O acordo sobre as tréguas na Faixa de Gaza e a libertação dos reféns deverá entrar em vigor no domingo de manhã, um dia depois de ter sido aprovado por Israel no sábado, após 15 meses de uma guerra devastadora que fez dezenas de milhares de mortos no território palestiniano.
“Tal como acordado entre as partes envolvidas no acordo e os mediadores, o cessar-fogo na Faixa de Gaza terá início às 08h30 de domingo, 19 de janeiro, hora local de Gaza”, escreveu Majed al-Ansari, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Catar (o país mediador) na sua conta X, apelando ‘aos residentes (...) para que exerçam a máxima cautela e aguardem instruções de fontes oficiais’.
Anunciado na quarta-feira pelos mediadores, o acordo visa, segundo o primeiro-ministro do Catar, Mohammed ben Abdelrahmane Al-Thani, conduzir a prazo a “um fim definitivo da guerra”, desencadeada por um ataque sem precedentes do Hamas palestiniano contra Israel em 7 de outubro de 2023, durante o qual os reféns foram raptados.As coordinated by the parties to the agreement and the mediators, the ceasefire in the Gaza Strip will begin at 8:30 a.m. on Sunday, January 19, local time in Gaza. We advise the inhabitants to take precaution, exercise the utmost caution, and wait for directions from official…
— د. ماجد محمد الأنصاري Dr. Majed Al Ansari (@majedalansari) January 18, 2025
A primeira fase, repartida por seis semanas, prevê a cessação das hostilidades e a libertação de 33 reféns detidos em Gaza em troca de 737 prisioneiros palestinianos detidos por Israel.
Entretanto, soaram sirenes em Jerusalém, onde foram ouvidas explosões, e no centro de Israel, depois de um projétil ter sido disparado, segundo o exército, a partir do Iémen, onde os rebeldes Houthi dizem estar a lançar ataques contra o território israelita “em solidariedade” com os palestinianos. Nos termos do acordo, 33 reféns deverão ser libertados nas próximas seis semanas, em troca de centenas de palestinianos presos por Israel.
Entre os presos que deverão ser libertados por Israel encontra-se Zakaria al-Zoubeidi, responsável por atentados anti-israelitas e antigo chefe local das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, o braço armado do partido Fatah do Presidente Mahmoud Abbas.
Os restantes, incluindo soldados do sexo masculino, serão libertados numa segunda fase que será negociada durante a primeira. O Hamas afirmou que não libertará os restantes prisioneiros sem um cessar-fogo duradouro e uma retirada total de Israel.
O Hamas concordou em libertar três mulheres reféns no primeiro dia do acordo, quatro no sétimo dia e as restantes 26 nas cinco semanas seguintes. Os prisioneiros palestinianos também serão libertados. Todos os prisioneiros que constam da lista da primeira fase são jovens ou mulheres.
Segundo a AFP, três pontos de receção foram instalados na fronteira sul de Israel com Gaza, de onde os prisioneiros, tratados por médicos, serão levados para hospitais, informou um responsável militar israelita
Mas em antecipação ao início da trégua, na véspera da tomada de posse do Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, na segunda-feira, o exército israelita prosseguiu os ataques em Gaza, que mataram mais de 100 pessoas desde quarta-feira, segundo os serviços de emergência.
2,4 milhões de palestinianos regressam a casaNa Faixa de Gaza, devastada pelos bombardeamentos aéreos e pela ofensiva terrestre israelitas em represália do ataque de 7 de outubro, os deslocados - a grande maioria dos 2,4 milhões de palestinianos - preparam-se para regressar a casa.
“Vou retirar os escombros da casa e colocar lá a minha tenda”, disse à AFP Oum Khalil Bakr, que fugiu da cidade de Gaza para Nousseirat. “Sabemos que vai estar frio e que não vamos ter cobertores para dormir, mas o importante é regressar à nossa terra.”
Muitos “vão encontrar todo o seu bairro destruído”, sem quaisquer serviços essenciais, disse Mohamed Khatib da Medical Aid for Palestine em Gaza: “O sofrimento vai continuar, mas pelo menos há esperança.”
De acordo com a ONU, a guerra causou um nível de destruição no território palestiniano sitiado por Israel desde outubro de 2023 que “não tem precedentes na história recente”.
O ataque causou a morte de 1.210 pessoas do lado israelita, na sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais. Das 251 pessoas raptadas nesse dia, 94 continuam reféns em Gaza, 34 das quais mortas, segundo o exército.
Pelo menos 46.876 pessoas, na sua maioria civis, foram mortas na ofensiva israelita em Gaza, já debilitada por um bloqueio israelita imposto desde 2007, pela pobreza e pelo desemprego, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas considerados fiáveis pela ONUOuvidas explosões em Jerusalém e no centro de IsraelEste sábado, ouviram-se explosões sobre Jerusalém, depois de terem soado sirenes de alerta na cidade e no centro de Israel, com o exército israelita a anunciar que um projétil tinha sido disparado do Iémen.
Os rebeldes Houthi, que ocupam vastas áreas do Iémen devastado pela guerra, têm vindo a lançar ataques em território israelita desde o início da guerra em Gaza, alegando estar a agir “em solidariedade” com os palestinianos.
As explosões foram ouvidas sobre Jerusalém por volta das 10:20 locais (08h20 em Lisboa), observaram os jornalistas da AFP, pouco depois de as sirenes de alerta terem soado no centro de Israel em resposta a um projétil lançado do Iémen, informou o exército em comunicado.
Alguns minutos mais tarde, o exército anunciou que tinha intercetado o projétil.
Na quinta-feira, os Houthis avisaram que iriam continuar os seus ataques se Israel não respeitasse os termos do cessar-fogo na Faixa de Gaza com o movimento islamita palestiniano Hamas.
Juntamente com o Hamas e o Hezbollah libanês, estes rebeldes fazem parte daquilo a que o Irão chama o “eixo de resistência” contra Israel.
Também atacaram navios comerciais no Mar Vermelho acusados de ligações com Israel.
Em resposta aos seus ataques, Israel atacou alvos Houthi, nomeadamente no Golfo Arábico.
c/agências