Conflito com Azerbaijão. Arménia declara lei marcial e mobiliza população masculina

por RTP
Apesar de o conflito ter terminado em 1994 e de ter sido sucedido de um cessar-fogo, as tensões na região separatista de Nagorno-Karabakh permaneceram. Reuters

A Arménia declarou lei marcial e mobilizou a população masculina este domingo, perante a escalada de tensão com o Azerbaijão pela região de Nagorno-Karabakh. Na origem deste confronto está uma nova investida militar arménia nessa zona fronteiriça que terá causado vários mortos de ambos os lados do conflito. A União Europeia e líderes internacionais já apelaram às duas partes que se sentem à mesa de negociações.

A Arménia garante que a investida militar ocorreu depois de o Azerbaijão ter levado a cabo um ataque aéreo em Nagorno-Karabakh. O Azerbaijão assegura, por sua vez, que apenas respondeu a um bombardeamento levado a cabo pelas forças arménias.

O ataque lançado pelo grupo étnico azeri, do Azerbaijão, terá morto pelo menos dois civis – uma mulher e uma criança -, de acordo com ativistas arménios dos Direitos Humanos. O Governo arménio reportou mais fatalidades: vários mortos do lado dos azeri e dez militares da região de Nagorno-Karabakh.

Esta escalada no conflito pela região transfronteiriça levou a Arménia a declarar lei marcial. Depois dessa decisão, as autoridades em Nagorno-Karabakh - região separatista do Azerbaijão habitada maioritariamente por arménios e que declarou independência em 1991 - tomaram o mesmo rumo.

Por seu lado, o Ministério da Defesa azeri acusou a Arménia de ter violado o acordo de cessar-fogo (assinado em 1994) e lançado às primeiras horas de hoje "provocações em grande escala" com bombardeamentos contra posições do Exército do Azerbaijão e localidades situadas na primeira linha de zona de conflito.

O primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinian, acusou por sua vez o Azerbaijão de ter lançado uma ofensiva militar "com ataques aéreos e mísseis contra Artsaj", nome arménio de Nagorno-Karabakh, e assegurou que o exército "fará tudo" para proteger o país da "invasão azeri".

Antes, o Ministério arménio dos Negócios Estrangeiros indicou que o Azerbaijão estava a lançar mísseis "contra localidades pacíficas, incluindo a capital [de Nagorno-Karabak] Stepanakert".
As reações internacionais
A União Europeia apelou este domingo à cessação das hostilidades entre o Azerbaijão e a Arménia no enclave de Nagorno-Karabakh, pedindo às partes que se sentem à mesa negocial.

Em Bruxelas, e através do Twitter, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, manifestou-se preocupado com as "informações sobre as hostilidades" em Nagorno-Karabakh, que considera "fonte das mais graves inquietações".

"A ação militar deve cessar imediatamente, para impedir qualquer escalada [da violência]. A única via possível é um regresso imediato às negociações, sem quaisquer pré-condições", frisou.


Em Paris, o Governo francês afirmou-se "muito preocupado" com a situação e apelou também às partes à cessação imediata das hostilidades e ao regresso ao diálogo.

Num comunicado, o Ministério francês dos Negócios Estrangeiros reiterou a disponibilidade da França para apoiar uma solução negociada e duradoura para o conflito naquela região, "no respeito pelo direito internacional".

Na sequência dos ataques, também a Rússia instou o Azerbaijão e a Arménia a cessarem imediatamente os combates junto à fronteira e a sentarem-se à mesa das negociações para estabilizar a situação.

"A situação na zona de Nagorno-Karabakh deteriorou-se consideravelmente e instamos as partes a respeitarem um cessar-fogo imediato e a darem início a negociações com o objetivo de estabilizar a situação", indicou este domingo, em comunicado, o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros.

Já a Turquia pediu à Arménia que cesse imediatamente aquela que chamou de “hostilidade” para com o Azerbaijão e que, segundo o país, poderá “incendiar a região”.

“O maior obstáculo à paz e à estabilidade no Cáucaso é a posição hostil da Arménia, que deve terminar imediatamente essa hostilidade, caso contrário irá incendiar a região”, defendeu o ministro turco da Defesa, Hulisi Akar, acrescentando que a Turquia irá apoiar Baku “com todos os seus recursos”.
Tensões perduram há décadas
Nagorno-Karabakh foi cenário de uma guerra no início dos anos 1990, na qual morreram cerca de 30.000 pessoas, e, desde então, as autoridades azeris têm tentado recuperar o seu controlo, se necessário pela força, enquanto as conversações de paz permanecem num impasse há vários anos.

Os combates ocorrem regularmente entre separatistas e azeris, bem como entre Erevan e Baku.

Em 2016, os graves confrontos armados quase degeneraram numa guerra em Karabakh e, em julho de 2020, registaram-se igualmente combates entre arménios e azerbaijaneses na sua fronteira.

Apesar de o conflito ter terminado em 1994 e de ter sido sucedido de um cessar-fogo, as tensões na região separatista de Nagorno-Karabakh permaneceram ao longo dos anos, tendo hoje subido de tom, com as partes a trocarem acusações sobre quem iniciou as hostilidades.

O Azerbaijão defende que a solução do conflito com a Arménia envolve necessariamente a libertação dos territórios ocupados, uma exigência que tem sido apoiada por várias resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A Arménia, por seu lado, apoia o direito à autodeterminação de Nagorno-Karabakh, defendendo a participação dos representantes do território separatista nas negociações para a resolução do conflito.

c/ agências
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