Mundo
Panama Papers
CIA fazia negócio com a Mossack Fonseca
Não é de hoje nem de ontem: os negócios da CIA com a indústria de criação de firmas fictícias vêm dos anos 80 do século passado. Agora, com as revelações dos Panama Papers, começam a emergir à luz do dia.
Uma das ligações, hoje revelada pelos jornalistas Will Fitzgibbon e Nicolas Richter no diário alemão Süddeutsche Zeitung (SZ), é entre as firmas criadas no Panamá por aquele escritório de advogados e várias pessoas ligadas a dossiers escaldantes da CIA.
O mais conhecido é, sem dúvida, o chamado “Iran-Contragate”. O seu pano de fundo foi o embargo norte-americano contra a República Islâmica do Irão. Os EUA retaliavam desse modo contra a invasão da sua Embaixada na capital persa, e contra o sequestro o pessoal diplomático e outro que aí se encontrava.
Mas, em paralelo com essa retaliação, o embargo estava secretamente a ser furado pela CIA. Um dos exemplos que dão os dois jornalistas do SZ é a entrega de armas no Boeing de um iraniano exilado no Estado do Missouri, de nome Farhad Azima – que agora aparece nos Panama Papers.
A bordo do avião iam principalmente mísseis anti-aéreos e peças sobressalentes para aviões de combate. A chegada a Teerão em pelo embargo, no dia 4 de Julho de 1986, e a natureza da carga eram tudo o que a CIA não estava autorizada a fazer e devia negar convictamente se fosse surpreendida em vias de fazer. Para isso precisava de Farhad Azima e de uma chancela panamenha. Quem se não a Mossack Fonseca para criar essa chancela?
A história parecerá inverosímil e continua a precisar de mais confirmações, para além das apresentadas no artigo hoje publicado pelo SZ. Mas a inverosimilhança dissipa-se se atentarmos no que foi, em tempos já recuados, o “Iran-Contragate”: a revelação da intrincada trama de cumplicidades que permitiu à CIA fornecer armamento sofisticado ao figadal inimigo iraniano, para financiar a guerra secreta contra o ainda mais figadal inimigo sandinista.
Com efeito, não havendo orçamento aprovado pelo Congresso para uma guerra suja contra a Nicarágua, era preciso criar um saco azul. E esse saco azul foi criado com petrodólares obtidos da origem mais improvável: o Irão, que dispunha de dinheiro e que o embargo impedia de utilizá-lo no mercado mundial para obter as mercadorias em falta.
Além desta troca de vantagens, havia uma outra para os EUA: a libertação de reféns norte-americanos retidos no Líbano.
De qualquer modo, a história de Farhad Azima é apenas uma das que conectam a CIA com os Panama Papers. Segundo os dois jornalistas do SZ, outros nomes que se encontram na charneira entre a agência norte-americana e as firmas panamenhas são os de um fornecedor de armas aos mudjahidin do Afeganistão, os de altos responsáveis dos serviços secretos da Arábia Saudita da Colômbia e do Ruanda.
Na Arábia Saudita, o nome referido o do xeque Kamal Adham, mas outras revelações estão também na forja sobre o empresário grego Sokratis Kokkalis, agente duplo que também fazia os seus biscates para a Stasi leste-alemã sob o pseudónimo de “agente Rocco" e, sobretudo, o agente alemão ocidental Werner Mauss, que só à sua conta detinha uma dúzia de firmas fabricadas pela Mossack Fonseca.
O mais conhecido é, sem dúvida, o chamado “Iran-Contragate”. O seu pano de fundo foi o embargo norte-americano contra a República Islâmica do Irão. Os EUA retaliavam desse modo contra a invasão da sua Embaixada na capital persa, e contra o sequestro o pessoal diplomático e outro que aí se encontrava.
Mas, em paralelo com essa retaliação, o embargo estava secretamente a ser furado pela CIA. Um dos exemplos que dão os dois jornalistas do SZ é a entrega de armas no Boeing de um iraniano exilado no Estado do Missouri, de nome Farhad Azima – que agora aparece nos Panama Papers.
A bordo do avião iam principalmente mísseis anti-aéreos e peças sobressalentes para aviões de combate. A chegada a Teerão em pelo embargo, no dia 4 de Julho de 1986, e a natureza da carga eram tudo o que a CIA não estava autorizada a fazer e devia negar convictamente se fosse surpreendida em vias de fazer. Para isso precisava de Farhad Azima e de uma chancela panamenha. Quem se não a Mossack Fonseca para criar essa chancela?
A história parecerá inverosímil e continua a precisar de mais confirmações, para além das apresentadas no artigo hoje publicado pelo SZ. Mas a inverosimilhança dissipa-se se atentarmos no que foi, em tempos já recuados, o “Iran-Contragate”: a revelação da intrincada trama de cumplicidades que permitiu à CIA fornecer armamento sofisticado ao figadal inimigo iraniano, para financiar a guerra secreta contra o ainda mais figadal inimigo sandinista.
Com efeito, não havendo orçamento aprovado pelo Congresso para uma guerra suja contra a Nicarágua, era preciso criar um saco azul. E esse saco azul foi criado com petrodólares obtidos da origem mais improvável: o Irão, que dispunha de dinheiro e que o embargo impedia de utilizá-lo no mercado mundial para obter as mercadorias em falta.
Além desta troca de vantagens, havia uma outra para os EUA: a libertação de reféns norte-americanos retidos no Líbano.
De qualquer modo, a história de Farhad Azima é apenas uma das que conectam a CIA com os Panama Papers. Segundo os dois jornalistas do SZ, outros nomes que se encontram na charneira entre a agência norte-americana e as firmas panamenhas são os de um fornecedor de armas aos mudjahidin do Afeganistão, os de altos responsáveis dos serviços secretos da Arábia Saudita da Colômbia e do Ruanda.
Na Arábia Saudita, o nome referido o do xeque Kamal Adham, mas outras revelações estão também na forja sobre o empresário grego Sokratis Kokkalis, agente duplo que também fazia os seus biscates para a Stasi leste-alemã sob o pseudónimo de “agente Rocco" e, sobretudo, o agente alemão ocidental Werner Mauss, que só à sua conta detinha uma dúzia de firmas fabricadas pela Mossack Fonseca.