Com Trump na Casa Branca. A NATO pode designar a Rússia como a principal ameaça?

por Cristina Sambado - RTP

Na cimeira da próxima semana, em Haia, os líderes dos 32 países da NATO vão querer identificar a Rússia como a principal ameaça. No entanto, o regresso de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos pode desequilibrar as pretensões da Aliança Atlântica.

Desde o seu regresso à Casa Branca, a 20 de janeiro, Donald Trump fez uma aproximação espetacular ao homem forte do Kremlin, desestabilizando os seus aliados.

Vladimir Putin “telefonou-me para me desejar um feliz aniversário”, enalteceu na semana passada. Alguns dias antes, na cimeira do G7, no Canadá, Trump lamentou abertamente a expulsão da Rússia do grupo em 2014.

Se os Estados Unidos considerarem que a Rússia “não é realmente a questão, então torna-se complicado para a Aliança”, resume Camille Grand, do Conselho Europeu de Relações Externas, em declarações à agência France-Presse.A busca pela redação certa
Há semanas que os responsáveis da NATO tentam encontrar a formulação certa para a Rússia, aquando da redação do comunicado final nos Países Baixos.

“Ameaças, incluindo a Rússia”? “A ameaça a longo prazo criada pela Rússia”? Nos corredores da organização em Bruxelas, todas as hipóteses estão a ser consideradas, incluindo a de não dizer nada para preservar a linguagem forte adotada nas cimeiras anteriores.

“É pouco provável”, frisou um diplomata à AFP. “A Rússia é uma ameaça e isso vai refletir-se na declaração” da cimeira, acrescentou outro.Tanto mais que os países da NATO têm de justificar perante a opinião pública um aumento drástico das despesas militares.

A cimeira de Haia deverá decidir aumentar a proporção da despesa pública consagrada à defesa
e à segurança para cinco por cento do produto interno bruto (PIB), um esforço muito substancial para muitos países, que já lutam para atingir a marca dos dois por cento.

É muito claro que estamos a aceitar os cinco por cento porque nos sentimos realmente ameaçados por Vladimir Putin”, sublinhou um diplomata europeu à agência.
Rússia ou China? Qual é a ameaça mais próxima?
Na cimeira de Madrid, em junho de 2022, os países da NATO declararam solenemente que a Rússia representava “a maior e mais direta ameaça à segurança dos Aliados e à paz e estabilidade na zona euro-atlântica”.

Uma frase reiterada em todas as cimeiras da Aliança desde então. Mas Donald Trump lançou a dúvida.

Matthew Whitaker, embaixador dos EUA na NATO e colaborador próximo do presidente republicano, sugeriu que nada tinha mudado.

"Para a Aliança Atlântica, a maior ameaça, o maior desafio, é a Rússia. Não há dúvida sobre isso, eles invadiram a Ucrânia, não tenho medo de o dizer", disse na semana passada numa conferência em Bruxelas.

No entanto, alguns minutos mais tarde, Matthew Whitaker qualificou as suas observações. "A Rússia é a ameaça mais próxima. Mas a China é obviamente um grande desafio para todos nós".

Neste contexto, “se conseguíssemos que o presidente Trump concordasse em descrever a Rússia como uma ameaça a longo prazo, isso seria um excelente resultado”, realçou um diplomata da NATO.

Para além do debate semântico, a Aliança é sobretudo confrontada com uma questão fundamental. "Como é que os Estados Unidos encaram a Rússia? De momento, não temos uma resposta", acrescentou Camille Grand.Os aliados europeus também estão preocupados com a relutância de Donald Trump em exercer uma verdadeira pressão sobre o Kremlin.

O presidente dos Estados Unidos continua a recusar-se a reforçar as sanções contra a Rússia para a forçar a aceitar um cessar-fogo na Ucrânia, apesar dos apelos urgentes dos seus parceiros europeus.

O verdadeiro problema é que os Estados Unidos não consideram que a segurança da Ucrânia seja essencial para a segurança da Europa”, ao contrário dos europeus, afirmou esta semana Kurt Volker, antigo embaixador dos EUA na NATO.
Zelensky deve estar presente em Haia
Volodymyr Zelensky “prevê” participar na cimeira da NATO em Haia, a 24 e 25 de junho, anunciou na passada quarta-feira uma fonte da presidência ucraniana, numa nova tentativa de obter um cessar-fogo, que Moscovo tem recusado até agora.

“O presidente tenciona ir”, disse o responsável ucraniano à AFP, acrescentando, no entanto, que a decisão final será tomada “na véspera da cimeira”.

A provável presença do presidente ucraniano nos Países Baixos é apresentada, como uma nova oportunidade para “promover a ideia de um cessar-fogo” com a Rússia.No início de junho, Zelensky afirmou ter recebido um convite de Mark Rutte, secretário-geral da Aliança Atlântica, que inclui 32 países, entre os quais 23 membros da União Europeia.

A cimeira da NATO terá início a 24 de junho com um jantar oficial oferecido pelo rei holandês. Segundo fonte da Aliança Atlântica, é muito provável que Volodymyr Zelensky seja convidado, juntamente com outras figuras importantes.

Segundo fonte da AFP, o presidente ucraniano não participará nas reuniões de trabalho planeadas em Haia.

No entanto, um conselho NATO-Ucrânia, mas a nível ministerial, poderá ter lugar em Haia.
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