Cimeira França/África dominada por crises do Darfur e da Guiné-Conacri

A XXIV cimeira de chefes de Estado de África e França encerrou hoje, em Cannes, marcada pelo início de um diálogo entre Chade, Sudão e República Centro Africana sobre Darfur e a inquietação com a situação na Guiné-Conacri.

Agência LUSA /

Cenário desta cimeira, a cidade francesa de Cannes assistiu à assinatur a de uma declaração que pretende ser o primeiro passo para a solução do conflito de Darfur, Sudão, onde os confrontos de grupos rebeldes com o governo de Omar e l-Béchir fizeram cerca de 300.000 mortos e dois milhões de deslocados desde 2003 .

A presença desses grupos, que atravessam as fronteiras com impunidade, aumentou a instabilidade no Sudão, Chade e República Centro-Africana, que se acu sam mutuamente de os apoiar.

Vários chefes de Estado africanos e o presidente francês, Jacques Chira c, promoveram em Cannes um encontro entre el-Béchir, o chadiano Idriss Deby e o centro-africano Francis Bozizé, numa tentativa de procurar uma saída para um con flito que tem uma grave dimensão humanitária, mas também ameaça a estabilidade r egional.

O resultado foi a Declaração de Cannes, através da qual os três chefes de Estado se comprometem a respeitar a soberania territorial dos vizinhos e a nã o apoiar grupos armados, ao mesmo tempo que criam um mecanismo de consulta e con certação.

"Trata-se de acabar com as suspeitas e os mal-entendidos" entre eles, d isse hoje à imprensa o chefe de Estado do Gana, John Agyekum Kufuor, presidente em exercício da União Africana (UA).

Há ainda contudo que ultrapassar a resistência do presidente sudanês a aceitar que, nas fronteiras com os seus vizinhos, sejam estacionados, não só sol dados de países africanos, mas também das Nações Unidas, em linha com a resoluçã o 1706 do Conselho de Segurança.

"Aceitamos apenas soldados africanos para controlar as fronteiras", rea firmou hoje o presidente sudanês, que admite o apoio técnico e logístico da ONU às forças africanas, mas não a presença de capacetes azuis.

Prova de que há muito ainda por negociar é o facto de o presidente chad iano, Idriss Deby, ter deixado Cannes às primeiras horas de hoje, sem assistir a o encerramento da cimeira.

Neste processo, a UA e a ONU prevêem incorporar os líderes dos grupos a rmados, tornando extensivo um eventual acordo a todos os actores do conflito de Darfur.

A cimeira aprovou uma declaração em que saúda o acordo dos três preside ntes, sem ocultar contudo a sua preocupação com a situação humanitária em Darfur , inquietação que é também manifestada em relação à Guiné-Conacri.

Os chefes de Estado africanos e francês condenaram hoje as "violências e comoveram-se com o grande número de vítimas inocentes" na Guiné-Conacri, onde mais de 110 pessoas morreram em manifestações violentas.

"Exprimiram a sua viva preocupação face à grave crise institucional que abala a Guiné, afecta a segurança das populações civis e ameaça a estabilidade regional", refere a declaração final da cimeira de Cannes.

Os chefes de Estado "exortaram as autoridades guineenses a honrarem os seus compromissos, conforme o acordo assinado em 27 de Janeiro com os sindicatos , para preservar a paz e a segurança de todos os guineenses no respeito pelos pr incípios democráticos".

O chefe de Estado guineense, Lansana Conte, 72 anos, no poder há 23, de cretou segunda-feira um estado de sítio rígido, que prevê nomeadamente um recolh er obrigatório de 18 horas em cada 24.

Esta decisão seguiu-se ao anúncio pelos sindicatos do recomeço da greve geral ilimitada, suspensa em 27 de Janeiro após um acordo com a presidência.

O relançamento da greve foi decidido após a nomeação em 09 de Fevereiro do ministro Eugène Câmara para o posto de primeiro-ministro. Camara é visto pel os sindicatos como demasiado próximo do chefe de Estado.

No final da cimeira, Kufuor anunciou que uma delegação da Comunidade Ec onómica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), e eventualmente da UA, deverá deslocar-se à Guiné-Conacri nos próximos dias.

RP.

Lusa/Fim


PUB