Mundo
Cientistas pedem ajuda para ouvir a vida nos recifes de coral
Os recifes de coral, associados muitas vezes a zonas de clima tropical, são ecossistemas sob alto risco de vulnerabilidade. Com a crescente crise climática, estão a diminuir a ritmo alarmante. Um caminho que pode mesmo desembocar na extinção de largos ecossistemas essenciais à vida marinha. Os cientistas estão preocupados.
A questão levou os investigadores a procurarem soluções que pudessem ajudar a monitorizar e preservar estes ecossistemas e até recuperar recifes danificados.
O som emitido por estes habitats pode fazer parte da solução.
O som emitido por estes habitats pode fazer parte da solução.
O mundo que nos rodeia é composto de muitos estímulos, entre os quais auditivos. Debaixo de água, esta questão tem ainda mais valor, sendo o meio aquático um amplificador natural do som. E todos os seres vivos marinhos comunicam.
Aproveitando esta ferramenta natural, os investigadores analisaram o comportamento da vida nos recifes de coral e chegaram à conclusão de que os sons dos animais que vivem nestes ecossistemas podem ser a verdadeira solução para revitalizar, ou mesmo criar, outros espaços marinhos como estes.
Os investigadores instalaram hidrofones - microfones projetados para serem usados debaixo de água - em recifes de corais de todo o mundo, incluindo áreas marinhas protegidas, para registar os sons da vida nestes locais. Com este procedimento - captura sonora – surge toda uma nova compreensão sobre a saúde, a biodiversidade e a atividade dos animais nestes preciosos habitats. A investigação descobriu que, quando estes sons são reproduzidos em altifalantes subaquáticos, em habitats danificados, estes podem ser usados para chamar novos cardumes que vão repovoar estas zonas.
Trata-se de uma plataforma de acompanhamento online que dá pelo nome de “Calling in our Corals”.
É através desta nova plataforma que os investigadores estão agora a convidar o público a ouvir muitas das gravações – realizadas em dez recifes de países como a Austrália, Indonésia, Filipinas, Estados Unidos, Panamá ou Suécia – para ajudarem a obter dados valiosos.
É através desta nova plataforma que os investigadores estão agora a convidar o público a ouvir muitas das gravações – realizadas em dez recifes de países como a Austrália, Indonésia, Filipinas, Estados Unidos, Panamá ou Suécia – para ajudarem a obter dados valiosos.
Um trabalho que conta com um parceiro: a Google Arts & Culture, que visa acelerar esta missão bioacústica.
Os recifes de coral são lugares surpreendentemente barulhentos, mas nos recifes danificados ou sobre-explorados, tornam-se mais silenciosos devido à falta de vida marinha.
Em alguns locais, a investigação passou por colocar gravadores de som nas áreas marinhas protegidas - onde não há pesca - e em áreas de pesca próximas para efeitos de comparação. Procurou-se auscultar os benefícios da proteção.
Estão a ser realizadas comparações, por outro lado, em locais em que a população piscícola diminuiu devido à sobrepesca, bem como à má qualidade da água. Regiões onde se está já a recuperar ativamente os recifes de coral através de replantação e reconstrução de habitats.
Inteligência Artificial na ajuda à reconstrução
Apesar de atualmente existir alguma controvérsia em torno da forma como se está a expandir e a usar a Inteligência Artificial (IA), o uso desta ferramenta pode ser muito útil neste campo.
Apesar de atualmente existir alguma controvérsia em torno da forma como se está a expandir e a usar a Inteligência Artificial (IA), o uso desta ferramenta pode ser muito útil neste campo.
Os investigadores querem aproveitar esta capacidade da IA para criar várias reproduções sonoras e implementá-las no seio marinho. E é aqui que é possível contribuir.
No link aqui disponibilizado, qualquer pessoa pode ajudar a identificar os sons da vida marinha, gravados pelos investigadores em corais verdadeiros e ainda repletos de vida.
Imagem visual de uma gravação sonora marinha. Os pontos mais rosados são registos sonoros da vida animal, que o participante desta plataforma vai ter de identificar. Creditos Google Artes & Culture - Calling in Our Corals
Após essa identificação, realizada online, as marcações são enviadas para um sistema de Inteligência Artificial que vai criar múltiplas sessões de sons, simulando a vida num recife de coral, que posteriormente serão instaladas no fundo do mar, em recifes despovoados ou em risco.
Estas criações de sons ambiente artificiais, sempre diferentes para não criar suspeição à fauna marinha, serão o chamariz perfeito, indicando às várias espécies que aquele é um local para colonizar e nidificar. Espera-se, desta forma, repovoar estes “coloridos e ricos” espaços de vida subaquática.