Composição rochosa pode influenciar armazenamento de dióxido de carbono
Londres, 15 dez (Lusa) - A composição química da rocha dos aquíferos salinos pode ter impacto no sucesso do armazenamento de dióxido de carbono (CO2) produzido pelo uso de combustíveis fósseis, refere um estudo científico da portuguesa Silvana Cardoso.
O estudo, explicou à agência Lusa, foi realizado no contexto atual de grandes concentrações de CO2 na atmosfera resultantes do uso de carvão, petróleo e gás natural como fontes de energia.
Como não é previsível que os combustíveis fósseis sejam substituídos por tecnologias alternativas sustentáveis nos próximos 50-60 anos, existem projetos piloto para a captura e injeção de dióxido de carbono em reservatórios subterrâneos.
O projeto de Sleipner, no Mar do Norte, é um exemplo do uso de aquíferos salinos, ou seja, reservatórios naturais subterrâneos de rocha porosa.
"Ao ser injetado, o CO2 dissolve-se na água salobra no aquífero, tornando-a mais densa. Pensava-se que este aumento de densidade induziria correntes de convecção que transportariam eficientemente o CO2 para baixo mais profundas", explicou a cientista.
Porém, o que a sua investigação revelou é que "reações geoquímicas com a rocha dos aquíferos podem reduzir a propagação do CO2 que, em vez de transportado para a profundidade, fica nas zonas menos profundas e mais perto da superfície".
Publicado na revista Nature Communications na quinta-feira em co-autoria com a doutoranda Jeanne Andres, o artigo pode contribuir avaliar a eficácia e os riscos de armazenamento de CO2 e melhorar o processo de seleção destes reservatórios, usados pela indústria petrolífera, afirmou a portuguesa.
Licenciada em Engenharia Química pela Universidade do Porto, Silvana Cardoso é professora associada de Mecânica dos Fluidos e o Ambiente na Universidade de Cambridge, onde concluiu o doutoramento em Matemática Aplicada e Física Teórica em 1994.
Dos seus projectos atuais fazem parte o estudo dos efeitos das diferenças de densidade, quer no movimento de plumas e nuvens turbulentas na atmosfera e oceano, quer no transporte de dióxido de carbono em rochas porosas.