China alivia restrições. Cai isolamento de casos de covid-19 em centros de quarentena

por Inês Moreira Santos - RTP
Wu Hao - EPA

Após semanas de protestos e de críticas da comunidade internacional, o Governo chinês começou a abolir várias medidas de prevenção contra a covid-19. Algumas das políticas mais restritivas, como o isolamento de todos os casos positivos em instalações de quarentena, foram suspensas esta quarta-feira, sinalizando o fim da estratégia "zero covid", que tem gerado descontentamento da população.

Ao fim de quase três anos, a China está a abolir as políticas restritivas de combate à pandemia e a permitir que a população viva e enfrente o coronavírus, como já acontece na maioria dos países do mundo. O Governo de Xi Jinping anunciou que quem testar positivo para o SARS-CoV-2 pode, a partir de agora, cumprir isolamento em casa, em vez de ser enviado para instalações de quarentena, muitas vezes em condições degradantes.

“Pessoas assintomáticas e casos leves podem ficar isolados em casa (…), e podem ser transferidos para hospitais designados para tratamento em tempo útil se sua saúde piorar”
, lê-se no comunicado do Executivo.

O Governo chinês anunciou ainda que nas escolas e instituições de ensino onde não foram registados surtos devem ser retomadas as aulas presenciais e que os bloqueios se devem limitar agora a apenas andares e edifícios onde há casos, em vez de distritos ou bairros inteiros. E ao fim de cinco dias sem casos positivos, o bloqueio deve terminar nas áreas consideradas de “alto risco”.

Além disso, deixa de ser obrigatório apresentar um teste PCR negativo para aceder a locais públicos, exceto em hospitais, lares e escolas.

"Finalmente! Não vou mais preocupar-me com o facto de poder ser infetado ou de ser levado se for um contacto próximo", escreveu um cidadão nas redes sociais chinesas, citado pela BBC.

Apesar de a população expressar, nas redes sociais, alívio pela abolição das medidas restritivas não esconde alguma preocupação com as mudanças de política repentinas.

"Alguém me pode explicar o que está a acontecer? Porque é que a mudança é tão repentina e tão importante?", escreveu outra pessoa nas redes sociais. “Os sistemas de saúde ficarão sobrecarregados e muitos idosos serão infetados”.
Fim da política “zero covid”?
A mudança de política surge após protestos recentes em várias cidades do país contra a política de “zero covid”, que gerou uma sucessão de tragédias e casos de alegado abuso de autoridade e que impõe há quase três anos uma quarentena a quem chega do estrangeiro. Contudo, o alívio das medidas foi anunciado no momento em que a China enfrenta a maior vaga de infeções, registando uma média de 30 mil casos por dia.

No comunicado emitido esta quarta-feira, o Conselho de Estado proibiu ainda de forma explícita a “obstrução de portas”.

“É estritamente proibido bloquear saídas de incêndio, portas de unidades e portas comunitárias de várias maneiras para garantir que o acesso do público a tratamento médico e fuga de emergência seja desobstruído”, refere o documento.

Até agora, quando um caso positivo era detetado num bairro ou edifício, os portões e portas de acesso eram frequentemente trancados, incluindo saídas de emergência. Frequentemente, os elevadores eram também desativados e chapas de alumínio colocadas em torno do prédio ou bairro, que passava a estar sob a vigilância de seguranças privados 24 horas por dia.

As autoridades apelaram também a que se “acelere a vacinação dos idosos”, pedindo aos governos locais que aumentem a taxa de imunização entre os mais velhos, um dos grupos mais vulneráveis a morte ou doença grave, mas também o mais relutante em vacinar-se, no país asiático.

“Todas as localidades devem aderir e concentrar-se em melhorar a taxa de vacinação das pessoas entre os 60 e os 79 anos, acelerar a taxa de vacinação de vacinação de pessoas com 80 anos ou mais e tomar medidas especiais”.

O descontentamento entre a população chinesa foi acumulando-se ao longo deste ano, à medida que a variante Ómicron, considerada altamente contagiosa, lançou o país num ciclo de bloqueios sem fim à vista. Os protestos violentos das últimas semanas foram suscitados por um incêndio mortal num prédio na cidade de Urumqi, no noroeste da China. Os manifestantes dizem que os bloqueios no bairro, no âmbito das medidas de prevenção epidémica, atrasaram o acesso do camião dos bombeiros. Os moradores também não conseguiram escapar do prédio, cuja porta estava bloqueada.

Esta semana, a Liga da Juventude Comunista Chinesa admitiu que a retirada de algumas medidas seria uma resposta aos protestos nacionais, na primeira admissão de que Pequim está a ceder às exigências dos manifestantes.

Nos últimos dias, surgiram opiniões divergentes sobre a estratégia local de prevenção epidémica”, escreveu a Liga, na sua conta oficial na rede social WeChat, acrescentando que as rápidas mudanças na política mostram um nível de capacidade de resposta que seria “impossível” em qualquer outro lugar do mundo.

Num encontro com o presidente do Conselho Europeu Charles Michel, na semana passada, o presidente chinês terá admitido que os protestos refletiam a frustração com as medidas de prevenção contra a covid-19.
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