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Charles Manson, a história de terror de um músico falhado

por Andreia Martins - RTP
Charles Manson a 16 de junho de 2011. Fotografia dos arquivos prisionais da Califórnia EPA

Era um dos mais conhecidos criminosos nos Estados Unidos e liderou uma espécie de culto, responsável por vários e hediondos homicídios nos finais da década de 60. Morreu este domingo ao fim de quase meio século de prisão.

Os seus crimes e história inspiraram músicas, filmes e livros nas últimas décadas. Tornou-se numa das figuras norte-americanas de destaque durante o século XX pelos piores motivos. Em 1970, a Rolling Stone chamava o assunto a capa e atribuía a Manson o desígnio de “o homem vivo mais perigoso”.

No obituário de Charles Manson, que morreu este domingo de causas naturais, aos 83 anos, o jornal The Guardian fala de “um fascínio mórbido” que permanece.
 
Charles Manson esteve na origem de um dos crimes mais aterradores em solo norte-americano. Não tendo cometido nenhum homicídio em termos práticos, promoveu uma espécie de culto hippie e racista, a “Família Manson”. 

Com a ajuda de drogas pesadas, motivou o grupo de 12 seguidores a cometer vários homicídios durante o verão de 1969, incluindo a atriz Sharon Tate, mulher do realizador Roman Polanski, grávida de oito meses naquela altura. No total, Manson é considerado responsável pelo assassinato de pelo menos seis pessoas, não havendo no entanto qualquer prova de que tivesse estado no local dos crimes. 

“Nas paredes, a escrita bizarra com sangue de palavras como RISE, HELTER SKELTER, e PIGGIES. Foram encontradas várias balas no local – bem como cordas, fronhas de almofada, garfos e facas”, conta o extenso artigo especial então publicado pela Rolling Stone. Na porta, a palavra PIG (porco) surgia escrita com sangue.

Nesse mesmo dia, a 9 de agosto de 1969, acabariam por morrer mais quatro pessoas nas proximidades. Na noite seguinte, o casal Rosemary e Leno LaBianco foram assassinados. Ao culto de Manson foi também atribuída a morte de Gary Hinman, um músico ligado ao mundo da droga assassinado no mês anterior. 

Várias entrevistas e trabalhos documentais realizados após os crimes revelam que Manson terá tentado através destes crimes a eclosão de uma guerra apocalíptica nos Estados Unidos, numa década de enormes tensões raciais. A morte de Martin Luther King, no ano anterior, tinha levado a luta pelos direitos das comunidades afro-americanas até um novo expoente. 

A profecia, defendia Manson, era inspirada pela música Helter Skelter, dos Beatles. Através da música de 1968, o psicopata antevia um conflito em larga escala, pretendendo que os crimes cometidos no verão seguinte fossem atribuídos ao Partido das Panteras Negras, um partido revolucionário e nacionalista de defesa dos negros. 

O obituário da BBC recorda que Manson chegou a convencer os seus seguidores, sobretudo mulheres, de que era a reencarnação de Jesus Cristo. 

Se a magnitude e a abominação destes crimes projetava grandes consequências, a sua origem terá estado em algo tão simples como a perceção de uma carreira falhada enquanto músico e uma desavença com Dennis Wilson, baterista do grupo Beach Boys, sobre a autoria do título de uma música, Never Learn Not to Love. 

Na verdade, a vida de Charles Manson desde o nascimento, em 1934, no Estado do Ohio, até aos homicídios da década de 60, tinha percorrido várias prisões, centros de detenção e de correção. 
Obsessão pela música
Criado no seio de uma família problemática, a mãe, Kathleen Maddox, tinha apenas 16 anos quando Manson nasceu. O primeiro nome com que foi batizado foi “No Name Maddox”, recebendo algumas semanas depois o nome Charles. 

Rejeitado pela família, foi colocado em várias instituições durante a infância e aos 13 anos já cometia os primeiros crimes, desde pequenos roubos em lojas ao roubo de carros, alguns anos mais tarde. 

Depois de uma fuga da prisão, um casamento falhado e o prolongamento de pena, Manson chega a 1967, com 32 anos, tendo vivido mais de metade da sua vida em prisões ou instituições. Em 1968, Manson foi rejeitado por um produtor que residia na casa que viria a estar ocupada pela família Polanski em agosto. 

Dada a natureza e magnitude dos crimes, Charles Manson e a sua seita são condenados à morte em 1971. No ano seguinte, o estado da Califórnia suspende a aplicação da capital e a pena dos criminosos passa a perpétua. 

Desde então, passou por várias prisões em quase meio século de vida, incluindo onze anos em solitária. A obsessão pela música não esmoreceu e ainda em 2009 tentou contactar Phil Spector, um produtor a cumprir pena na mesma prisão. Todos os contactos foram rejeitados. 

Nos anos 80, Manson tinha contactado Henry Rollins, músico e produtor que também esteve detido. Décadas depois, Rollins admitia que concordou em ajudar o criminoso, tendo gravado em parceria um álbum que nunca viria a ser editado. 

Os Guns N’ Roses chegaram mesmo a gravar uma música composta por Charles Manson. Look at Your Game, Girl, escrita pelo criminoso em 1967, foi incluída no álbum Lie: The Love and Terror Cult. 

Perante a possibilidade de Manson enriquecer à custa dos direitos de autor, Bartek Frykowski, filho de uma das vítimas de 1969 – o pai fora esfaqueado 51 vezes – amealhou os direitos com o pagamento de 62 mil dólares por cada milhão de álbuns vendidos.

Charles Manson teve dois filhos. Charles Manson Junior, nascido do primeiro casamento, suicidou-se em 1993. O segundo filho, Valentine, nasceu da relação com Mary Brunner, que viria a ser a primeira mulher a integrar o culto assassino. Em 2015, Charles Manson pediu licença para casar com Afton Elaine Burton, uma seguidora do culto com 26 anos, mas o matrimónio não foi autorizado.  
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