Conferência paralela critica inação dos líderes mundiais

A Cimeira dos Povos, o contraponto popular à Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30), arrancou na quarta-feira na cidade brasileira de Belém com críticas à inação dos líderes mundiais.

Lusa /
Anderson Coelho - Reuters

O campus da maior universidade da cidade amazónica, situado nas margens do rio Guamá, será ocupado por movimentos sociais de cerca de 60 países durante os próximos cinco dias.

Indígenas, famílias afetadas pelas barragens das empresas mineiras, ativistas rurais, comunidades ribeirinhas e defensores das mais diversas causas concentraram-se na tenda principal para assistir à inauguração.

"Viva a vida, viva os povos originários e viva quem lutam pela terra!", gritam a partir do palco.

"Demarcação já, demarcação já!", grita um cacique a partir do palco do plenário, sendo aclamado com entusiasmo pelos presentes.

No dia anterior, um grupo de indígenas que exigia, entre outras coisas, a regularização das suas terras, foi expulso pelo pessoal de segurança da COP30, depois de entrar à força na área restrita da conferência.

De forma a assinalar o começo da Cimeira dos Povos, cerca de 5.000 pessoas navegaram na quarta-feira de manhã em mais de 150 embarcações pelos rios da cidade brasileira de Belém, onde decorre a COP30, para "denunciar falsas soluções climáticas" e mostrar que "os povos são a resposta".

A flotilha foi encabeçada por várias lideranças indígenas como Raoni Metuktire, símbolo da defesa da Amazónia e dos direitos das comunidades locais, e representantes dos povos Kayapó, Panará, Borari, Tupinambá, Xipaya, Arapiun, Huni Kuin e Kayabi, entre outros. 

A diretora executiva da Greenpeace Espanha e Portugal, Eva Saldaña, que participa da flotilha, disse à Lusa que este é "um movimento indígena sem precedentes" que percorreu sete milhas (11,3 quilómetros) com mais de 200 embarcações, juntando-se ao "Rainbow Warrior", um dos navios icónicos da organização Greenpeace.

"As respostas aos desafios que enfrentamos estão claramente nas comunidades indígenas, nas comunidades locais, nos povos das florestas, da terra, da água. Eles sabem quais são as soluções para a crise ecológica que enfrentamos", sublinhou.

A ativista espanhola recordou ainda que a sociedade civil reivindica neste protesto a "paragem das grandes empresas fósseis e do grande agronegócio" e ainda a demarcação dos territórios dos povos indígenas.

"Vamos continuar lutando juntos, vamos continuar lutando pela defesa da Amazónia, pela defesa de todas as florestas do planeta, mas acima de tudo pela justiça climática", garantiu.

 Os barcos seguiram pelos rios Guamá e Guajará até à Vila da Barca, um bairro social onde parte dos moradores "vive sem nenhum saneamento", denunciou a organização da flotilha.

À imprensa, Raoni Metuktire voltou a criticar prospeção de petróleo perto da foz do rio Amazonas.

"Eu já conversei com o Presidente Lula para ele não perfurar poço de petróleo" disse.

No dia anterior, nonagenário acompanhou um grupo de líderes indígenas num ato de denúncia sobre a exploração que a petrolífera estatal Petrobras realiza em áreas oceânicas, a cerca de 500 quilómetros da foz do rio Amazonas, uma zona considerada "altamente vulnerável" pelos ambientalistas.

A região abriga reservas ambientais, territórios indígenas, mangais e recifes de coral, bem como uma grande diversidade marinha com espécies em perigo de extinção.

A denúncia dos povos indígenas e das comunidades tradicionais contra a exploração petrolífera ganhou força depois de a Petrobras ter iniciado, no final de outubro, a fase exploratória de um poço situado a cerca de 175 quilómetros da costa amazónica, após ter obtido autorização da autoridade ambiental brasileira.

A petrolífera estatal espera confirmar o potencial petrolífero da chamada Margem Equatorial, uma região em águas profundas ao largo dos estados brasileiros do Amapá, Pará e Maranhão, que a empresa considera poder vir a tornar-se no seu maior ativo em termos de reservas.

A Petrobras tinha planos para explorar a região desde 2022, mas só este ano conseguiu a licença ambiental depois de comprovar que pode realizar a exploração "com responsabilidade" e sem afetar o meio ambiente.

 

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