"Condecoração das condecorações é a lealdade guineense". Marcelo recebeu medalha Amílcar Cabral

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
José Sena Goulão - Lusa

Marcelo Rebelo de Sousa foi esta terça-feira condecorado com a medalha Amílcar Cabral pelo seu homólogo da Guiné-Bissau, mas destacou que a “condecoração das condecorações” é a lealdade do povo guineense. Durante um discurso que sucedeu à cerimónia, os dois presidentes destacaram os laços entre os dois países e Umaro Sissoco Embaló afirmou mesmo que a visita oficial do presidente português é mais importante do que a visita de qualquer outro líder europeu, ou mesmo de Joe Biden. O presidente português realçou que os políticos “são protagonistas transitórios” e incluiu nos objetivos de cooperação "aperfeiçoar o Estado de direito democrático".

Marcelo Rebelo de Sousa está na Guiné-Bissau, na primeira visita oficial em 31 anos de um chefe de Estado português ao país africano.

O presidente da República português foi esta terça-feira condecorado com a medalha Amílcar Cabral, a mais alta condecoração do Estado da Guiné-Bissau, mas Marcelo diz já ter recebido essa medalha na véspera, quando foi recebido por uma multidão de guineenses.

Ontem, ao chegar aqui, eu senti no íntimo que o povo guineense já estava a dar-me a medalha, antes mesmo de eu imaginar poder vir a receber esse galardão das mãos do senhor presidente”, disse Marcelo. “Esta medalha é uma medalha dada a Portugal, ao povo português, pelo povo guineense, numa amizade antiga, forte, sincera e em muitos casos apaixonada”, acrescentou.

O chefe de Estado português agradeceu o galardão, mas sublinhou que a “condecoração das condecorações” é a “lealdade e fraternidade” do povo guineense.
O presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, também destacou os “laços fortes” entre os dois países, considerando que a visita de Marcelo Rebelo de Sousa “enquadra-se numa lógica de reciprocidade e de fortalecimento das boas e históricas relações de amizade e cooperação entre os dois países e respetivos povos da CPLP”.

“Esta visita superou todas as expectativas. Guiné-Bissau e Portugal ficaram ainda mais próximos para fortalecer os laços de amizade e cooperação que unem os povos”, sublinhou Sissoco Embaló, que espera um reforço do papel de Portugal no seu país.

O presidente guineense afirmou que a visita de Marcelo “é mais importante do que a visita de qualquer outro presidente europeu ou americano, pelos laços que nós temos”. “Esta visita é mais importante do que a visita de Joe Biden”, declarou.
“O passado colonial é um passado que assumimos em plenitude”
O chefe de Estado português destacou, de igual modo, que o presidente guineense “encontrará certamente mais países com mais dinheiro para investir, com mais poder económico, com mais ambições geopolíticas”, mas “não encontrará muitos mais países como Portugal, capazes de fazer plataformas entre culturas e civilizações, oceanos e continentes”.

“Fê-lo ao longo da sua história, nem sempre bem, muitas vezes mal”, ressalvou Marcelo, afirmando que o passado colonial é um passado que Portugal “assume em plenitude, também naquilo que nele não foi positivo”.

“Podem outros ter mais dinheiro, podem ter até mais ideias, mais peso geopolítico, mas os guineenses sabem aquilo com que contam relativamente aos portugueses. Naquilo que é bom e mau nos portugueses. Como nós contamos com aquilo que é muito bom e menos bom nos guineenses”, afirmou Marcelo.

“Conhecemo-nos bem. Conhecemo-nos como quem respira o mesmo ar. Às vezes estamos tempos sem nos vermos, como estes 31 anos, e recomeçamos no ponto em que tínhamos terminado em 1989”, sublinhou, referindo-se à última visita oficial à Guiné-Bissau por parte do anterior presidente, Mário Soares.
“Somos protagonistas de uma história que nos ultrapassa”
Durante o seu discurso após a cerimónia de condecoração, Marcelo Rebelo de Sousa salientou ainda que os políticos são protagonistas transitórios e incluiu nos objetivos de cooperação "aperfeiçoar o Estado de direito democrático".

"Os políticos são muito importantes, mas o povo é muito mais importante. Só há políticos porque o povo quer, verdadeiramente, e enquanto quiser. E nós temos de ter noção da nossa finitude", considerou Marcelo Rebelo de Sousa.

"Nós, presidentes, primeiros-ministros, parlamentares, líderes partidários, responsáveis políticos ou militares somos protagonistas temporários de uma história que nos ultrapassa. E temos de estar à altura dessa história feita cada vez mais de futuro, porque é isso que verdadeiramente conta: nós passamos, os povos ficam, aquilo que existe entre eles fica", reforçou.

O chefe de Estado português destacou que os dois países vão trabalhar “ainda mais unidos” na saúde, “que tanto nos preocupa ainda com a pandemia”, na educação, com a criação de uma escola portuguesa em Bissau.

"Vamos trabalhar ainda mais na formação, na reforma administrativa, no aperfeiçoamento do Estado de direito democrático, naquilo que é tão importante no quadro da nossa vivência e deve ser cada vez mais no futuro", acrescentou, referindo depois as infraestruturas, as águas, energias renováveis, o turismo e o mar como domínios de cooperação bilateral.

O presidente português termina esta terça-feira a sua visita oficial à Guiné-Bissau. Marcelo Rebelo de Sousa vai deslocar-se durante a tarde ao cemitério de Bissau para prestar homenagem a antigos combatentes portugueses ali sepultados e realizar encontros com o presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá, e o primeiro-ministro guineense, Nuno Gomes Nabiam.
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