Mundo
Combates entre fações militares alastram no Sudão Sul
Uma analista militar no Sudão Sul afirma que os confrontos dos últimos dias já não estão contidos na capital, Juba, tendo alastrado às zonas rurais do estado de Jonglei. De acordo com Casie Copeland, do International Crisis Group, soldados da etnia Nuer, leais ao ex-vice-Presidente Riek Machar, estão a desertar em massa e a abandonar a cidade.
Os civis não estarão a ser alvos diretos e os confrontos envolvem apenas soldados de etnia Dinka, a maioritária e à qual pertence o Presidente Salva Kiir, às tropas dos Nuer.
Casie Copeland refere que há relatos de "assassínios étnicos". "Os combates têm sido violentos e partes de Juba foram reduzidas a escombros" diz a analista.
Apesar do governo sul-sudanês ter imposto um recolher obrigatório e garantir que controla a situação, continuam a ouvir-se tiroteios esporádicos na capital.
De acordo com as autoridades sul-sudanesas, Riek Machar terá tentado tomar o poder pela força no domingo à noite e está agora em fuga, juntamente com outras quatro figuras políticas do país.
Uma onda de detenções até terça à noite atirou para a prisão dez altas personalidades da vida sul-sudanesa, entre elas oito ministros demitidos em julho com Machar.
"Mal entendido"
O alegado golpe de Estado teve lugar domingo à noite quando alguns soldados assaltaram um arsenal em Juba mas foram repelidos por tropas leais ao Presidente Kiir, afirmou o ministro dos Negócios estrangeiros Barnaba Marial Benjamin à Associated Press.
Contudo, em entrevista a partir de local desconhecido dada ao site independente Sudan Tribune e publicada quarta-feira, o ex-vice-Presidente nega qualquer golpe de Estado.
Riek Machar diz que tudo não passa de um "mal-entendido" no seio da guarda presidencial, acusando depois o Presidente Riik de aproveitar a confusão para se "desembaraçar" dos seus opositores.
20.000 refugiam-se junto da ONU
O ministro da Informação Michael Makuei disse à agência AFP que foram mortos 73 soldados e o ministro da Saúde refere civis mortos nos combates sem apresentar números e confirmando 140 feridos hospitalizados. Mas informações são escassas e mesmo o número de vítimas é incerto.De acordo com fontes da ONU, citando fontes locais em Juba, já terão morrido desde domingo 400 a 500 pessoas em Juba e mais de 800 ficaram feridas. Pelo menos 20.000 pessoas procuraram refúgio junto da missão diplomática das Nações Unidas, afirmou por seu lado aos repórteres o embaixador francês no Sudão-sul, Gerard Araud.
Em comunicado, o gabinete do secretario-geral da ONU, Ban Ki Moon, apelou à cessação das hostilidades e pediu ao governo para dialogar com a oposição, expressando preocupação com atos de violência contra determinados grupos étnicos.
Os Estados Unidos aconselharam todos os seus cidadãos a abandonar o Sudão do Sul. O secretário de Estado John Kerry sublinhou por seu lado que o governo deve respeitar a lei. "Questões políticas devem ser resolvidas por meios pacíficos e democráticos" afirmou.
Entrevista ao Sudan Tribune
Riek Machar foi demitido em julho pelo Presidente Salva Kiir, assim como vários ministros, após meses de luta pelo poder no seio do Movimento Popular de Libertação do Sudão (SPLM) o braço político da rebelião sul-sudanesa contra o norte durante a guerra civil de 1983-2005.
"O que nós queríamos era transformar democraticamente o SPLM," explica o ainda oficialmente vice-Presidente do SPLM na entrevista ao Sudan Tribune.
"Salva Kiir pretendeu utilizar a alegada tentativa de golpe de Estado para se livrar de nós para controlar o governo e o SPLM," refere Machar, acusando ainda Kiir de violar sistematicamente a Constituição sul-sudanesa e de "já não ser legalmente o Presidente".
"Nós não queremos que ele seja o Presidente do Sudão do Sul", afirma Machar sem divulgar qualquer estratégia futura.
Rivalidade explosiva
A rivalidade de Machar e Kiir vem das décadas da guerra civil. Em 1991 Machar tentou sem sucesso derrubar a liderança da direção história do Exército Popular de Libertação do Sudão (SPLA), integrada por Kiir. A rebelião dividiu-se então ao longo de linhas étnicas e Machar refugiou-se mesmo em Karthoum, capital do inimigo oficial, tendo colocado as suas tropas ao lado do exército do norte contra os antigos aliados.
No início da primeira década do século XXI Machar voltou a integrar o SPLA e depois o governo saído da independência e que em julho de 2011 tornou o Sudão do Sul, uma região rica em petróleo, a nação mais nova do mundo.
Casie Copeland refere que há relatos de "assassínios étnicos". "Os combates têm sido violentos e partes de Juba foram reduzidas a escombros" diz a analista.
Apesar do governo sul-sudanês ter imposto um recolher obrigatório e garantir que controla a situação, continuam a ouvir-se tiroteios esporádicos na capital.
De acordo com as autoridades sul-sudanesas, Riek Machar terá tentado tomar o poder pela força no domingo à noite e está agora em fuga, juntamente com outras quatro figuras políticas do país.
Uma onda de detenções até terça à noite atirou para a prisão dez altas personalidades da vida sul-sudanesa, entre elas oito ministros demitidos em julho com Machar.
"Mal entendido"
O alegado golpe de Estado teve lugar domingo à noite quando alguns soldados assaltaram um arsenal em Juba mas foram repelidos por tropas leais ao Presidente Kiir, afirmou o ministro dos Negócios estrangeiros Barnaba Marial Benjamin à Associated Press.
Contudo, em entrevista a partir de local desconhecido dada ao site independente Sudan Tribune e publicada quarta-feira, o ex-vice-Presidente nega qualquer golpe de Estado.
Riek Machar diz que tudo não passa de um "mal-entendido" no seio da guarda presidencial, acusando depois o Presidente Riik de aproveitar a confusão para se "desembaraçar" dos seus opositores.
20.000 refugiam-se junto da ONU
O ministro da Informação Michael Makuei disse à agência AFP que foram mortos 73 soldados e o ministro da Saúde refere civis mortos nos combates sem apresentar números e confirmando 140 feridos hospitalizados. Mas informações são escassas e mesmo o número de vítimas é incerto.De acordo com fontes da ONU, citando fontes locais em Juba, já terão morrido desde domingo 400 a 500 pessoas em Juba e mais de 800 ficaram feridas. Pelo menos 20.000 pessoas procuraram refúgio junto da missão diplomática das Nações Unidas, afirmou por seu lado aos repórteres o embaixador francês no Sudão-sul, Gerard Araud.
Em comunicado, o gabinete do secretario-geral da ONU, Ban Ki Moon, apelou à cessação das hostilidades e pediu ao governo para dialogar com a oposição, expressando preocupação com atos de violência contra determinados grupos étnicos.
Os Estados Unidos aconselharam todos os seus cidadãos a abandonar o Sudão do Sul. O secretário de Estado John Kerry sublinhou por seu lado que o governo deve respeitar a lei. "Questões políticas devem ser resolvidas por meios pacíficos e democráticos" afirmou.
Entrevista ao Sudan Tribune
Riek Machar foi demitido em julho pelo Presidente Salva Kiir, assim como vários ministros, após meses de luta pelo poder no seio do Movimento Popular de Libertação do Sudão (SPLM) o braço político da rebelião sul-sudanesa contra o norte durante a guerra civil de 1983-2005.
"O que nós queríamos era transformar democraticamente o SPLM," explica o ainda oficialmente vice-Presidente do SPLM na entrevista ao Sudan Tribune.
"Salva Kiir pretendeu utilizar a alegada tentativa de golpe de Estado para se livrar de nós para controlar o governo e o SPLM," refere Machar, acusando ainda Kiir de violar sistematicamente a Constituição sul-sudanesa e de "já não ser legalmente o Presidente".
"Nós não queremos que ele seja o Presidente do Sudão do Sul", afirma Machar sem divulgar qualquer estratégia futura.
Rivalidade explosiva
A rivalidade de Machar e Kiir vem das décadas da guerra civil. Em 1991 Machar tentou sem sucesso derrubar a liderança da direção história do Exército Popular de Libertação do Sudão (SPLA), integrada por Kiir. A rebelião dividiu-se então ao longo de linhas étnicas e Machar refugiou-se mesmo em Karthoum, capital do inimigo oficial, tendo colocado as suas tropas ao lado do exército do norte contra os antigos aliados.
No início da primeira década do século XXI Machar voltou a integrar o SPLA e depois o governo saído da independência e que em julho de 2011 tornou o Sudão do Sul, uma região rica em petróleo, a nação mais nova do mundo.