Cobaias. Reino Unido apoia ensaios onde humanos são deliberadamente infetados com o novo coronavírus

por RTP
Reuters

O Governo britânico assinou um contrato para a realização dos primeiros estudos em que voluntários saudáveis são deliberadamente infetados com SARS-CoV-2. O objetivo é acelerar o desenvolvimento de vacinas.

É esperado que participem nestes testes até 19 voluntários. Os ensaios vão ser realizados no Royal Free Hospital de Londres, que, escreve a BBC, tem uma enfermaria Nível 3 de Biossegurança. 

Os testes serão feitos pela hVIVO, uma empresa especializada em realizar este tipo de ensaios. O trabalho terá também a parceria do Imperial College de Londres.

São ensaios diferentes dos habituais e também bem mais polémicos. Na situação, digamos, normal, que está já a decorrer em várias regiões do globo e para várias vacinas experimentais, dezenas de milhares de voluntários recebem uma vacina e depois são ´largados` na sua vida normal. 

Neste caso, os especialistas assumem que destes milhares de voluntários uma percentagem será sempre exposta ao vírus naturalmente.

Já no caso dos testes da hVIVO os voluntários são deliberadamente infetados com o vírus. Quem defende este tipo de atuação alega que são ensaios mais eficientes e rápidos, porque exigem muito menos pessoas e há sempre a garantia de que todos serão infetados com o vírus.

O outro lado da moeda é que não há qualquer tratamento conhecido para a Covid-19, pelo que algo pode correr mal. Os especialistas que não concordam com esta forma de atuar defendem também que os voluntários são normalmente jovens e saudáveis pelo que não representam a população em geral.

Numa primeira fase, a hVIVO vai expor um pequeno número de voluntários saudáveis ​​ao coronavírus, para determinar a dose mínima que leva ao sintoma da infeção. "Queremos saber desde o início como o corpo humano reage a uma dose do vírus", disse o Dr. Martin Johnson, Diretor Médico Sênior da hVIVO, à CNN. 

A hVIVO isolou o vírus a partir de um doente britânico de Covid-19. Os voluntários serão expostos ao vírus pelo nariz, usando uma pipeta. "Na verdade, vamos dar a menor dose", disse o Dr. Johnson. "O que estamos a tentar fazer é obter o número mínimo de sintomas que são seguros". 

Esta primeira fase é o chamado estudo de caracterização. Assim que estiver concluido, a hVIVO garante que ficará pronta para testar até três vacinas.

Não é a primeira vez que testes como estes são realizados. O mesmo já foi feito para a cólera, febre tifóide, malária e até gripe. Sendo que, neste caso específico, o risco é maior porque não há um tratamento totalmente eficaz para a Covid-19, a doença provocada pelo vírus SARS-CoV-2.
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