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"Comem como se fossem cães" em cadeias para imigrantes nos Estados Unidos
Mãos amarradas atrás das costas, obrigados a ajoelharem-se para comer em pratos de esferovite "como cães". Em meados de junho, o número de detenções diárias por alegada imigração ilegal era, em média, de 56.400. Cerca de 72 por cento das pessoas detidas não têm antecedentes criminais, de acordo com o relatório da Human Rights Watch e outras duas organizações de defesa dos Direitos Humanos: Americans for Immigrant Justice e Sanctuary of the South.
O documento, publicado esta segunda-feira, descreve, a partir de relatos de vários detidos, a situação em três centros de detenção de imigrantes no sul da Florida.
As prisões são administradas pela Agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE), desde janeiro, estão sobrelotadas e começam a surgir muitos relatos de abusos.
Quanto à sobrelotação, no dia “20 de junho de 2025, o número de pessoas detidas nas três unidades era de mais 111 por cento em relação aos níveis anteriores” à administração pela ICE.
Foto: David "Dee" Delgado - Reuters
“Em março, o número de pessoas detidas em Krome havia aumentado 249 por cento em relação aos níveis anteriores a janeiro”, revela o relatório. “Em alguns momentos de março, a unidade teve mais de três vezes a sua capacidade operacional de detidos”.
Foi em Krome que dezenas de homens foram amontoados numa cela durante horas, o almoço foi-lhes negado até ao início da noite.
Centro de detenção de imigrantes Krome - Foto: Getty Images via AFP
Quando a comida chegou, as pessoas permaneceram algemadas, mãos atrás das costas, com a comida colocada em cadeiras à sua frente. "Tivemos que comer como animais", relatou um dos ex-detidos citados neste relatório.
O tratamento degradante e indigno por parte dos guardas é comum nas três prisões, afirmam a Human Rights Watch e as duas organizações de defesa dos Direitos Humanos.
Também em Krome, as mulheres foram obrigadas a usar a casa-de- banho à vista dos homens detidos.
Foi-lhes negado o acesso a cuidados especificamente femininos, chuveiros ou alimentação adequada.
Foto: Marco Bello - Reuters
Esta cadeia está sobrelotada e várias pessoas detidas ficaram fechadas no autocarro que os transportou até ao centro de detenção durante mais de 24 horas.
Homens e mulheres juntos e só podiam levantar-se para utilizar o único wc disponível e que entupiu rapidamente.
“O autocarro ficou nojento. O wc era daqueles onde só se pode urinar. Mas como ficámos no autocarro tanto tempo e não tínhamos permissão para sair, várias pessoas defecaram no wc”, relatou uma das pessoas. “O autocarro ficou impregnado com o cheiro de fezes.”
Quando este grupo foi admitido na unidade, muitos passaram até 12 dias amontoados numa sala tão gelada que ficou conhecida como la hierela - a caixa de gelo.
Sem roupas de cama ou roupas quentes, dormiram no chão frio.
A cadeia em Krome tinha tantos detidos, diz o relatório, que todas as salas disponíveis eram usadas para os recém-chegados. “Quando saí, quase todas as salas de visita estavam lotadas. Algumas estavam tão cheias que os homens nem conseguiam sentar, todos tinham que ficar em pé”, denunciou Andrea, uma das mulheres que esteve detida em Krome.
Numa outra unidade, o centro de transição de Broward, em Pompano Beach, onde uma cidadã do Haiti, de 44 anos, morreu em abril, os detidos denunciaram que lhes era negado acesso médico ou psicológico.
Algumas destas pessoas foram tratadas a ferimentos ou doenças crónicas tardiamente, para além da indiferença ou hostilidade dos funcionários, segundo o relatório.
Em abril, na prisão do centro de Miami, as câmaras de vigilância foram desligadas antes de uma “equipa de controlo de distúrbios” brutalizar os detidos que protestavam contra a falta de tratamento médico a um deles que tossia sangue.
Entre a enxurrada de ordens executivas relacionadas à imigração que marcam a segunda presidência de Donald Trump está a Ordem Executiva 14159. Esta ordem permite deter pessoas suspeitas de violarem as leis de imigração.
Foto: Marco Bello - Reuters
A média diária de detenções durante todo o ano de 2024 foi de 37.500, sublinha a Human Rights Watch.
As três organizações de defesa dos Direitos Humanos, afirmam que os abusos documentados provam as condições desumanas que existem dentro das instalações federais de imigração.
Condições que pioraram muito desde a posse de Trump em janeiro e a pressão para aumentar as detenções e deportações de imigrantes.
“A escalada anti-imigrante e as táticas de repressão do governo Trump estão a aterrorizar comunidades e a destruir famílias, o que é especialmente cruel no estado da Florida, que prospera por causa das comunidades de imigrantes”, afirma Katie Blankenship, advogada de imigração e cofundadora do Sanctuary of the South em declarações ao jornal The Guardian.
“A abordagem rápida, caótica e cruel de prender e encarcerar pessoas é literalmente mortal e está a provocar uma crise de direitos humanos que vai arruinar este Estado (Florida) e todo o país pelos próximos anos”, avisa a advogada de imigração.
O Guardian contactou a ICE para obter comentários, mas ainda não teve resposta.
Condições que pioraram muito desde a posse de Trump em janeiro e a pressão para aumentar as detenções e deportações de imigrantes.
“A escalada anti-imigrante e as táticas de repressão do governo Trump estão a aterrorizar comunidades e a destruir famílias, o que é especialmente cruel no estado da Florida, que prospera por causa das comunidades de imigrantes”, afirma Katie Blankenship, advogada de imigração e cofundadora do Sanctuary of the South em declarações ao jornal The Guardian.
“A abordagem rápida, caótica e cruel de prender e encarcerar pessoas é literalmente mortal e está a provocar uma crise de direitos humanos que vai arruinar este Estado (Florida) e todo o país pelos próximos anos”, avisa a advogada de imigração.
O Guardian contactou a ICE para obter comentários, mas ainda não teve resposta.