Cooperação no combate a alterações climáticas mais fácil com acordos locais

Lusa /

Lisboa, 01 fev (Lusa) - A cooperação internacional, necessária para combater as alterações climáticas, será conseguida mais facilmente a partir de acordos locais, em vez de basear-se em instituições globais, como as Nações Unidas, segundo um estudo liderado por portugueses.

O trabalho desenvolvido por investigadores do Instituto Superior Técnico (IST) e da Universidade do Minho, em colaboração com a Princeton University, e publicado no jornal PNAS, concluiu que "as instituições são muito mais estáveis e efetivas quando são locais, quando comparadas com instituições globais, como as Nações Unidas", no que respeita aos comportamentos relacionados com a mudança do clima.

"Mostramos que a existência, ou não, de uma instituição global cria um impacto muito diminuto na cooperação, enquanto que, se tivermos instituições locais associadas a acordos locais, [estas] podem ter um papel muito importante", principalmente quando a perceção do risco entre os cidadãos não é muito elevada, disse hoje à agência Lusa Francisco Santos, do IST.

"Quando tentamos chegar a um acordo desta natureza com um grupo muito grande, este acordo torna-se dificílimo de atingir", acrescentou.

As alterações climáticas, como o aumento dos fenómenos extremos de seca ou de chuva, e a subida da temperatura média do planeta, são objeto de acordos internacionais, como o protocolo de Quioto, para tentar reduzir as emissões com gases com efeito de estufa, o que exige mudanças de comportamento, dos consumdores, mas também das empresas.

Os investigadores portugueses têm desenvolvido modelos computacionais e matemáticos para tentar perceber os "dilemas" e a evolução comportamental relacionada com as mudanças climáticas.

"Trabalhamos a incerteza dos objetivos coletivos que temos de atingir [nesta área]. Experimentalmente mostrou-se que esta incerteza é muito perniciosa para a emergência da cooperação", disse Francisco Santos.

Além da escala a que os acordos devem ser firmados, o trabalho considerou aspetos como a perceção do risco de um desastre, que "joga um papel importantíssimo na decisão das pessoas", e por isso tem de ser elevada, mas atualmente "é bastante reduzida".

Outro ponto realçado no estudo refere a influência da diferente distribuição de riqueza nas decisões dos países e dos cidadãos.

"Um dos obstáculos à coordenação de esforços [no combate às alterações climáticas] resulta da existência de desigualdade entre os diversos países, [pois] há países mais ricos e outros mais pobres e isso pode influenciar as decisões que as pessoas tomam", segundo o investigador do IST.

"Os indivíduos têm preferência por imitar outros da mesma classe, o que chamamos homofilia, e, se os pobres imitarem de preferência outros pobres e os ricos outros ricos, o ciclo virtuoso [da cooperação] é interrompido", explicou.

Com esta quebra, os países pobres ou os agentes mais pobres começam a contribuir menos e os ricos tentam compensar, "mas só o fazem até determinado ponto e a partir dai a cooperação colapsa como um todo", resumiu Francisco Santos.

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