China retalia e anuncia novas taxas alfandegárias contra Estados Unidos

por RTP
Reuters

Pequim anunciou esta terça-feira a imposição de novas tarifas a bens norte-americanos no valor de 60 mil milhões de dólares (cerca de 51 mil milhões de dólares) em resposta à aplicação de novas taxas alfandegárias em quase seis mil produtos chineses, anunciada por Donald Trump na segunda-feira.

O executivo de Pequim não precisou de muito tempo para responder na mesma moeda às novas taxas alfandegárias anunciadas por Washington no início da semana. 

Esta terça-feira, o Ministério chinês das Finanças confirmou a imposição de novas tarifas a bens e produtos provenientes dos Estados Unidos que representam 60 mil milhões de dólares de importações anuais que chegam à China.  

No mesmo sentido, o Ministério chinês do Comércio disse esta terça-feira que a China terá de responder de forma a assegurar os “interesses legítimos numa ordem global de comércio livre”.  

O Ministério fez ainda saber que “lamenta profundamente” a aplicação de novas taxas alfandegárias apesar da “contestação interna e externa”, e que esperava por parte dos Estados Unidos um recuo efetivo, no sentido de reconhecer “as potenciais consequências negativas” das suas tarifas.  

O Governo chinês avisou ainda por comunicado que “se os Estados Unidos insistirem em aumentar ainda mais as suas taxas alfandegárias, a China responderá no mesmo sentido”, referindo ainda que o comportamento norte-americano só acrescenta “novas incertezas” às negociações sobre o diferendo comercial entre os dois países.  

Pequim anunciou ainda esta terça-feira que vai apresentar uma queixa adicional contra os Estados Unidos junto da Organização Mundial do Comércio (OMC).  
“Práticas comerciais desleais”

Na segunda-feira, o Presidente norte-americano anunciou a imposição de novas taxas alfandegárias sobre um total de 200 mil milhões de dólares (cerca de 171 mil milhões de euros) de importações com origem na China. 

Este valor representa cerca de 40 por cento das importações oriundas do país em quase seis mil produtos.  

A Casa Branca informava ainda que as taxas começariam a vigorar já na próxima semana, a partir de 24 de setembro e até ao final do ano. A 1 de janeiro de 2019, as taxas serão elevadas de dez para 25 por cento.

“Se a China tomar medidas de represália contra os nossos agricultores ou outras indústrias, vamos aplicar imediatamente a Fase 3, ou seja, taxas alfandegárias sobre cerca 267 mil milhões de dólares de importações suplementares”, adiantava a Administração Trump. Desta forma, praticamente todas as exportações da China para os Estados Unidos estariam sujeitas a estas novas taxas alfandegárias.  

Na explicação destas novas medidas, Donald Trump referiu que eram uma resposta às “práticas comerciais desleais da China”.

“Durante meses apelámos à China para que mude as práticas injustas e que garanta um tratamento justo e reciproco às empresas norte-americanas. Fomos muito claros em relação ao tipo de mudanças que precisam de ser feitas e demos à China todas as oportunidades para nos tratarem de forma mais justa. Mas, até agora, não se têm mostrado dispostos a alterar as suas práticas”, afirmou Donald Trump.  

A guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta não dá sinais de abrandar com este novo golpe, que vai atingir sobretudo alguns dos setores mais importantes para o exportador chinês.
Risco para a economia global?

A lista de produtos visados ainda não estava imediatamente disponível na terça-feira, mas uma lista preliminar, conhecida no início de agosto, enumerava vários bens passíveis de serem taxados no futuro, nomeadamente produtos agrícolas, têxteis ou mesmo gás natural liquefeito.  
 
Mas o diferendo parece continuar a encontrar algumas resistências significativas. Por exemplo, várias taxas norte-americanas aos produtos de origem chinesa acabaram por nunca sair do papel.  

Pelo menos 300 bens escaparam às novas tarifas perante os pedidos das empresas norte-americanas que estão dependentes do mercado chinês para produzirem os seus próprios produtos, como é o caso de multinacionais de relevo como a Apple, a Google ou a Amazon, cujos produtos contêm partes de fornecedores chineses.  

As novas taxas a serem aplicadas a partir de segunda-feira são as terceiras desde o início do ano e as de maior dimensão.  

Em julho, Washington começou por impor taxas alfandegárias de 25 por cento sobre um total de 29 mil milhões de euros de bens importados da China, a que Pequim respondeu com aplicação de taxas sobre igual valor. Já em agosto último, os EUA impuseram taxas adicionais de 25% sobre 13.800 milhões de euros de exportações chinesas, a que Pequim voltou a responder.  

Esta terça-feira, o vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, assumiu a inquietação perante este cenário.  
"Este tipo de conflitos comerciais são um risco para a economia global. Vemos que a disputa se está a desenvolver de forma preocupante, e julgamos que vai ter um impacto negativo", frisou.

O responsável europeu, a participar numa conferência do Fórum Económico Mundial em Tianjin, no norte da China, acredita mesmo que estas taxas poderão levar ao abrandamento da economia mundial.  

Dombrovskis defendeu que as disputas comerciais devem ser resolvidas através de mecanismos multilaterais. "É preciso que nos sentemos na mesa de negociações, precisamos preservar o sistema de regras multilaterais e, no caso de disputas, estas devem ser resolvidas nos trâmites da Organização Mundial do Comércio. Não se deve adotar uma postura unilateral”, considerou o responsável europeu.
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