A colisão de três comboios na Índia, na noite da passada sexta-feira, está sob investigação. O Ministério das Ferrovias da Índia recomendou no domingo que o departamento de investigação de crimes graves fosse para o terreno. Entretanto, as empresas ferroviárias apontam para uma avaria no sistema eletrónico de travagem como potencial causa do desastre. O último balanço refere 288 mortos e mais de mil feridos.
A causa apontada pelos relatórios preliminares é uma falha no sinal de linha, ou um erro no sistema de sinalização, o que levou um dos três comboios envolvidos, dos quais dois de passageiros, a mudar de linha.
O ministro das Ferrovias, Ashwini Vaishnaw, afirmou no domingo que "a causa de base" do acidente e as pessoas responsáveis pelo "ato criminoso" já foram identificadas.
"Quem fez isto e quais as razões é algo que vai ser detalhado durante a investigação", afirmou o ministro numa entrevista ao canal de televisão de Nova Deli, citado pela AP.
A agência de notícias Press Trust of Índia (PTI) já tinha avançado que as investigações preliminares indicavam que o sinal dado ao comboio Coromandel Express para entrar na linha principal havia sido posteriormente retirado.O comboio entrou numa outra linha, conhecida como circular, colidindo com um comboio de mercadorias que ali se encontrava estacionado, segundo a PTI.
O ministro acrescentou que uma "mudança na inter-travagem eletrónica" foi a provável causa do acidente. Vaishnaw aproveitou para pedir à população que aguarde o relatório final.Reconstituição do acidente
O sistema de travagem eletónica funciona como uma espécie de disjuntor. É uma combinação entre aparelhos de sinalização que evita movimentos de possível colisão entre comboios no meio de uma teia de linhas. Comporta-se como uma medida de segurança para evitar que nenhum comboio receba o sinal para prosseguir - a menos que a rota seja comprovadamente segura.
Ao fazerem a reconstituição do acidente, acrescentaram que o impacto do primeiro acidente atirou os vagões do Coromandel Express para uma terceira linha. Foram embater nos vagões traseiros do Bengaluru-Howrah Superfast Express que vinha pela linha de alta velocidade.
Dez a 12 vagões de um comboio descarrilaram e os destroços de alguns dos vagões caíram num trilho próximo, explicou o porta-voz da Indian Railways, Amitabh Sharma.
Esses destroços, acrescentou o responsável, atingiram outro comboio de passageiros, que viajava na direção oposta. Um terceiro comboio de carga também esteve envolvido no acidente.
O efeito de dominó provocou a tragédia ferroviária de Odisha.
O acidente ocorreu às 19h20 locais (13h50 em Lisboa) de sexta-feira, perto de uma estação na localidade de Bahanaga, no Estado de Odisha, a 1.600 quilómetros a nordeste da capital Nova Deli.
Entrada em campo da principal Agência de investigação
O Ministério das Ferrovias da Índia também anunciou que poderá dar início a uma investigação separada, levada a cabo pela principal agência de investigação criminal do país - Central Bureau of Investigation (CBI) –, a par das investigações das empresas ferroviárias.
O presidente do Congresso, Mallikarjun Kharge, escreveu já esta segunda-feira ao primeiro-ministro, Narendra Modi, sobre a tragédia ferroviária de Odisha. Denuncia que "todas as reivindicações da falta de segurança" apresentadas ao ministro Ashwini Vaishnaw foram "expostas" e o Governo deve trazer à luz as verdadeiras razões que causaram este acidente.
Por sua vez, o presidente do Comité do Congresso de Odisha Pradesh, Sarat Pattanayak, afirma que a recomendação de uma investigação do CBI sobre a recente tragédia é apenas uma manobra para ocultar informações cruciais. Pattanayak destaca que podem estar em causa um grande número de cargos relacionados com a segurança ferroviária, de acordo com o Times of India.
Enquanto os líderes da oposição pedem a Vaishnaw que assuma a responsabilidade pela tragédia e renuncie, o partido do Governo Bharatiya Janata adverte contra a politização do desastre.
Circulação retomada
Vinte e um vagões dos dois comboios de passageiros descarrilaram e cortaram a circulação ferroviária, que foi entretanto reposta, mas condicionada.
"A circulação foi retomada em ambas as linhas ferroviárias 51 horas após o descarrilamento", disse o Ministério as Ferrovias na rede social Twitter, partilhando imagens de vários comboios a saírem de uma estação de noite, na presença de funcionários e trabalhadores.
“Todos os corpos foram removidos. O objetivo é terminar o trabalho de restauração até quarta-feira de manhã para que os comboios possam começar a circular nesta linha”, declarou Vaishnaw.
c/ agências