Mais de 280 mortos. Comboios indianos já circulam mas prossegue investigação

por Carla Quirino - RTP
Adnan Abidi - Reuters

A colisão de três comboios na Índia, na noite da passada sexta-feira, está sob investigação. O Ministério das Ferrovias da Índia recomendou no domingo que o departamento de investigação de crimes graves fosse para o terreno. Entretanto, as empresas ferroviárias apontam para uma avaria no sistema eletrónico de travagem como potencial causa do desastre. O último balanço refere 288 mortos e mais de mil feridos.

O desastre na estação de Bahanaga Bazar, em Balasore, é já descrito como o pior do século. O número de vítimas mortais confirmadas ascende a 288. Há ainda notícia de 1.175 feridos, dos quais 344 estão hospitalizados. Até agora, 151 corpos foram identificados. Ainda há famílias à procura de parentes. Estima-se que haveria três mil pessoas nos comboios.

A causa apontada pelos relatórios preliminares é uma falha no sinal de linha, ou um erro no sistema de sinalização, o que levou um dos três comboios envolvidos, dos quais dois de passageiros, a mudar de linha.

O ministro das Ferrovias, Ashwini Vaishnaw, afirmou no domingo que "a causa de base" do acidente e as pessoas responsáveis pelo "ato criminoso" já foram identificadas.

"Quem fez isto e quais as razões é algo que vai ser detalhado durante a investigação", afirmou o ministro numa entrevista ao canal de televisão de Nova Deli, citado pela AP.

A agência de notícias Press Trust of Índia (PTI) já tinha avançado que as investigações preliminares indicavam que o sinal dado ao comboio Coromandel Express para entrar na linha principal havia sido posteriormente retirado.

O comboio entrou numa outra linha, conhecida como circular, colidindo com um comboio de mercadorias que ali se encontrava estacionado, segundo a PTI.

O ministro acrescentou que uma "mudança na inter-travagem eletrónica" foi a provável causa do acidente. Vaishnaw aproveitou para pedir à população que aguarde o relatório final.Reconstituição do acidente
O sistema de travagem eletónica funciona como uma espécie de disjuntor. É uma combinação entre aparelhos de sinalização que evita movimentos de possível colisão entre comboios no meio de uma teia de linhas. Comporta-se como uma medida de segurança para evitar que nenhum comboio receba o sinal para prosseguir - a menos que a rota seja comprovadamente segura.

Ao fazerem a reconstituição do acidente, acrescentaram que o impacto do primeiro acidente atirou os vagões do Coromandel Express para uma terceira linha. Foram embater nos vagões traseiros do Bengaluru-Howrah Superfast Express que vinha pela linha de alta velocidade.

Dez a 12 vagões de um comboio descarrilaram e os destroços de alguns dos vagões caíram num trilho próximo, explicou o porta-voz da Indian Railways, Amitabh Sharma.

Esses destroços, acrescentou o responsável, atingiram outro comboio de passageiros, que viajava na direção oposta. Um terceiro comboio de carga também esteve envolvido no acidente.

O efeito de dominó provocou a tragédia ferroviária de Odisha.

O acidente ocorreu às 19h20 locais (13h50 em Lisboa) de sexta-feira, perto de uma estação na localidade de Bahanaga, no Estado de Odisha, a 1.600 quilómetros a nordeste da capital Nova Deli.
Entrada em campo da principal Agência de investigação
O Ministério das Ferrovias da Índia também anunciou que poderá dar início a uma investigação separada, levada a cabo pela principal agência de investigação criminal do país - Central Bureau of Investigation (CBI) –, a par das investigações das empresas ferroviárias.

O presidente do Congresso, Mallikarjun Kharge, escreveu já esta segunda-feira ao primeiro-ministro, Narendra Modi, sobre a tragédia ferroviária de Odisha. Denuncia que "todas as reivindicações da falta de segurança" apresentadas ao ministro Ashwini Vaishnaw foram "expostas" e o Governo deve trazer à luz as verdadeiras razões que causaram este acidente.

Por sua vez, o presidente do Comité do Congresso de Odisha Pradesh, Sarat Pattanayak, afirma que a recomendação de uma investigação do CBI sobre a recente tragédia é apenas uma manobra para ocultar informações cruciais. Pattanayak destaca que podem estar em causa um grande número de cargos relacionados com a segurança ferroviária, de acordo com o Times of India.

Enquanto os líderes da oposição pedem a Vaishnaw que assuma a responsabilidade pela tragédia e renuncie, o partido do Governo Bharatiya Janata adverte contra a politização do desastre.
Circulação retomada

Vinte e um vagões dos dois comboios de passageiros descarrilaram e cortaram a circulação ferroviária, que foi entretanto reposta, mas condicionada.

"A circulação foi retomada em ambas as linhas ferroviárias 51 horas após o descarrilamento", disse o Ministério as Ferrovias na rede social Twitter, partilhando imagens de vários comboios a saírem de uma estação de noite, na presença de funcionários e trabalhadores.

“Todos os corpos foram removidos. O objetivo é terminar o trabalho de restauração até quarta-feira de manhã para que os comboios possam começar a circular nesta linha”, declarou Vaishnaw.

c/ agências

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