importado. Aumenta a preocupação entre os países da região perante a próxima libertação de toneladas de água da central, no oceano.
Esta presença radioativa acima do estabelecido indicia que a parte da central nuclear afetada pelo acidente de março de 2011 continua a impactar o ecossistema local.
O césio encontrado no peixe-rocha preto capturado a 18 de maio revelou 18 mil becquerels por quilo (unidade de radioatividade de uma determinada amostra de material).
O limite legal sob a Lei de Saneamento Alimentar japonesa é de 100 becquerels por quilograma. De acordo com a operadora da central, a Tokyo Electric Power Company (TEPCO) Holdings Inc., o pescado foi capturado dentro do quebra-mar interno, perto dos reatores nº 1 a nº 4 da central à beira-mar.
Peixes contaminados
Dos 44 peixes, três capturados nesta área estavam contaminados com materiais radioativos superiores a 1 mil becquerels por quilo. Além do peixe-rocha preto, foram detetados 1.700 becquerels por quilograma numa enguia em junho de 2022, e 1.200 becquerels em trutas durante abril de 2023.
Quando chove, a água da chuva escoa para a "drenagem K" - uma das várias tubagens da central. Durante o percurso, essa água passa por entulhos e solo, ambos contaminados com substâncias radioativas. Em seguida, é descarregado no pequeno porto da estação.
“Desde que a água contaminada fluiu para o porto da central nuclear de Fukushima Daiichi imediatamente após o acidente, a TEPCO remove periodicamente peixes de dentro do porto desde 2012 usando redes de pesca instaladas para impedir que os peixes escapem do porto”, afirmou um funcionário da empresas ao The Guardian.
Embora a TEPCO garanta o reforço das já existentes redes de alta resistência para evitar a fuga de peixes ao redor da saída do quebra-mar interno, o pescado contaminado também foi capturado no mar. Um total de três peixes negros que aparentemente escaparam do porto foram capturados a mais de dez quilómetros da central de Fukushima desde que as restrições à pesca comercial da espécie foram suspensas em janeiro de 2017.
“Quando um peixe-rocha preto com concentrações radioativas que excedem os padrões regulamentares foi capturado na costa de Soma [cerca de 50 quilómetros ao norte da central] em janeiro de 2022, começámos a instalar mais redes para evitar que os peixes saiam do porto”, acrescentou o funcionário da Tepco.
Descarte das águas de Fukushima e o consumo do peixe japonês
Os altos níveis de radioatividade encontrados no espécime testado, provocou ainda maiores dúvidas sobre o descarte das águas de Fukushima.
O plano do Japão para libertar 1,3 milhão de toneladas de água tratada da central de Fukushima desencadeou preocupação na região, apesar da aprovação da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) da ONU.
Hong Kong ameaçou proibir as importações de alimentos de dez províncias japonesas se a libertação da água ocorrer conforme planeado.
A Coreia do Sul está também em alerta. Foram intensificados testes no maior mercado de peixe da capital sul-coreana. As autoridades procuram mostrar que o pescado importado do Japão não apresenta insegurança alimentar para acalmar as preocupações dos consumidores sobre as notícias da água radioativa de Fukushima.
O primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida já reagiu à decisão dos países da região estarem a testar o pescado japonês. Kishida respondeu na terça-feira, que o seu governo “ irá pressionar para existir um escrutinio sobre a libertação da água de Fukushima baseado em evidências científicas”.