Conselho dos Guardiões da Constituição aceita recontagem dos votos
A contestação aos resultados eleitorais das eleições presidenciais, que reelegeram Ahmoud Ahmadinejad, subiu de tom. Só na última noite, em Teerão, sete pessoas perderam a vida em confrontos com a polícia. Pressionados pela contestação que, entretanto, alastrou a outras cidades do Irão, o Conselho dos Guardiões da Constituição aceitou uma recontagem dos votos.
O porta-voz do Conselho, Abbas Ali Kadkhodai, citado pela agência oficial Irna, anunciou que o órgão responsável pela condução das eleições presidenciais, tendo conhecimento das inúmeras queixas dos candidatos presidenciais, que exigem a anulação dos resultados eleitorais anunciados, está pronto a recontar os votos entrados nas urnas e que são alvo de "objecções".
Os vários candidatos às presidenciais no Irão, em especial o candidato moderado Mussavi, têm contestado a legalidade e democraticidade do processo eleitoral, alegando que ele foi fraudulento, razão pela qual têm exigido a anulação do sufrágio e a realização de novas eleições.
Eleição de Ahmadinejad contestada nas ruas
A vitória folgada que valeu a reeleição ao Presidente Ahmadinejad está ser contestada por toda a oposição. Todos os dias existem manifestações em Teerão por causa de alegadas fraudes eleitorais.
Os protestos levaram às ruas de Teerão centenas de milhares de iranianos. Mussavi juntou-se aos seus apoiantes numa manifestação proibida.
Os manifestantes culminaram o seu protesto com um ataque a um posto militar e dos confrontos com a polícia anti-motim resultaram 7 mortos e vários feridos e ainda muitas detenções. Entre os vários detidos, encontrava-se Mohammad Ali Abtahi, um antigo vice-presidente do país que apoiou o candidato reformista nas eleições de sexta-feira.
A situação poderá agravar-se porquanto apoiantes do Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e do ex-candidato às presidenciais, Mir Hossein Mussavi convocaram manifestações para o mesmo local do centro da capital iraniana, com apenas duas horas de diferença.
Os apoiantes de Mussavi foram os primeiros a apelar na passada segunda-feira à noite para que a oposição ao actual Presidente se concentrasse às 17h00 desta terça-feira (12h30 em Lisboa), na Praça Vali Asr.
Já na madrugada desta terça-feira, a agência noticiosa Irna anunciava a realização de uma manifestação pró-Ahmadinejad no mesmo local, mas duas horas antes, ou seja, às 15h00 (10h30 de Lisboa)
A situação é cada vez mais tensa e explosiva tanto mais que o ambiente emocional se adensou com a morte dos apoiantes de Mussavi e com a prisão de vários membros ligados aos partidos apoiantes dos candidatos de oposição.
Revolta alastrou a outras cidades iranianasO rastilho da pólvora alastrou, entretanto a outras cidades do Irão. Macchad, Ispahan e Shiraz são exemplos de cidades que conheceram ondas de rebelião.
Em Shiraz, no sul do país, foram várias as detenções na sequência dos tumultos que provocaram a destruição de bens públicos e privados, como vidros de lojas, bancos, máquinas distribuidoras de bilhetes, etc. Mais de cem pessoas foram detidas pela polícia segundo fonte das forças leais ao Presidente.
Em Machhad, no noroeste iraniano, segunda cidade do país, uma gigantesca manifestação foi evitada com a presença massiva de forças policiais anti-motim e da milícia islâmica que dissuadiram os opositores de Ahmadinejad. Pelo menos 15 pessoas foram detidas. Gritos Allah Akbar (Deus é grande) em sinal de apoio a Mussavi e concertos de buzinas de automóveis que circulavam nas ruas foram as formas alternativas que os contestatários encontraram para manifestar a sua revolta.
Em Ispahan, no centro do país, manifestantes pró-Mussavi marcharam nas ruas ao fim da tarde de segunda-feira. A revolta subiu de tom e os manifestantes acabaram por se envolver em confrontos com a polícia anti-motim, chegando a incendiar várias motos da polícia e vários veículos frente às instalações da televisão estatal iraniana. As forças policiais só à força de gás lacrimogéneo e das matracas é que conseguiram de alguma forma dominar os manifestantes.