O acordo internacional contra o aquecimento global e as alterações climáticas vai esperar até sábado. A Cimeira do Clima, que previa para esta sexta-feira a assinatura de um texto, prolongou as negociações. O objetivo é ultrapassar questões complexas que opõem algumas partes e apresentar uma versão final.
"Nós preferimos ter tempo para consultar as delegações durante todo o dia de sexta-feira", afirmou a mesma fonte.
De acordo com o coordenador da Cimeira do Clima, o ministro dos Negócios Estrangeiros de França Laurent Fabius, "as coisas estão no caminho certo".
As ONG dizem-se satisfeitas com as alterações feitas ao esboço de proposta anteriormente apresentado.
O futuro do Pacto de Paris visa envolver pela primeira vez todos os países na luta contra o aquecimento global, a fim de evitar o agravamento de situações extremas como ondas de calor, secas, inundações e escassez de recursos, que já ameaçam importantes porções do planeta.
Eram cerca das 6h00, menos uma hora em Lisboa, quando os delegados deixaram a sala de negociações. Questionado pelos jornalistas acerca do ambiente na sala, o norte-americano Todd Stern disse apenas ser "cansativo".
Por volta das 21h00 de quinta-feira, Laurent Fabius apresentou uma nova versão, mais curta, de um projeto de acordo.
Este documento era uma compilação de "alguns pontos específicos entre parêntesis" sobre questões "complexas", sublinhou o ministro francês. "Diferenciação, financiamento e ambição", enumerou.
Questões "complexas"
Uma das questões sensíveis é a do plafond do aquecimento global. O debate começou em torno da definição de um máximo de 2º C, mas os países mais vulneráveis - como os Estados insulares ameaçados pelo aumento do nível da água do mar - pedem uma cota máxima de 1,5º C.
O projeto de acordo apresentado na quinta-feira definia já uma posição intermediária. Propõe um compromisso de conter o aumento da temperatura média "abaixo dos 2ºC", mas continuar "os esforços para limitar o aumento a 1,5ºC", cita o jornal francês Le Monde.
A diferenciação entre países ricos e países pobres e a questão da "responsabilidade comum mas diferenciada" foi também tida em conta e alvo de avaliação para a nova proposta.
"Um acordo duradouro não pode ser elaborado com base na diluição das responsabilidades históricas e pondo poluidores e vítimas ao mesmo nível", disse Prakash Javadekar, ministro indiano do Ambiente.
Este sábado milhares de pessoas vão sair às ruas de Paris para prestar homenagem a todas as vítimas de efeitos do aquecimento global, num sinal de respeito, determinação e esperança. O apelo é subscrito por diversas personalidades, entre elas Patti Smith, Thom Yorke, Naomi Klein, e Vandana Shiva.
O financiamento também é um dos pontos fulcrais em cima da mesa. Os países questionam-se quanto aos fundos e quais devem ser os Estados a contribuir para os apoios aos países em desenvolvimento, existindo a proposta de cooperação numa base voluntária.
Neste ponto o documento sugere que "os países desenvolvidos devem fornecer financiamento [novo], [adicional], [adequado], [previsível], [acessível], [sustentável] e [crescente] para ajudar os países em vias de desenvolvimento" na adaptação. Os termos entre parêntesis estão para ser decididos.
Segundo Izabella Teixeira, a ministra do Ambiente do Brasil, a partilha de financiamento deve ser "equilibrada", tendo em conta as prioridades dos países. "Queremos um acordo que permita saber a quantidade real" de financiamento preciso.
Perdas e danos
No ponto das "perdas e danos", os países não chegaram a acordo, mas reconhecem a importância de debater a questão dos impactos adversos causados pelas consequências das alterações climáticas.
De acordo com a Oxfam, "a questão das perdas e danos ainda está suspenso: duas opções muito diferentes permanecem sobre a mesa".
Os objetivos a longo prazo, na maioria, não foram tidos em conta para lá de 2030. No esboço apresentado quinta-feira, os 195 países sugerem o objetivo de "neutralizar as emissões de gases com efeito de estufa na segunda metade do século".
Para apurar a eficiência do futuro acordo de Paris, faltava definir um mecanismo de revisão. Agora, o documento prevê uma "avaliação global" do progresso, com uma primeira reunião em 2023, sendo o acordo de Paris entra em vigor em 2020. Depois, seguem-se avaliações "a cada cinco anos".
A transparência mereceu também atenção redobrada: definida pelo Protocolo de Quioto, apenas os países desenvolvidos tinham obrigação de fazer monitorização das emissões de carbono para a atmosfera.
O acordo pede, assim, garantias de que todos os países cumpram as promessas em matéria de emissões, com dados reais atuais. Mas sobretudo os países em desenvolvimento.
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