"Confidence Man". Livro sobre Trump revela um presidente em roda livre

por RTP
Shannon Stapleton, Reuters

Dentro de uma semana sairá um livro sobre Donald Trump com revelações que confirmam o comportamento errático e pouco ortodoxo do ex-presidente norte-americano. "Confidence Man: The Making of Donald Trump and the Breaking of America", da jornalista Maggie Heberman, repórter do New York Times e analista política da CNN, revela o alcance da mira de Trump, que terá, segundo o livro, levado para a Casa Branca um manual de procedimentos muito peculiar.

“Confidence Man”, promete, mais do que uma revelação de pormenores sórdidos da Presidência de Donald Trump, confirmar os extremos a que o antigo inquilino da Casa Branca se expôs na insistência de entregar aos americanos aquilo que ele dizia ser uma liderança política genuína, em oposição aos velhos tiques do sistema.

Neste modus operandi muito particular do homem mais poderoso do país, Donald Trump não deixou, desde a eleição de 2016, de vilipendiar os seus adversários, que muito rapidamente passou à categoria de inimigos, o que lhe valeria lições por parte de respeitados republicanos, o partido por que se elegeu. Seria o caso de John McCain, que fez vários reparos a Trump – revelando o seu carácter muito próprio, esses reparos valeram na altura a McCain, nome respeitado dentro e fora do GOP, o epíteto de “falhado”: “É um herói de guerra porque se deixou capturar”.

O comportamento arrogante e prepotente de Donald Trump é confirmado desde já por algumas das histórias reveladas a uma semana da chegada de “Confidence Man”, cujo raio de varredura pode apanhar qualquer interlocutor, seja um adversário político ou o próprio genro, Jared Kushner, o mesmo Kushner que serviu como conselheiro sénior do presidente e que Trump investiu como enviado especial ao Médio Oriente para resolver o problema da paz entre israelitas e palestinianos.

Revela Maggie Haberman que o presidente gozou com Jared Kushner, que é casado com Ivanka Trump, em frente da sua equipa durante a campanha eleitoral de 2020.

O episódio terá ocorrido durante uma reunião de trabalho sobre a estratégia da campanha, revela um excerto já publicado pelo britânico The Guardian: Trump começou a falar sobre uma viagem de campismo que a filha Ivanka queria fazer quando, referindo-se a Kushner, que estava na sala, disse: “Este lingrinhas quer fazê-la. Conseguem imaginar o Jared todo magricela [Jared and his skinny ass no original] a acampar? Seria como algo saído de ‘Deliverance’”. Nesse momento, refere Haberman no livro, Trump mimetizou “a canção de banjo sobre quatro homens de férias na Geórgia rural que são atacados, perseguidos e num caso brutalmente violado por um residente local”.

Noutro momento, Trump terá dito sobre o genro que ele “parecia uma criança”. O presidente, refere o livro, chegou a perguntar a Kushner, que é judeu, se ele estava “a escapar-se ao trabalho” invocando para isso o Shabbat.

Durante uma entrevista na televisão ABC News que antecedeu as eleições de 2016, o Jornalista George Stephanopoulos disparou uma bateria de perguntas sobre a Rússia e a relação de Trump com o presidente Vladimir Putin, o que terá sido a gota de água dessa noite para o milionário e candidato republicano.

No final da entrevista, Trump confrontou o produtor do programa sobre a insistência do jornalista e questionou o porquê de “oito perguntas” sobre o tema, dizendo que se tratava de “uma m*rda de perguntas” (bullshit no original).

“Oito perguntas seguidas – estás a brincar comigo?”. É como perguntares-me se bati na minha mulher. Se me perguntares uma vez, eu digo “F*da-se, não” (Fuck no no original) e seguimos em frente. Não me vais perguntar depois se lhe bati com um taco de basebol ou um taco de golfe. Isso foi uma treta e é melhor arranjares isso na edição”.

Stephanopoulos terá dito mais tarde que achava que não tinha feito perguntas suficientes sobre o tema Rússia, o que terá deixado Trump colérico.

A relação de Trump com Putin é ainda hoje um assunto mal esclarecido. Ficando-nos pelos factos, sabemos que durante as últimas eleições o presidente e candidato Donald Trump, sentindo que a reeleição estava a escapar-lhe, deixou um pedido a Putin para que revelasse negócios sujos dos Biden no país.

Ainda durante a presidência, Trump tomou como válida a palavra de Putin, quando durante uma cimeira diz ter recebido da boca do presidente russo a garantia de que não interferira nas eleições norte-americanas de 2016, quando os seus serviços secretos e agências de informações acabavam de lhe garantir o contrário.

Impeachment

Um ponto que também merece referência no livro é a tentativa de impeachment de Trump, uma sombra que o perseguiu num largo período da segunda parte do mandato na Administração.

Em 2019, a Câmara dos Representantes aprovou dois artigos de impeachment contra Trump, o que o terá deixado louco ao ponto de ameaçar agir judicialmente contra a decisão do Congresso.

Na altura, o motivo da decisão da Câmara dos Representantes assentou no facto de Trump ter alegadamente pressionado o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a investigar a actividade empresarial na Ucrânia de um dos filhos de Joe Biden, seu principal adversário nas presidenciais.

“Vou processar o Congresso. Eles não me podem fazer isto”, terá dito Trump, de acordo com o livro.

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