Conflito na Ucrânia. EUA e UE disparam sanções contra a Rússia

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

Os EUA anunciaram na noite de terça-feira um conjunto de sanções económicas abrangentes direcionadas à Rússia, por aquilo que o presidente Joe Biden apelidou de “o início de uma invasão russa da Ucrânia”. A União Europeia também aprovou um pacote de sanções para “afetar a Rússia” e deverá anunciar um novo conjunto de medidas retaliatórias ainda esta quarta-feira, visando figuras importantes do regime russo.

“Para simplificar, a Rússia acaba de anunciar que está a retirar um grande pedaço da Ucrânia”, disse o presidente norte-americano, Joe Biden, ao anunciar a sua “primeira parcela” de sanções direcionadas ao regime russo.

As medidas incluem sanções à dívida externa da Rússia, isolando Moscovo do financiamento ocidental. “Cortamos ao Governo russo a possibilidade de ter acesso a financiamento do Ocidente. Também não poderá comercializar a sua nova dívida nos mercados europeus nem americanos”, anunciou Biden.
Os EUA aplicaram ainda sanções a bancos russos: “Temos quatro sanções de bloqueio em duas grandes instituições financeiras: o VEB [um dos maiores bancos de investimento e desenvolvimento] e o Banco Militar”.

Na mira das sanções norte-americanas estão ainda as “elites” de altos escalões da Rússia. “A começar já amanhã ou no dia seguinte, iremos impor sanções sobre os membros dos familiares da elite russa, que irão sofrer também”, declarou Biden, afirmando que “eles [oligarcas russos] partilham os lucros corruptos das políticas do Kremlin e devem partilhar o sofrimento também”.
O presidente norte-americano sublinhou que está é apenas a “primeira fase de sanções contra a Rússia”, sendo que estas sanções serão agravadas consoante o comportamento de Moscovo.

Joe Biden anunciou ainda o envio de tropas norte-americanas para os Estados-membros da NATO, como a Estónia, Letónia e Lituânia.
O presidente dos Estados Unidos diz ainda ter autorizado mais forças norte-americanas para a região ucraniana que estão já estacionadas na Europa. “Que fique claro: são movimentos defensivos da nossa parte, não tencionamos combater com a Rússia”, frisou.
Reino Unido e UE também aprovam pacotes de sanções
O Reino Unido e a União Europeia também anunciaram uma onda de sanções contra bancos e indivíduos russos na terça-feira.

Os 27 Estados-membros da União Europeia chegaram na terça-feira a acordo quanto a um pacote de sanções, aprovado por unanimidade, para “afetar a Rússia”. O pacote de sanções vai aplicar-se aos 351 membros da Duma [câmara baixa da Assembleia Federal russa] que votaram a favor do reconhecimento duas regiões separatistas da Ucrânia como Estados independentes. A resposta da UE visa também 27 indivíduos e entidades com “papel ameaçador para a independência da Ucrânia”, anunciou Josep Borrell, alto responsável da UE para a Política Externa e Segurança. No que toca às sanções financeiras, preveem-se restrições às relações económicas da UE com as duas regiões separatistas, de Donetsk e Lugansk, bem como o congelamento de bens de dois bancos privados russos.

Ainda esta quarta-feira, a UE deverá anunciar um pacote de sanções adicionais à Rússia que irá visar figuras importantes do regime russo, nomeadamente o ministro da Defesa , Sergei Shoigu, comandantes-chefes da Força Aérea Russa e da Frota do Mar Negro, segundo avança o jornal The Guardian.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também anunciou na terça-feira que o Reino Unido irá sancionar cinco bancos russos e três indivíduos com altos patrimónios líquidos, incluindo o empresário bilionário Gennady Timchenko, depois de o presidente russo, Vladimir Putin, ter reconhecido duas regiões separatistas do leste da Ucrânia.

"Hoje, o Reino Unido irá sancionar os seguintes cinco bancos russos: Rossiya, IS Bank, General Bank, Promsvyazbank e Black Sea Bank, e estamos também a sancionar três indivíduos com património líquido muito alto", anunciou Johnson no Parlamento britânico.

A Alemanha também suspendeu autorização do gasoduto Nord Stream 2, que faz a ligação da Rússia à Alemanha e foi construído para levar o gás russo até ao país europeu.
"À luz dos desenvolvimentos mais recentes, devemos reavaliar a situação em particular em relação ao Nord Stream 2", afirmou o chanceler alemão, Olaf Scholz.

Nenhuma das sanções foi tão longe quanto o que havia sido ameaçado no caso de uma invasão em larga escala da Ucrânia, embora as autoridades norte-americanas e europeias tenham enfatizado que serão aplicadas mais medidas retaliatórias caso o conflito a leste se deteriore.
Putin diz estar “aberto ao diálogo”
As sanções generalizadas foram anunciadas depois da Rússia ter reconhecido a independência das repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia.
As nações ocidentais encaram esta ação russa como um pretexto para uma invasão em grande escala à Ucrânia, algo que Moscovo sempre negou.

Na terça-feira, o Parlamento russo também autorizou o envio de tropas russas para Donbass, menos de 24 horas depois de Putin decretar a sua mobilização para operações de "manutenção da paz" – uma descrição que Washington classificou como “absurda”.

O presidente dos Estados Unidos considera que Vladimir Putin “tentou reescrever a História”, atacando diretamente “o direito da Ucrânia a existir” e ameaçando com guerra caso “as suas exigências extremas não sejam cumpridas”.

“Não há dúvidas de que a Rússia é o agressor. São bem claros os desafios que enfrentamos”, afirmou. Biden reiterou, porém, que “ainda há tempo para evitar o pior cenário” e que “os EUA estão abertos à diplomacia, se esta for séria. Estamos preparados e julgaremos a Rússia pelas suas ações, e não pelas suas palavras”.


O presidente russo, Vladimir Putin, também se declarou, esta quarta-feira, “aberto ao diálogo para encontrar soluções diplomáticas para os problemas mais difíceis”, mas sublinhou que “os interesses da Rússia não são negociáveis”.


Imagens de satélite das últimas 24 horas mostraram várias novas tropas e equipamentos no oeste da Rússia e mais de 100 veículos estacionados num aeródromo na Bielorrússia, perto da fronteira com a Ucrânia, segundo a empresa de tecnologia espacial norte-americana Maxar.
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