Consulado dos EUA em Cuba retoma emissão de vistos suspensa há 4 anos

O consulado dos Estados Unidos em Cuba retomou hoje a emissão de vistos, volvidos mais de quatro anos de encerramento após incidentes de saúde dos diplomatas, quando a ilha enfrenta um êxodo migratório motivado pela profunda crise económica.

Lusa /

"Bem-vindos à embaixada ao fim de tanto tempo!", disse uma funcionária cubana do consulado norte-americano a um pequeno grupo de cidadãos cubanos que aguardavam atendimento num parque junto à embaixada.

Inquirida pela agência de notícias francesa AFP, a funcionária indicou que foi marcado um número reduzido de pessoas para hoje.

O consulado norte-americano em Cuba tinha anunciado no início de março que retomaria a emissão de vistos de forma "reduzida" e "progressiva", mas sem avançar uma data precisa.

A representação consular encerrou em setembro de 2017, por ordem do então Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na sequência de problemas de saúde (enxaquecas, surdez, vertigens, problemas de visão, etc.) -- batizados como "síndroma de Havana" -- de que foram alvo os diplomatas colocados na ilha. As autoridades cubanas negam ter estado na origem de tais incidentes.

Para os cidadãos cubanos, a obtenção de um visto para os Estados Unidos tornou-se, a partir de então, uma corrida de obstáculos, com a obrigatoriedade de passar por um país terceiro, a expensas próprias, para fazer o pedido.

"Esperamos que corra bem, porque há três anos que espero para reencontrar a minha filha, que sente a minha falta. Faz sete anos que não a vejo", contou um cidadão cubano que não quis revelar o nome.

A reabertura do consulado ocorre após a retomada, em abril, de negociações sobre a questão migratória entre Cuba e os Estados Unidos, interrompidas desde 2018.

Cuba atravessa a pior crise económica dos últimos 30 anos, sob o efeito da pandemia de covid-19 e do reforço das sanções norte-americanas, o que tem levado muitos habitantes a tentar emigrar a qualquer custo, alguns por mar, mas a maioria via América central.

Segundo as autoridades norte-americanas, entre outubro de 2021 e março de 2022, mais de 78.000 cubanos entraram ilegalmente nos Estados Unidos pela fronteira mexicana.

Hoje, alguns cubanos tentaram ir ao consulado sem hora previamente marcada, como Elsa Meneses, de 81 anos, que foi pedir um "visto humanitário" para sepultar o filho, que morreu de cancro nos Estados Unidos, país de que tinha nacionalidade.

"Tentei ir [aos Estados Unidos] para cuidar dele, mas foram-nos recusadas todas as hipóteses. Não pude vê-lo nem doente (...), nem para lhe fechar os olhos. Também não posso ir sepultá-lo", lamentou.

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