Clima de tensão mantém-se no Norte da China entre etnias rivais

As confrontações étnicas que no passado domingo eclodiram na região chinesa de Xinjuan entre a minoria uighure e a etnia han ultrapassaram as fronteiras do país, depois de elementos da minoria muçulmana exilados na Holanda terem ensaiado um ataque à embaixada de Pequim. Na cidade de Urumqi mantém-se a tensão, com os han a responderem aos ataques de que afirmam ter sido alvo há dois dias.

RTP /
As ruas de Urumqi mantêm-se num ambiente de tensão, que poderá resultar a qualquer momento em confrontos entre as duas etnias Oliver Weiken, EPA

Em Urumqi, capital provincial de Xinjuan, mantém-se o ambiente de tensão com a etnia han a responder nas ruas aos ataques de que afirma ter sido alvo há dois dias e que deixaram 156 mortos nas ruas e mais de mil feridos.

De acordo com o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, vários elementos da minoria uighure exilada na Holanda dirigiram-se à embaixada de Pequim destruindo as janelas do edifício. A investida não constituirá um caso isolado, uma vez que, de acordo com este responsável, também o consulado de Munique terá sido alvo de vários cocktails molotov.

Em Urumqi, capital da região setentrional chinesa, o ambiente continua tenso, agora com a retaliação da maioria han que nas ruas mantém grupos que se passeiam armada de bastões e outros objectos contundentes.

Os chineses han, agora uma maioria na cidade depois de anos de incentivo à migração para o Norte chinês, queixam-se de ter sido brutalmente atacados pelos uighures - muçulmanos chineses que dominam a região de Xinjuan e que não escondem os desejos separatistas -, grupo étnico que se queixa do desprezo de Pequim e sente que os chineses recentemente chegados à sua capital são amplamente privilegiados em termos económicos e sociais.

156 mortos e mais de 1000 feridos
Nos confrontos do fim-de-semana morreram 156 pessoas e mais de mil ficaram feridas quando, segundo a versão oficial de Pequim, a minoria muçulmana uighure atacou cidadãos indefesos do grupo étnico maioritário na China, os han.

Imagens de pessoas a serem atacadas por manifestantes fortaleciam na televisão a perspectiva do Governo chinês, que atribui a responsabilidade pelos violentos confrontos ao movimento dissidente uighure no exílio, garantindo que os líderes no estrangeiro lançaram recentemente apelos via Internet para que os membros da etnia fizessem "algo em grande".

As fontes oficiais preocuparam-se durante os últimos dois dias em difundir imagens que ilustrassem esta perspectiva dos acontecimentos, o que resultou nos patrulhamentos e caça ao homem que se verifica agora nas ruas da cidade por membros han em busca de uighures.

Há para já relatos de casas comerciais uighures destruídas, ao mesmo tempo que familiares dos chineses muçulmanos detidos se manifestam nas ruas para reivindicar a sua libertação.

Organizações internacionais pedem investigação independente
A explosão de violência foi espoletada por um episódio passado a 26 de Junho no Sul da China, onde numa fábrica de Shaoguan, província de Guangdong, dois uighures terão sido assassinados na sequência de acusações de violação de duas operárias han.

A manifestação marcada para Urumqi, e na qual participavam milhares de uighures para exigir justiça no caso dos dois trabalhadores, acabaria por degenerar em confrontos violentos depois de os membros que protestavam se recusarem a dispersar após ordens das forças policiais.

As autoridades reagiram com o uso da força e no final da jornada estavam contabilizados 156 mortos, mais de mil feridos e centenas de detidos.

A organiação de Defesa dos Direitos Humanos Human Rights Watch (HRW) e os Repórteres Sem Fronteiras (RSF) já condenaram esses uso da força por parte de Pequim e acrescentaram um apelo para a realização de uma investigação independente aos acontecimentos.

A HRW pediu a Pequim para que seja autorizada à Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navanethem Pillay, enviar um grupo de investigação independente aos tumultos de Urumqi.

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