Cientistas da Catalunha desenvolvem medicamentos contra novo coronavírus

por RTP
A longo prazo a parceria entre o BSC, o IrsiCaixa e o CreSA pretende também desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus Wolfgang Rattay - Reuters

Um grupo de cientistas da Catalunha criou um medicamento para ajudar no combate ao novo coronavírus. Os primeiros compostos vão começar a ser testados, em abril, no laboratório. Os primeiros ensaios em animais devem acontecer antes do verão.

Os tratamentos estão a ser a desenvolvidos graças a uma parceria entre três instituições científicas que conta com o apoio da multinacional farmacêutica Grifols. O Barcelona Supercomputing Center (BSC), um centro espanhol de investigação, irá aplicar a bioinformática, de modo a terem uma ideia de como é que o medicamento é capaz de neutralizar o coronavírus.

Já o instituto IrsiCaixa, com sede no Hospital Germans Trias e Pujol em Badalona, vai projetar os anticorpos com base em informações fornecidas pelo BSC. Além disso, irá testá-los em culturas de células vulneráveis ao coronavírus. O Centro de Pesquisa em Saúde Animal (CreSA) realizará os testes em animais.

Numa teleconferência realizada entre os investigadores da IrsiCaixa e os institutos de Marselha em França e Munique, na Alemanha, foi estabelecida uma colaboração internacional para acelerar o desenvolvimento de medicamentos e vacinas. O que se pretende é apresentar o projeto à Iniciativa sobre Medicamentos Inovadores (IMI) da Comissão Europeia, que este mês vai destinar 30 milhões de euros para projetos de pesquisa sobre o coronavírus.

“Não começámos do zero”, disse Alfonso Valencia, investigador do Icrea, uma instituição catalã de pesquisa e estudos avançados.

“Durante a epidemia de Ébola na África Ocidental, desenvolvemos métodos computacionais para desenvolver terapias baseadas na informação do genoma do vírus. No entanto, a epidemia foi resolvida antes de as aplicar. Assim que o genoma do novo coronavírus foi publicado [a 10 de janeiro], pensei que era hora de tirar proveito de todo o trabalho que tínhamos feito”, acrescentou.Os métodos computacionais conseguem revelar a estrutura tridimensional da proteína que o vírus usa para se conectar às células que infeta. A partir daí, permitem perceber a maneira como os anticorpos bloqueiam a entrada do vírus nas células.

O novo coronavírus possui proteínas chamadas Spike que arquitetam a sua membrana dando-lhe uma aparência de coroa, quando vistas ao microscópio, sendo por isso chamado de coronavírus. Estas proteínas permitem que os recetores específicos, chamados de ACE2 se mantenham na membrana celular. Perante isto, a estratégia será projetar anticorpos que impeçam a ligação da proteína Spike aos recetores ACE2.

O plano de trabalho pressupõe a criação física dos anticorpos no IrsiCaixa a partir dos dados de bioinformática fornecidos pelo BSC. Além disso, estão a ser criados quatro anticorpos que vão estar disponíveis para se iniciarem os ensaios em culturas de células dentro de quatro a seis semanas.

“Os anticorpos têm a vantagem de ter um efeito duradouro, portanto, uma única injeção deve ser suficiente para tratar uma infeção aguda”, explicou Nuria Izquierdo-Useros, a investigadora que irá testar os quatro anticorpos em culturas de células.

Destes anticorpos, serão escolhidos os que demonstrarem maior eficácia e depois enviados a Joaquim Sagalés, do CreSA, para testá-los em animais. Caso apresente resultados positivos, o tratamento será testado em outros animais, de modo a se verificar a sua eficácia e segurança antes de administrá-lo às pessoas.

A longo prazo a parceria entre o BSC, o IrsiCaixa e o CreSA pretende também desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus.
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