Como se comporta o vírus da Covid-19 em crianças?

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Ramzi Boudina - Reuters

A infeção pelo Covid-19 parece ser mais ligeira nas crianças do que nos adultos. Estudos sobre o comportamento do novo coronavírus na camada mais jovem da população demonstram que as crianças são igualmente vulneráveis e podem transmitir a doença aos adultos, mas apresentam sintomas mais ligeiros, dificultando o seu diagnóstico.

Apesar de ainda existirem poucos dados sobre o comportamento do novo coronavírus nas crianças, todas as investigações concluem que a camada mais jovem da população infetada pelo Covid-19 apresenta sintomas mais leves.

Estudos demonstram que as crianças são igualmente vulneráveis ao novo coronavírus, mas a doença Covid-19 parece ser menos grave do que nos adultos. Para esta observação, os cientistas ainda não encontraram uma justificação.

Um estudo realizado por investigadores chineses publicado na revista Naturena passada sexta-feira, investigou dez crianças infetadas entre os dois e os 15 anos. Concluiu que uma das crianças infetadas não apresentou nenhum sintoma e as restantes nove tiveram apenas sintomas leves.

Cinco das crianças apresentavam alguma tosse, quatro dor de garganta, três inflamação intestinal e duas congestão nasal, sintomas que os investigadores explicam que podem ser confundidos com outras doenças e, por isso, dificultar o diagnóstico.

“Apresentações leves e atípicas da infeção em crianças podem dificultar a deteção”
, lê-se no estudo conduzido pelo Dr Yi Xu, do Centro Médicos da Mulher e da Criança de Guangzhou.

O relatório de fevereiro da Organização Mundial de Saúde (OMS) também chegou à conclusão de que a manifestação do Covid-19 nas crianças “parece ser relativamente rara e ligeira”. O relatório demonstra que apenas 2,4 por cento dos infetados na China tinham idade igual ou inferior a 19 anos. Desses, uma percentagem muito baixa desenvolveu doença grave (2,5 por cento) ou crítica (0,2 por cento).

“Indivíduos com maior risco de doença grave e morte incluem pessoas com mais de 60 anos e com problemas de saúde prévios, como hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crónicas e cancro”, sublinha o relatório da OMS.
Risco mais elevado nos bebés
Um outro estudo publicado na Revista Pedriatics de 16 de março concluiu, igualmente, que as crianças apresentam sintomas mais leves ou mesmo nenhuns. “Mais de 90 por cento dos pacientes eram assintomáticos ou casos leves e moderados”, lê-se no estudo.

No entanto, a investigação acrescentou um outro dado relevante: os bebés são os mais vulneráveis neste grupo etário, expondo sintomas mais preocupantes e graves em comparação com crianças mais velhas.

“Os resultados sugerem que as crianças mais jovens, particularmente bebés, são vulneráveis à infeção por Covid-19”, conclui o estudo.
“Não é uma doença só dos idosos”
Apesar de apresentarem sintomas mais leves, as crianças estão igualmente vulneráveis à infeção pelo novo coronavírus e têm a mesma capacidade de transmissão. Por esta razão, a OMS alertou na quarta-feira que apesar de a taxa de mortalidade afetar, maioritariamente, a faixa etária acima dos 60 anos, as medidas de prevenção devem ser seguidas por toda a população.

“Sabemos que as crianças tendem a ter uma infeção mais ligeira, mas vimos pelo menos uma criança a morrer dessa infeção”, asseverou Maria Van Kerkhove, responsável técnica do Covid-19 na OMS, numa entrevista. “Não podemos dizer de uma forma generalizada que é uma doença leve nas crianças, por isso é importante que as protejamos como uma população vulnerável”, sublinhou.

Não é uma doença só dos idosos. Pessoas mais jovens apresentam uma doença menos severa, mas temos que estar atentos a todos, até os casos mais ligeiros. Todo o caso suspeito deve ser testado. Se mostrar sintomas, deve ser testado”, acrescentou o diretor executivo da OMS, Michael Ryan.
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