Cerca de 128 mil pessoas fugiram de povoados de Nampula numa semana diz ONU
A ONU estimou hoje que cerca de 128 mil pessoas tenham fugido, numa semana, das povoações de Lúrio e Mazula, no distrito de Memba, na província de Nampula, norte de Moçambique, após ataques de grupos extremistas.
De acordo com um relatório de atualização do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), os ataques coordenados de grupos armados não Estatais desde o dia 10 de novembro intensificaram-se nos distritos de Memba e Eráti, na província de Nampula.
Segundo a agência da ONU, os primeiros relatos indicam que algumas casas --- e uma escola --- foram incendiadas, propriedades foram saqueadas e civis mortos, feridos ou sequestrados: "estão em curso deslocamentos populacionais, estima-se que 80% da população de Lúrio e Mazula (aproximadamente 128.000 pessoas) tenha fugido para áreas de mata próximas ou para outros distritos".
"O medo de novos ataques e a persistente insegurança continuam a desencadear novos movimentos, à medida que se espalham rumores da presença de grupos armados não estatais pelas áreas afetadas", lê-se no documento.
O OCHA descreve ainda que informações no terreno relatam movimentos populacionais significativos em todo o distrito de Memba, com moradores de bairros vizinhos a concentrarem-se em Lúrio sede, enquanto algumas famílias atravessam o rio Lúrio em direção ao distrito de Mecúfi, na província de Cabo Delgado, que enfrenta a violência armada desde outubro de 2017, particularmente nas aldeias de Munariki e Natuco.
"Mazula está praticamente deserta devido aos ataques contínuos, e embora nenhuma concentração significativa se tenha formado em Memba. Na sede, observam-se partidas graduais, com civis a abandonar a região por receio de potencial violência", explica-se.
O OCHA assinala também o pequeno número de deslocados internos a chegar ao distrito de Nacala Porto e um aumento do tráfego de veículos em direção à cidade de Nampula, enquanto no posto administrativo de Namialo ocorre um padrão semelhante, com veículos a transportar famílias provenientes de Eráti e Nacala Porto.
"É importante salientar que os que chegam aos Postos Sedes no distrito de Memba são predominantemente famílias sem meios para se deslocarem para distritos vizinhos", avança, acrescentando que a localidade de Alua concentra atualmente o maior número de deslocados, com uma contagem rápida realizada às 18:00 (16:00 em Lisboa) da segunda-feira que indicava a presença de 2.830 famílias, cerca de 7.953 pessoas.
As autoridades de Educação informaram que as aulas foram suspensas em 33 escolas em Chipene e Lúrio, afetando mais de 18.700 alunos e 160 professores desde o início dos ataques extremistas no final de setembro, aponta-se no relatório.
"As condições humanitárias da população afetada - incluindo os deslocados em outubro e aqueles que ainda não receberam assistência - continuam a deteriorar-se, enquanto os parceiros humanitários permanecem sobrecarregados e com recursos insuficientes, alertou o OCHA, reiterando que os choques "múltiplos e sobrepostos" exercem uma enorme pressão sobre a capacidade de resposta das comunidades locais, aumentando os níveis de sofrimento mental.
Elementos associados ao grupo extremista Estado Islâmico reivindicaram a autoria de pelo menos dois ataques na província moçambicana de Nampula, provocando a morte de cinco cristãos, noticiou a Lusa na segunda-feira.
Na reivindicação, feita através dos canais de propaganda do grupo, refere-se que num dos ataques a uma aldeia "capturaram e mataram quatro cristãos a tiro" e que queimaram uma igreja. Noutro local assumiram que mataram um cristão e queimaram duas casas.
Em causa está crescente atividade insurgente, desde finais de setembro - cerca de 370 casas queimadas em diferentes aldeias em ataques anteriores -, no distrito de Memba, na fronteira com Cabo Delgado, província rica em gás e onde estes grupos armados realizam ataques há oito anos.