China traz nova era de moralidade ao continente, diz académico sul-africano
Pequim, 27 Fev (Lusa) - O crescente envolvimento da China em África oferece ao continente a possibilidade de se libertar da "arrogância" americana e representa o início de uma "política moral", defendeu hoje o académico sul-africano Garth lePere na imprensa estatal chinesa.
Garth lePere, do Instituto para o Diálogo Global, da África do Sul, argumenta que a política chinesa para África - que lePere apelida de "Consenso de Pequim" - é superior à política dos Estados Unidos para o continente, parte de um conjunto de princípios e políticas para os países em vias de desenvolvimento a que académicos e políticos chamam de "Consenso de Washington".
"Enquanto o Consenso de Washington tem todas as marcas da arrogância do fim da história, o Consenso de Pequim permite, na sua essência, o desenvolvimento realçando os aspectos económicos, culturais e sociais", considera lePere, numa coluna de opinião no jornal estatal chinês China Daily.
"O Consenso de Pequim representa uma passagem das políticas do poder para as políticas da moralidade", diz o académico no artigo, que foi publicado antes na publicação Foreign Affairs Journal, do Instituto Popular Chinês de Relações Internacionais, debaixo do governo de Pequim.
Garth lePere afirma que o Consenso de Washington, com a defesa dos mercados e sociedade livres e da liberalização comercial, "continua a ser uma das características da hegemonia global dos Estados Unidos".
A expansão da China em África vem aumentar a concorrência que as empresas e governos da Europa e dos Estados Unidos enfrentam no continente, sobretudo na exploração dos recursos naturais africanos e na venda de bens e serviços.
A China tem como objectivo atingir até 2010 um volume comercial de 100 mil milhões de dólares (66,58 mil milhões de dólares), tendo ultrapassado os 70 mil milhões de dólares (46,6 mil milhões de euros) em 2007, o que que lePere considera positivo.
O "Consenso de Washington" tem sido alvo de críticas de académicos, economistas e políticos pelo menos desde finais da década de 1990, falando a comunidade internacional já de um "pós-Consenso de Washington", que dá prioridade às instituições e aos processos locais nas políticas de desenvolvimento.
"O compromisso da China com África não está exactamente de acordo com as expectativas ocidentais", afirma lePere, que sublinha ainda que a capacidade chinesa de competir com o ocidente nasce dos princípios políticos de Pequim em África e dá ao continente "novas opções de desenvolvimento" e "novas oportunidades económicas".
Os cinco princípios nos quais se baseia a política chinesa para África são resultado da teoria do antigo presidente Jiang Zemin, que privilegiam a sinceridade, igualdade e benefícios mútuos, solidariedade e desenvolvimento comuns e - o mais polémico - a não-interferência nos assuntos internos dos respectivos países.
É este princípio de não-interferência que leva a comunidade internacional a criticar o apoio que Pequim dá, por exemplo, ao governo do Sudão e que levou este mês o realizador americano Steven Spielberg a abandonar o cargo de conselheiro artístico das cerimónias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, que decorrem na capital chinesa entre 08 e 24 de Agosto.
Spielberg criticou o apoio da China ao governo sudanês, acusado de instigar os conflitos na região ocidental sudanesa do Darfur, que fizeram já pelo menos 200 mil mortos e 2,5 milhões de desalojados, resultantes dos conflitos étnicos, doenças e morte que castigam a região desde 2003, segundo as Nações Unidas.
Para além de ser o maior fornecedor de armas e equipamento militar estratégico ao país africano, a China é o maior parceiro comercial do Sudão, a quem compra 60 por cento da produção petrolífera.
RBV.
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