Ciclone Jude ameaça norte de Moçambique com cenário de fome
O bispo católico de Nacala, província de Nampula, relatou hoje à Lusa um cenário de destruição de casas e infraestruturas provocado pelo ciclone Jude, perspetivando um cenário de fome no norte de Moçambique.
"Este ciclone veio mais forte. Eu estou a visitar os lugares em que temos acesso, temos inclusive acesso às fotografias de todas as missões, e é o ciclone com maior destruição. Posso dizer que quase 40 ou 50% das moradias caíram devido às chuvas fortes", relatou o bispo, confirmando o registo de pelo menos nove mortos, sobretudo devido à derrocada de casas.
Alberto Vera Arejula tem estado no terreno desde segunda-feira e afirma ser prematuro avançar com um número real de pessoas afetadas, já que o ciclone destruiu ou condiciona a maior parte das vias de acesso aos distritos e localidades da província de Nampula, mas garante que a necessidade de apoio é urgente.
A maior preocupação do bispo de Nacala estende-se aos danos causados em algumas zonas de cultivo, um cenário que, explica,poderá levar ao aumento da fome e casos de desnutrição em crianças: "Isso vai significar um duro golpe para a maioria do povo camponês, principalmente porque esperavam ter uma boa colheita de milho e pelo menos matar a fome. Mas nos próximos meses de abril, maio e junho nós vamos ter muita fome e desnutrição em crianças, enfermidades e mortes".
O Jude foi o terceiro ciclone a atingir o norte do país em menos de quatro meses, depois do Chido, em dezembro, e do Dikeledi, em janeiro. Aquela missão católica de Nacala já estava apoiar cerca de 500 famílias afetadas pelos dois anteriores, com um `kit` de construção, ajuda que neste cenário está condicionada.
"Justo nessa semana quando organizamos a missão para fazer o levantamento das famílias, já não conseguimos chegar em Alua e Nacala-Velha, devido à via, que está cortada, mas estamos a trabalhar para avançar com o primeiro projeto e ajudar as 500 famílias. Estamos à spera de apresentar um projeto maior, que vai necessitar de meio milhão de dólares [460 mil euros] para cima, para apoiar mais famílias que precisam, em todos os distritos", apontou.
O ciclone Jude já deixou a parte continental de Moçambique, com um rasto de destruição e pelo menos nove mortos, estando no mar, como tempestade tropical moderada, divulgou hoje o Instituto Nacional de Meteorologia (Inam).
No mesmo aviso, o Inam alerta que prevê "a ocorrência de ventos tempestuosos até 90 quilómetros por hora e rajadas ate 120 quilómetros por hora", que "poderão agitar o mar e gerar ondas com alturas até oito metros", bem como chuvas intensas, atingindo mais de 100 milímetros em 24 horas.
As autoridades moçambicanas elevaram hoje para nove o número de mortos na passagem do ciclone Jude, mantendo-se em 20 o número de feridos, indica-se num boletim do instituto de gestão de desastres.
O número de pessoas afetadas subiu para 100.410 e o de famílias para 19.961, dados que agora incluem também as províncias centrais de Tete e Manica, além de Zambézia, Nampula, Niassa e Cabo Delgado, as três últimas do norte de Moçambique.
O Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) aponta ainda, em dados até quarta-feira, 20.244 casas total e parcialmente destruídas, 28 unidades de saúde, 22 casas de culto e um edifício público afetados.
O ciclone tropical Jude entrou em Moçambique, na madrugada de segunda-feira, através do distrito de Mossuril, em Nampula, com ventos de 140 quilómetros por hora e rajadas até 195 quilómetros por hora, disse à Lusa Manuel Francisco, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inam) de Moçambique.