Cientistas alertam para sexta extinção em massa na Terra

por Sandra Salvado - RTP
Ivan Alvarado - Reuters

Uma “aniquilação biológica” da vida selvagem nas últimas décadas é a conclusão de um novo estudo que dá conta de que milhares de milhões de mamíferos, aves, répteis e anfíbios desapareceram em todo o mundo desde o início do século XX. Para os cientistas significa que está em curso a sexta extinção em massa na história da Terra. O tempo para agir "é muito curto" e a humanidade acabará por pagar um preço muito alto.

O estudo foi conduzido pelos cientistas Gerardo Ceballos, Paul R. Ehrlich e Rodolfo Dirz e analisou 27.500 espécies de vertebrados terrestres (aves, répteis, anfíbios e mamíferos) desde o ano 1900.

Publicado pela PNAS - a revista oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a análise dos investigadores incidiu sobre a redução das populações em espécies existentes, raras e comuns, em vez de analisarem o número de espécies extintas ou em perigo de extinção, processo que era habitualmente utilizado.

“A aniquilação biológica resultante terá, obviamente, sérias consequências ecológicas, económicas e sociais. A humanidade acabará por pagar um preço muito alto pela diminuição do único conjunto de vida que conhecemos no Universo”, explicou ao The Guardian um dos autores do estudo, o mexicano, Gerardo Ceballos.

E acrescenta: “A situação tornou-se tão má que não seria ético não usar linguagem forte (…) Todos os sinais apontam para agressões ainda mais poderosos à biodiversidade nas próximas duas décadas, criando uma perspetiva sombria para o futuro da vida, incluindo da vida humana”.

A vida selvagem está a desaparecer devido à destruição do habitat, à poluição, à invasão de espécies exóticas e às alterações climáticas. Mas a principal causa é “a sobrepopulação humana, o crescimento populacional contínuo e o superconsumo”.



O facto de não existirem registos fidedignos sobre algumas das espécies analisadas no início do século XX e mesmo nos dias de hoje, optou-se por um método diferente que se centrou na geografia, ou seja, qual era a distribuição geográfica de cada espécie em 1900 e qual é a atual. Desta forma, foi possível calcular a dimensão das respetivas populações.

De acordo com os autores do estudo, os resultados são alarmantes, já que 8.851, o que representa um terço das espécies, já não está presente na maior parte do seu território original e outras populações locais desapareceram completamente.
Perda de 80 por cento da área geográfica
Há ainda dados mais fiáveis e detalhados sobre os mamíferos terrestres. O estudo dá conta de que, neste caso, quase metade destes animais perderam cerca de 80 por cento da sua área geográfica.

Paul R. Ehrlich disse ainda que o aviso é sério e “precisa de ser atendido porque a civilização depende completamente das plantas, animais e microrganismos da Terra que fornecem serviços de ecossistema essenciais desde a polinização e proteção até ao fornecimento de alimentos do mar e manutenção de um clima habitável”.

Ainda assim, os investigadores admitem que ainda há tempo para inverter esta situação mas alertam: “o tempo para agir é muito curto”.

Os investigadores apontam ainda para o caso "emblemático" do leão (Panthera leo) para dar um exemplo de gravidade da situação. "O leão foi historicamente distribuído na maior parte da África, Sul da Europa, Médio Oriente e Sul da Ásia. Agora, a grande maioria das populações de leões desapareceram”.
As cinco grandes extinções em massa que já ocorreram na Terra
1 - Período Ordoviciano

Ocorreu há cerca de 440 milhões anos, na transição entre o período Ordoviciano e o período Siluriano. Por movimentos geológicos internos, ocorreu uma diminuição da temperatura global e como consequência uma queda dos níveis dos oceanos. A vida marinha foi afetada e mais de 60 por cento das espécies desapareceram.

2 - Período Devoniano

Ocorreu há cerca de 360 milhões anos. Setenta por cento da vida marinha foi destruída. A sua causa ainda é desconhecida, embora haja uma teoria que sugira que pudesse ter sido causada por um meteorito.

3 - Período Permiano e Triássico

Ocorreu há 250 milhões de anos. Foi a que mais impacto teve na da terra, já que cerca de 95 por cento das espécies marinhas desapareceram. Existem duas teorias para explicar o que aconteceu: uma que refere o impacto de um asteróide no planeta e outra que fala de uma erupção vulcânica , que afetou os níveis de oxigénio na atmosfera.

4 - Período Triássico e Jurássico

Ocorreu há cerca de 200 milhões anos atrás. Na ausência de evidências de eventos catastróficos na época, acredita-se que tenha sido provocada por erupções vulcânicas maciças.

5 - Período Cretáceo e Terciário

Ocorreu há 65 milhões de anos. Teve um enorme impacto na biodiversidade da Terra. Diversas teorias tentam explicar a extinção deste período mas a mais aceite é de que a catástrofe tenha sido resultado de da colisão de um asteroide com a Terra. Uma grande percentagem de espécies desapareceu, incluindo os dinossauros e outros répteis gigantes.


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