Comissão parlamentar brasileira vai ouvir o líder do Primeiro Comando na prisão

Uma comissão parlamentar vai ouvir quinta-feira o líder da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), responsável pela recente onda de ataques em São Paulo, divulgaram hoje fontes oficiais.

Agência LUSA /

A comissão de deputados vai ouvir Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, na prisão onde se encontra actualmente, na cidade de Presidente Bernardes, a 565 quilómetros de São Paulo.

Inicialmente, a comissão planeava ouvir o criminoso no Tribunal da Barra Funda, na Zona Oeste da cidade de São Paulo, mas decidiu deslocar-se até a prisão por questões de segurança.

A comissão, formada por 11 deputados, quer saber de Marcola se houve uma negociação entre o PCC e as forças de segurança de São Paulo para por fim aos ataques, que decorreram entre os dias 12 e 19 de Maio.

Na altura, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo, negou qualquer acordo com o líder do PCC para a suspensão dos ataques.

A comissão ouvirá Marcola, considerado o criminoso mais perigoso do Brasil, numa sala especial da cadeia de alta segurança de Presidente Bernardes.

Marcola, de 38 anos, que cumpre pena por assalto a bancos desde 1990, assumiu o comando da maior organização criminosa de São Paulo em 2002.

A projecção da Polícia é de que o PCC controla actualmente cerca de 100.000 criminosos dentro e fora dos presídios do Estado de São Paulo.

Os deputados querem saber também as razões que levaram a organização criminosa a parar a maior cidade da América Latina, durante a série de ataques contra as forças de segurança.

Os deputados integram uma comissão parlamentar de inquérito do Congresso brasileiro que investiga a venda ilegal de armas de fogo.

Criado em 1993 com o objectivo de combater supostas injustiças dentro dos presídios de São Paulo, o PCC actua como uma associação de criminosos.

Planeia assaltos, fuga de presos, controla o tráfico de drogas e consegue dinheiro através da cobrança de uma quantia mensal aos seus associados, em troca de segurança.

O número de vítimas mortais durante a onda de ataques em São Paulo, entre os dias 12 a 19 de Maio, tem sido motivo de uma intensa troca de acusações entre o governo e entidades ligadas aos direitos humanos.

Oficialmente, o Governo de São Paulo reconhece que foram mortos 122 suspeitos de participarem nas acções do PCC, 48 policias e agentes das forças de segurança e quatro civis.

Nesta semana, entretanto, o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), órgão ligado ao Ministério da Justiça, acusou as forças de segurança de falta de transparência na divulgação do número de vítimas mortais.

O Conselho Regional de Medicina (CRM), entidade que representa os médicos de São Paulo, divulgou um relatório que aponta 400 vítimas mortais por armas de fogo, nos dias dos ataques, em todo o Estado de São Paulo.

Esse número inclui todos os tipos de casos, até mesmo crimes passionais e suicídios, sem qualquer relação com os ataques do PCC.

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