Em 2009, um grupo científico identificou nove limites que o homem não deveria ultrapassar para que a Terra se mantivesse habitável para a nossa civilização. Num estudo publicado esta quarta-feira na revista Nature revela-se que pelo menos sete desses nove limites já foram ultrapassados, havendo necessidade urgente de mudança climática.
Para os cientistas que estabeleceram estes limites uma coisa é certa: caso sejam sejam ultrapassados, as consequências serão mudanças climáticas catastróficas. Com o passar do tempo juntou-se uma outra ideia de segurança da Terra: a de que a mesma também tem de ser justa, uma quantificação agora feita que valoriza a justiça climática tanto para os vivem agora como para as gerações futuras.
“Nós, seres humanos, somos parte do sistema da Terra. Somos grande parte do problema e temos de ser a grande parte da solução”, explicou Noelia Zafra, uma das autoras do estudo que chegou à Nature. “No entanto, os problemas e as soluções não afetam todos por igual, alguns sofrem as consequências, outros conseguem retirar benefícios da situação. Ocorre que um número pequeno de pessoas consegue causar problemas a muitos”, continuou.
Aqui pode dar-se o exemplo dos Estados Unidos e da Europa, percursores da Revolução Industrial e grandes responsáveis pela situação. E mesmo agora que existem economias emergentes que também têm a sua quota de responsabilidade, a verdade é que metade das emissões carbónicas ainda vêm dos dez por cento da população mais rica.
O Acordo de Paris fixou um aumento de 1,5 graus como aceitável para a temperatura média global, mas este grupo decidiu cortar no corte das emissões, defendendo que o clima pode ser recolocado em limites aceitáveis com a meta de apenas 1 grau. Isto, de acordo com o diretor do Instituto Postdam para a Investigação e Mudança Climática, que explicou em conferência de imprensa que o limite de 1,5 graus “não é um objetivo, uma meta, é um limite físico”.
Johan Rockstrom acredita que a subida da temperatura está a causar consequências catastróficas e que muitos locais do globo já estão a sentir os seus efeitos.
Outra das linhas que pode representar um problema é a porção de planeta que ainda conserva o seu estado original, sendo que será melhor quanto maior for essa percentagem. No entanto, de acordo com várias estimativas, a agricultura, a exploração de gado ou a atividade mineira têm tido grande interferência neste factor, pensado-se que apenas 50 a 60 por cento do planeta mantém ainda o seu estado de originalidade.
O estudo reconhece que existem ainda problemas que não foram estudados de forma adequada: a acidificação dos oceanos, a acumulação de plásticos e microplásticos e os químicos com grande resistência.
Rockstrom explicou também que de cada vez que se ultrapassa um limite fica reduzida “a força do planeta para fazer frente à crise climática”. Acrescentou que pelo menos sete de oito indicadores que estão a ser avaliados estão fora do espaço “justo e seguro” da Terra.
“Também vemos que há uma oportunidade para que seja possível uma transformação que recupere o espaço seguro. No entanto, requere transformações e uma ação muito, muito rápida. E não será suficiente apenas a descarbonização do sistema energético global”.