Cimeira do Clima arrasta-se à procura de acordo sobre aquecimento global

por João Ferreira Pelarigo - RTP
De acordo com Laurent Fabius, "as coisas estão no caminho certo" para um acordo Stephane Mahe, Reuters

O acordo internacional contra o aquecimento global e as alterações climáticas vai esperar até sábado. A Cimeira do Clima, que previa para esta sexta-feira a assinatura de um texto, prolongou as negociações. O objetivo é ultrapassar questões complexas que opõem algumas partes e apresentar uma versão final.

Os representantes dos 195 países reunidos há duas semanas em Le Bourget trabalham num texto final que "será apresentado na manhã de sábado para ser adotado por volta do meio-dia", esclareceu a presidência francesa da COP21, citada pela agência France Presse.

"Nós preferimos ter tempo para consultar as delegações durante todo o dia de sexta-feira", afirmou a mesma fonte.

De acordo com o coordenador da Cimeira do Clima, o ministro dos Negócios Estrangeiros de França Laurent Fabius, "as coisas estão no caminho certo".
As ONG dizem-se satisfeitas com as alterações feitas ao esboço de proposta anteriormente apresentado.
O futuro do Pacto de Paris visa envolver pela primeira vez todos os países na luta contra o aquecimento global, a fim de evitar o agravamento de situações extremas como ondas de calor, secas, inundações e escassez de recursos, que já ameaçam importantes porções do planeta.

Eram cerca das 6h00, menos uma hora em Lisboa, quando os delegados deixaram a sala de negociações. Questionado pelos jornalistas acerca do ambiente na sala, o norte-americano Todd Stern disse apenas ser "cansativo".

Por volta das 21h00 de quinta-feira, Laurent Fabius apresentou uma nova versão, mais curta, de um projeto de acordo.

Este documento era uma compilação de "alguns pontos específicos entre parêntesis" sobre questões "complexas", sublinhou o ministro francês. "Diferenciação, financiamento e ambição", enumerou.
Questões "complexas"
Uma das questões sensíveis é a do plafond do aquecimento global. O debate começou em torno da definição de um máximo de 2º C, mas os países mais vulneráveis - como os Estados insulares ameaçados pelo aumento do nível da água do mar - pedem uma cota máxima de 1,5º C.

O projeto de acordo apresentado na quinta-feira definia já uma posição intermediária. Propõe um compromisso de conter o aumento da temperatura média "abaixo dos 2ºC", mas continuar "os esforços para limitar o aumento a 1,5ºC", cita o jornal francês Le Monde.

A diferenciação entre países ricos e países pobres e a questão da "responsabilidade comum mas diferenciada" foi também tida em conta e alvo de avaliação para a nova proposta.

"Um acordo duradouro não pode ser elaborado com base na diluição das responsabilidades históricas e pondo poluidores e vítimas ao mesmo nível", disse Prakash Javadekar, ministro indiano do Ambiente.
Este sábado milhares de pessoas vão sair às ruas de Paris para prestar homenagem a todas as vítimas de efeitos do aquecimento global, num sinal de respeito, determinação e esperança. O apelo é subscrito por diversas personalidades, entre elas Patti Smith, Thom Yorke, Naomi Klein, e Vandana Shiva.
O financiamento também é um dos pontos fulcrais em cima da mesa. Os países questionam-se quanto aos fundos e quais devem ser os Estados a contribuir para os apoios aos países em desenvolvimento, existindo a proposta de cooperação numa base voluntária.

Neste ponto o documento sugere que "os países desenvolvidos devem fornecer financiamento [novo], [adicional], [adequado], [previsível], [acessível], [sustentável] e [crescente] para ajudar os países em vias de desenvolvimento" na adaptação. Os termos entre parêntesis estão para ser decididos.

Segundo Izabella Teixeira, a ministra do Ambiente do Brasil, a partilha de financiamento deve ser "equilibrada", tendo em conta as prioridades dos países. "Queremos um acordo que permita saber a quantidade real" de financiamento preciso.
Perdas e danos

No ponto das "perdas e danos", os países não chegaram a acordo, mas reconhecem a importância de debater a questão dos impactos adversos causados pelas consequências das alterações climáticas.

De acordo com a Oxfam, "a questão das perdas e danos ainda está suspenso: duas opções muito diferentes permanecem sobre a mesa".

Os objetivos a longo prazo, na maioria, não foram tidos em conta para lá de 2030. No esboço apresentado quinta-feira, os 195 países sugerem o objetivo de "neutralizar as emissões de gases com efeito de estufa na segunda metade do século".

Para apurar a eficiência do futuro acordo de Paris, faltava definir um mecanismo de revisão. Agora, o documento prevê uma "avaliação global" do progresso, com uma primeira reunião em 2023, sendo o acordo de Paris entra em vigor em 2020. Depois, seguem-se avaliações "a cada cinco anos".

A transparência mereceu também atenção redobrada: definida pelo Protocolo de Quioto, apenas os países desenvolvidos tinham obrigação de fazer monitorização das emissões de carbono para a atmosfera.

O acordo pede, assim, garantias de que todos os países cumpram as promessas em matéria de emissões, com dados reais atuais. Mas sobretudo os países em desenvolvimento.
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