Cerca de 30 mil deslocados em Memba em drama humano devastador, alerta governador

Cerca de 30 mil pessoas estão deslocadas devido aos ataques de rebeldes no distrito de Memba, na província de Nampula, norte de Moçambique, anunciou o governador, referindo que o drama humano é devastador.

Lusa /

"O número de pessoas deslocadas já ascende a cerca de 30 mil. São vidas em rutura, famílias desfeitas, crianças arrancadas à normalidade, comunidades inteiras em fuga perante a violência", disse o governador de Nampula, Eduardo Abdula, durante campanha de doação de alimentos para as vítimas dos ataques em Memba, citado hoje pela comunicação social.

Segundo o responsável, a situação de ataques de grupos armados em Memba "agrava-se a cada dia, cada hora e cada segundo", o que condiciona a realização de exames escolares de cerca de 4.000 alunos, iniciados na quinta-feira em todo o país.

"O drama humano que ontem nos parecia de dimensão já alarmante, revelou-se hoje ainda mais devastador", referiu Abdula, acrescentando que os alunos afetados poderão realizar os exames na segunda época.

"Nesta altura é impossível pensarmos nos exames. (...) Dada esta situação e dos traumas que sofreram, temos que dar uma oportunidade para se prepararem", acrescentou o governador de Nampula.

Eduardo Abdula agradeceu a "pronta, generosa e altamente significativa" doação de produtos para as famílias deslocadas, afirmando que a escalada de violência armada continua e, por isso, exige uma resposta "proporcional à urgência e à gravidade do momento".

"Que este momento difícil nos encontre unidos, firmes no compromisso com a vida, com a dignidade humana e com a solidariedade que sempre caracterizou o povo de Nampula. Unidos continuaremos a ser a força que ampara quem precisa e a esperança que ilumina quem perdeu tudo", concluiu o governador.

Pelo menos cinco pessoas morreram nos recentes ataques extremistas em Memba, disse o governador, na quarta-feira, alertando que o número pode aumentar, já que falta de informação sobre as zonas ainda inacessíveis.

A Organização das Nações Unidas estimou, também na quarta-feira, que cerca de 128 mil pessoas tenham fugido, numa semana, das povoações de Lúrio e Mazula, em Memba, após ataques de grupos extremistas.

De acordo com um relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), os ataques coordenados de grupos armados não estatais desde 10 de novembro intensificaram-se nos distritos de Memba e Eráti, Nampula.

Segundo a agência da ONU, os primeiros relatos indicam que algumas casas e uma escola foram incendiadas, propriedades foram saqueadas e civis mortos, feridos ou sequestrados: "estão em curso deslocamentos populacionais, estima-se que 80% da população de Lúrio e Mazula (aproximadamente 128.000 pessoas) tenha fugido para áreas de mata próximas ou para outros distritos".

"O medo de novos ataques e a persistente insegurança continuam a desencadear novos movimentos, à medida que se espalham rumores da presença de grupos armados não estatais pelas áreas afetadas", lê-se no documento.

O OCHA descreve ainda que informações no terreno relatam movimentos populacionais significativos em todo o distrito de Memba, com moradores de bairros vizinhos a concentrarem-se em Lúrio sede, enquanto algumas famílias atravessam o rio Lúrio em direção ao distrito de Mecúfi, na província de Cabo Delgado, que enfrenta a violência armada desde outubro de 2017, particularmente nas aldeias de Munariki e Natuco.

Elementos associados ao grupo extremista Estado Islâmico reivindicaram a autoria de pelo menos dois ataques na província moçambicana de Nampula, provocando a morte de cinco cristãos, noticiou a Lusa na segunda-feira.

Na reivindicação, feita através dos canais de propaganda do grupo, refere-se que num dos ataques a uma aldeia "capturaram e mataram quatro cristãos a tiro" e que queimaram uma igreja. Noutro local assumiram que mataram um cristão e queimaram duas casas.

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