Colaboração de Marrocos com Israel agrava risco de guerra com a Argélia

por RTP
O ministro israelita da Defesa, Benny Gantz (à esq.), com o MNE marroquino Nasser Bourita DR

Uma fonte militar argelina admitiu a preocupação reinante no país com o reforço de meios militares do reino vizinho, obtido mediante a acrescida colaboração de Marrocos com Israel, sobretudo desde o pacto assinado em 24 de novembro entre os dois países.

Já depois da assinatura desse pacto, um drone marroquino abateu três camionistas argelinos no Sahara ocidental e, embora o equipamento fosse neste caso de origem turca, o ataque não deixa de ser visto como um efeito colateral da protecção que o reino de Marrocos passou a sentir a nível militar, por parte de um Estado israelita encarado até aqui como inimigo pela generalidade dos países árabes.

Sobre este pano de fundo de agravamento das tensões entre Marrocos e Argélia, veio agora a público a declaração de um responsável militar argelino no site do jornal francês L'Opinion, admitindo o risco palpável de uma guerra a muito curto prazo entre os dois países.

Segundo aquele militar, identificado como um dos "falcões" das Forças Armadas argelinas, "a Argélia não quer a guerra com Marrocos, mas está pronta a fazê-la". E prossegue: "Se for preciso fazê-la, será agora, porque militarmente somos superiores a todos os níveis e talvez já não seja assim dentro de alguns anos". E aquilo que poderá mudar o panorama é precisamente a assistência militar israelita ao reino de Marrocos: "Isso vai mudar os dados do problema, numa janela de tempo que calculamos em tr~es anos".

Em boa parte, a intensificação das relações israelo-marroquinas foi propiciada pelo reconhecimento, ainda por parte da Administração Trump, da soberania marroquina sobre o Sahara ocidental, em flagrante desafio à política externa argelina, que sempre preconizou a independência daquela antiga colónia espanhola, contra as pretensões anexionistas marroquinas.

A cooperação securitária entre Marrocos e Israel foi durante muito tempo um segredo de Polichinelo, mas, ao ser assumida depois da viragem diplomática norte-americana, pôde atingir uma envergadura impossível até então, nomeadamente ao nível dos serviços de informações e da venda do software Pegasus, que tem permitido à espionagem marroquina montar escutas sobre as telecomunicações militares argelinas - e também francesas, como recentemente veio a lume sobre os telefones do próprio presidente Macron.

Aquando da visita do ministro israelita da Defesa, Benny Gantz, a Marrocos, para a assinatura do pacto, combinou-se também que Israel fornecesse a Marrocos o sistema anti-drones Skylock Dome, ao mesmo tempo que se assinava um acordo para a venda de drones suicidas no valor de 22 milhões de dólares.

Acresce que o actual presidente da IAI (Israel Aerospace Industries), o antigo ministro da Defesa Amir Peretz, é um judeu marroquino, olhado com extrema desconfiança pelols meios militares argelinos.

Ao nível político, tornou-se entretanto indisfarçável a aproximação de Marrocos a Israel, por exemplo com a denúncia emitida em 2018 pelo MNE marroquino Nasser Bourita, de que, através da Embaixada iraniana em Argel, o movimento libanês Hezbollah estaria a colaborar com a Frente Polisário, o movimento de libertação do Sahara ocidental.

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