Cidadão com ligações a Portugal entre os três reféns que vão ser libertados este sábado

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Or Levy, Eli Sharabi e Ohad Ben Ami (da esquerda para a direita) AFP

O Hamas divulgou esta sexta-feira os nomes dos três reféns israelitas que vão ser libertados este sábado, sob o acordo do cessar-fogo em vigor. Entre eles está Or Levy, um cidadão com ligações a Portugal. Em troca, Israel concordou em libertar 183 prisioneiros palestinianos.

Or Levy, de 34 anos, Eli Sharabi, 51 anos e Ohad Ben Ami, 55 anos, são os três reféns que vão ser libertados pelo Hamas este sábado. Todos eles foram capturados durante o ataque do Hamas em solo israelita a 7 de outubro de 2023.

Segundo confirmou à Lusa fonte oficial, Or Levy tem ligações a Portugal.

Em troca, Israel vai libertar 183 prisioneiros palestinianos, incluindo “18 prisioneiros condenados à morte, 54 condenados a penas pesadas e 111 presos em Gaza depois de 7 de outubro”, confirmou à AFP a porta-voz do Clube de Prisioneiros Palestinianos, uma ONG responsável pelo caso.

A divulgação da lista dos reféns a serem libertados este sábado foi adiada por umas horas, depois de o Hamas ter acusado Israel de violar o acordo de cessar-fogo.

O grupo militar palestiniano acusou Telavive de atrasar a entrada de centenas de camiões com alimentos e outros materiais humanitários acordados sob o acordo de trégua que entrou em vigor a 19 de janeiro.

A troca de reféns israelitas por prisioneiros palestinianos é a quinta desde a entrada em vigor da trégua. No total, foram já libertados 18 reféns e cerca de 600 prisioneiros palestinianos. Nesta primeira fase do acordo, com duração de seis semanas, deverão ser libertados 33 reféns no total e 1.900 prisioneiros palestinianos.

Das 251 pessoas raptadas durante o ataque de 7 de outubro, 76 continuam detidas em Gaza, pelo menos 34 das quais mortas, segundo o exército.
Quem é Or Levy?
Or Levy foi certificado como sefardita pela Comunidade Judaica do Porto, requisito necessário para adquirir cidadania portuguesa.

"Or Levy, que será libertado amanhã [sábado], foi certificado pela Comunidade Judaica do Porto, uma vez que os seus avós paternos falavam ladino e pertenciam a uma família sefardita tradicional de Istambul na Turquia, a qual tomou o caminho de Israel no século XX", disse à agência Lusa o presidente da comunidade, Gabriel Senderowicz.

De acordo com o responsável da Comunidade Judaica do Porto, em novembro de 2023 - quando Or já estava nas mãos do Hamas na Faixa de Gaza -, os seus representantes legais e a própria embaixada de Israel em Portugal "solicitaram à Conservatória dos Registos Centrais de Lisboa que instruísse o processo com urgência".

"Cremos que o requerente terá obtido a nacionalidade, uma vez que preenchia os requisitos legais", acrescentou Senderowicz. O tio de Or Levy, referiu ainda, tem nacionalidade portuguesa.

Or Levy estava no Nova Music Festival com a sua esposa, Eynav, quando ocorreu o ataque do Hamas, a 7 de outubro de 2023. Os militares do Hamas mataram Eynav e sequestraram Levy, que foi mantido em Gaza durante este tempo.

Eynav mandou uma mensagem para a sua mãe a avisar que tinham chegado ao local do festival. Minutos depois, Levy enviou uma mensagem para a mãe a dizer que estavam a regressar a casa após os confrontos.

Às 7h39, Levy ligou para a mãe para dizer que estavam escondidos num abrigo. A mãe perguntou como é que eles estavam e Levy respondeu: “Mãe, não queiras saber o que se está a passar aqui”.

Esta foi a última mensagem de Levy e a família não teve mais notícias dele desde então. Vários dias depois, o exército israelita entrou em contacto com a sua família para informar que tinham encontrado o corpo de Eynav e que Levy tinha sido sequestrado e feito refém pelo Hamas.

Levy regressa este sábado a casa para o seu filho de três anos, Almog. "O seu filho de 2 anos, Almog, está à espera do regresso do pai", escreveu a embaixada na rede social X, em junho do ano passado.

O irmão do refém, Michael, "veio a Portugal três vezes em delegações de famílias de reféns para contar a história de Or e pedir que se faça tudo para trazer o seu irmão de volta", descreveu ainda a embaixada.
Trump e o seu plano para Gaza
As negociações indiretas entre o Hamas e Israel sobre a segunda fase do acordo começaram na terça-feira no Catar, um dos três países mediadores, juntamente com os Estados Unidos e o Egito. Esta segunda fase, que deve começar no início de março, estipula a libertação de todos os reféns e no fim definitivo da guerra em Gaza, antes de uma etapa final dedicada à reconstrução do território palestiniano.

No entanto, esta última etapa ficou em aberta depois de Donald Trump ter surpreendido tudo e todos ao propor que os EUA tomem conta da Faixa de Gaza transformem o pequeno enclave na “Riviera do Médio Oriente”
. Trump quer também que os palestinianos sejam retirados de Gaza e enviados para o Egito ou para a Jordânia.

O plano de Trump foi imediatamente rejeitado e condenado por vários países e vários membros da Casa Branca tentam, com dificuldade, dispersar a polémica, sem contrariar Donald Trump. Mas apesar da contestação, a Administração norte-americana continua com a intenção de avançar com o plano para deslocar os palestinianos de Gaza.

No entanto, esta sexta-feira, Trump disse aos jornalistas que este seu plano “não tem pressa”.

c/agências
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