"Colete amarelo" português apresenta queixa contra Estado Francês

Jerôme Rodrigues, o luso-descendente que ficou ferido com gravidade, no passado sábado, depois de ter sido atingido por uma granada de gás lacrimogéneo na Praça da Bastilha, vai apresentar uma queixa contra o Estado francês.

RTP /
Christophe Petit Tesson - EPA

Jerôme Rodrigues, que nasceu em França mas é filho de pais portugueses, foi submetido a uma cirurgia de cinco horas e ainda não sabe se vai manter a vista no olho direito.

O episódio, que aconteceu cerca das 16h45 de sábado, foi filmado pela própria vítima. Num vídeo, que dura cerca de dez minutos, ouve-se Jerôme Rodrigues a falar com outros “Coletes Amarelos” e de seguida a situação tensa entre a polícia e os manifestantes. O autor do filme, que não participa nos atos violência, é atingido no rosto.



Terá sido nesses confrontos, em que a polícia francesa lança granadas de gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, que o lusodescendente ficou ferido com gravidade.

"Esteve aqui no hospital a polícia dos polícias. Falámos durante duas horas e apresentei queixa contra os polícias que fizeram isto, contra o presidente da República e contra o ministro do Interior, que é o chefe da polícia. Nunca na minha vida pensei ter um advogado", afirmou Jerôme Rodrigues, que é canalizador e vive nos arredores de Paris, em declarações à Agência Lusa.

O luso-descendente tem ganho notoriedade no seio do movimento dos “Coletes Amarelos” em França contando com mais de 40 mil seguidores na sua página de Facebook. Afirma que é "um pacifista" e chegou à linha da frente da manifestação de sábado na Praça da Bastilha para "tirar de lá os coletes amarelos para que eles não se aleijassem".Este foi o 11.º sábado consecutivo de protestos do movimento dos “Coletes Amarelos”.

"A polícia conhece-me porque faço parte da organização da manifestação e tratam-me por 'Senhor Rodrigues'. Acho que o polícia que me atingiu sabia quem eu era. Não digo que foi de propósito, mas eu tenho sempre um chapéu e uma grande barba. Até uma avozinha no meio de França sabe quem eu sou hoje em dia", considerou o português, indicando que nunca vai com máscara de gás nem capacete para as manifestações.

Levou vários pontos e só o tempo dirá se perdeu completamente a vista, permanecendo agora alguns dias no hospital sem poder trabalhar. No entanto, esta lesão não trava Jerôme. "Diz-se que o que não nos mata torna-nos mais fortes. Podem cortar-me um braço ou uma perna, mas eu não vou acabar com o movimento. Ainda tenho mais motivação para me manifestar", disse o canalizador.

A França é um dos únicos países na União Europeia que continua a usar granadas de gás lacrimogéneo que contêm uma pequena quantidade de explosivos TNT para travar manifestações e desacatos da ordem pública.

Vários manifestantes dos “Coletes Amarelos” já foram atingidos gravemente por estas granadas, que levaram à amputação de membros e ferimentos noutras partes do corpo.

Um grupo de advogados que representa estes feridos já veio pedir publicamente que a utilização destes engenhos seja interdita definitivamente.
Onze mortos desde meados de novembro

O presidente francês, Emmanuel Macron, lamentou, no Cairo, as 11 mortes registadas desde o início da crise gerada pelo movimento contestatário 'coletes amarelos', mas salientando que nenhuma foi "vítima das forças policiais".

"Lamento que 11 dos nossos concidadãos franceses tenham perdido a vida durante esta crise (...). Observei que muitas vezes perderam as suas vidas por causa da estupidez humana, contudo nenhuma foi vítima das forças policiais", indicou o chefe de Estado francês numa conferência de imprensa com o seu homólogo egípcio Abdel Fattah al-Sissi.
Desde meados de novembro, que milhares de pessoas envergando coletes amarelos protestam contra as políticas sociais e fiscais do Governo. Em várias ocasiões, os protestos ficaram marcados por violentos confrontos entre manifestantes e forças policiais.
"O que a França tem vivido há várias semanas é inédito e quero prestar homenagem ao profissionalismo das forças da ordem neste contexto", salientou Macron.

A conferência de imprensa entre os dois chefes de Estado foi dominada pela situação dos direitos humanos no Egito, com o Presidente francês lamentou a degradação da situação desde a visita de Abdel Fattah al-Sissi a Paris em outubro de 2017.

"Na França, é permitido expressar-se livremente (...). Na França, podemos dizer tudo. Às vezes dizemos muito contra o próprio país, o que eu lamento", afirmou Macron, acrescentando contido que é "a força da democracia".No domingo, o Presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que vai tirar "consequências profundas" do "grande debate nacional" com que espera resolver a crise gerada pelo movimento 'coletes amarelos', e que não resultará apenas em "medidas técnicas".

"Existe no nosso país uma liberdade garantida pela Constituição, que é a liberdade de protestar. E nós pretendemos protegê-la", acrescentou o Presidente francês.

"Levo muito a sério o momento que vivemos, não sei no que vai dar. O que sei é que vou tirar consequências profundas", afirmou aos jornalistas na sua visita ao Egito.

Segundo o chefe de Estado francês, "decisões muito profundas" vão ter de ser tomadas em "diferentes domínios", e não apenas "medidas técnicas".

Um "grande debate nacional" foi lançado no país, em torno de temas como a fiscalidade, a democracia, a ecologia ou a imigração, para responder aos protestos, que têm sido marcados por cenas de violência.

Com este debate nacional, o Presidente francês pretende "transformar a cólera em soluções". Para Emmanuel Macron, "é necessário sair" da crise através da "redefinição do projeto francês e do projeto europeu".

c/ Lusa

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