Cientistas descobrem que ainda existem na Terra pelo menos duas espécies de animais consideradas extintas

A comunidade científica confirma as boas notícias: há duas espécies de animais, consideradas já extintas, que afinal ainda habitam o planeta Terra. Na semana passada foi avistada, na Argentina, uma lontra-gigante selvagem, que se pensava desaparecida desde a década de 1980. Também na terça-feira passada, os cientistas do Equador confirmaram que uma tartaruga gigante encontrada em 2019, nas ilhas Galápagos, é de uma espécie considerada extinta há um século.

Inês Moreira Santos - RTP /
Reuters

Desde a década de 1980 que não se via, em ambiente selvagem, uma lontra-gigante na Argentina, ameaçada pela caça massiva e a destruição do seu habitat. Os cientistas temiam, desde essa altura, que já não existissem espécimes destes na região sem ser em cativeiro ou que apenas uns últimos animais viveriam em pequenos enclaves na Amazónia e na Guiana.

Mas os investigadores foram surpreendidos pela também chamada de ariranha brasileira (ou Pteronura brasiliensis), quando na semana passada apareceu uma inesperadamente na reserva da Fundação Rewilding da Argentina. Sebastian di Martino estava a passear de caiaque ao longo do rio Bermejo, no Parque Nacional Impenetrável da Argentina, quando ouviu um barulho e reparou no animal a mergulhar e a nadar à superfície.

"Foi uma grande surpresa", disse ao Guardian Di Martino, diretor de conservação da Fundação Rewilding Argentina. "Ao início, eu não conseguia acreditar no que estava a ver".

"Fiquei incrédulo. É uma sensação incrível de tanta felicidade. Não sabia se devia tentar segui-lo ou correr de volta para a nossa estação para contar aos outros [investigadores]".

Di Martino ao ver o animal, num aparecimento inesperado, filmou-o.

"Caso contrário, era um bocado complicado que alguém acreditasse que tinha visto uma ariranha brasileira"
.



"Ela emergiu, e então ficou visível o peito branco, que reconheci como sendo da lontra-gigante. Nesse posição, as suas pernas ficam fracas e o seu coração começa a bater mais rápido".

A espécie está à beira da extinção devido à caça em massa e à perda de habitat e os investigadores acreditavam que já não existiam na Argentina. Não era vista uma lontra-gigante no rio Bermejo há mais de 100 anos.

Sebastián Di Martino considera que há duas explicações possíveis para o regresso do animal a esta região da América do Sul.

"As populações mais próximas conhecidas de lontras-gigantes, ameaçadas de extinção globalmente, encontram-se no Pantanal paraguaio, que se liga a este rio a mais de mil quilómetros daqui. Esta é a explicação mais simples", explicou.

A outra possibilidade é ter existido sempre uma pequena população na área que passou despercebida aos investigadores.

"Estes animais vivem em grupos familiares, e este era um indivíduo sozinho, mas que achamos que veio de algum grupo".

A reintrodução desta espécie no Parque Nacional Impenetrável da Argentina seria essencial para o ecossistema local, de acordo com Di Martino: "Como predadoras de topo, as lontras-gigantes exercem uma influência reguladora sobre as plantas e outros animais, o que contribui para a saúde dos ecossistemas aquáticos".

"Para nós, a importância deste avistamento prende-se com o facto de nos recordar que temos de proteger mais esta jóia da biodiversidade que é o Parque Nacional Impenetrável", disse ainda o diretor da reserva. "O rio Bermejo, onde foi encontrada esta lontra, é repleto de atividades ilegais como a caça e a pesca. Tem de haver mais fiscalização (...). A importância de ver esta lontra aqui novamente é que ela mostra-nos que a natureza é resiliente. Se pudermos evitar o desaparecimento [de espécies], há esperança".
Tartaruga considerada extinta há 100 anos ainda existe nas Galápagos

Em 2019, uma expedição conjunta entre o Parque Nacional de Galápagos e a Conservação de Galápagos encontrou uma tartaruga, na ilha Fernandina, arquipélago de Galápagos.

Já na altura, cientistas da Universidade de Yale identificaram a espécie como Chelonoidis phantasticus, considerada extinta há mais de 100 anos. No entanto, recolheram amostras para análise e nos últimos dois anos têm vindo a trabalhar no projeto, tendo agora confirmado.

Na terça-feira passada, o Equador confirmou que a tartaruga gigante é de uma espécie considerada extinta há um século. O Parque Nacional das Galápagos está agora a preparar uma expedição para procurar mais tartarugas desta espécie, numa tentativa de a conseguir salvar.

A tartaruga foi encontrada há dois anos na ilha Fernandina, uma das ilhas mais jovens e imaculadas do arquipélago, durante uma expedição do Parque Nacional das Galápagos e da associação Galápagos Conservancy. Os investigadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, identificaram a tartaruga como sendo da espécie Chelonoidis phantasticus, considerada extinta há mais de 100 anos.

"A Universidade de Yale revelou os resultados dos estudos genéticos e a respectiva comparação do ADN que foi feita com uma amostra recolhida em 1906", conta o Parque Nacional das Galápagos, num comunicado.

A Chelonoidis phantasticus, própria da ilha Fernandina, é uma das 15 espécies de tartarugas gigantes de Galápagos, das quais desapareceram exemplares da Chelonoidis spp (ilha de Santa Fe) e da abigdoni (Pinta).

Danny Rueda, diretor do Parque Nacional de Galápagos, garante que "esta descoberta renova a esperança de recuperação da espécie".

As Galápagos acolhem inúmeras variedades de tartarugas que vivem em conjunto com flamingos, albatrozes e corvos-marinhos, assim como uma vasta flora e fauna em perigo de extinção.

"Acreditava-se estar extinta há mais de cem anos. [Agora] reconfirmamos a existência da mesma", escreveu Gustavo Manrique, ministro do Ambiente do Equador, na sua conta no Twitter.


Segundo dados do Parque Nacional das Galápagos, a população actual de tartarugas-gigantes, de várias espécies, ronda as 60 mil. Uma delas, conhecida como Lonesome George, um macho da ilha Pinta famoso por ter sido o último da sua espécie e que morreu em 2012 sem deixar descendência.

As tartarugas gigantes chegaram há três ou quatro milhões de anos à região vulcânica de Galápagos. Acredita-se que as correntes marinhas tenham dispersado os seus exemplares pelas ilhas e que desta forma foram criadas as variedades.

Com flora e fauna únicas no mundo, o arquipélago, que é considerado Património Natural da Humanidade e reserva da biosfera, serviu ao naturalista inglês Charles Darwin para desenvolver a teoria da evolução da espécies.
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