COP26. Boris Johnson alerta: "se não agirmos hoje, será tarde demais para os nossos filhos o fazerem amanhã"

por RTP
Emily Macinnes - EPA

Começou a 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) em Glasgow, na Escócia, com o discurso de abertura de Boris Johnson. O primeiro-ministro britânico e anfitrião da cimeira climática deu início à conferência alertando os líderes mundiais de que se não se agir agora quanto à alterações climáticas, amanhã já "será tarde demais" para as gerações mais novas e as futuras combaterem o aquecimento global.

Após a apresentação de um breve vídeo de Brian Cox e de um poema de Yrsa Daley Ward na cerimónia de abertura da cimeira climática, o primeiro-ministro do Reino Unido deu início às intervenções, dirigindo-se aos líderes mundiais e delegados presentes. Tentando comparar a famosa personagem do James Bond com os líderes mundiais, o anfitrião da COP26 recordou que nos filmes normalmente os "espiões" tentam impedir que alguma força acabe com o mundo.

"Podemos não nos sentir um James Bond, mas temos a oportunidade e o dever de fazer desta cimeira o momento quando a Humanidade começou a desarmar essa bomba, o momento quando começámos irrefutavelmente a virar a maré e a lutar contra as alterações climáticas", começou por dizer.

"A tragédia é que isto não é um filme e a cena do ‘Juízo Final’ é verdadeira", disse recordando que se as temperaturas aumentarem mais dois graus vão pôr em risco o abastecimento de alimentos; mas se forem três graus a mais a ocorrência de incêndios florestais e ciclones vai aumentar, assim como milhões de pessoas serão vítimas de pragas, de secas e de ondas de calor; e, então, se não impedirmos que as temperaturas globais aumentem mais quatro graus, então "dizemos adeus a cidades inteiras, como Miami, Alexandria, Xangai, todas elas perdidas nesta onda de calor".


"Quanto mais deixamos de agir, pior fica e mais alto será o preço quando formos forçados a enfrentar a catástrofe", continuou.
"A humanidade há muito tempo que atrasou o relógio no que diz respeito às alterações climáticas, falta um minuto para a meia-noite nesse relógio e precisamos agir agora".

Em tom de alerta, o primeiro-ministro britânico continuou: "se não agirmos hoje, será tarde demais para os nossos filhos fazerem amanhã".

Há 11 anos, Boris Johnson esteve na cimeira climática de Copenhaga onde os líderes da altura "reconheceram que havia um problema". Também há seis anos, o chefe de Governo britânico esteve em Paris onde foi acordado "com o Carbono Zero e em tentar que a temperatura não subisse mais do que 1,5ºC".

"Mas todas essas promessas não valem nada e não passarão de ‘blá, blá, blá’", afirmou Johnson citando as palavras de Greta Thunberg. "A raiva e impaciência do mundo serão impossíveis de conter, a não ser que tornemos esta COP26, em Glasgow, no momento em que levamos a sério as alterações climáticas".

Para Johnson, este é o momento de as dezenas de chefes de Estado e governo presentes na COP26 usarem a sua "criatividade, boa vontade e imaginação".

A observá-los estão "milhares de milhões de olhos desconfiados, nervosos e desencantados e ainda milhares de milhões de olhos dos que ainda não nasceram", que olharão para trás "com raiva ainda maior" se a cimeira os desiludir.

A maneira de "desarmar a máquina do apocalipse", é conhecida e inclui acabar com a utilização de carros com motores de combustão interna, acabar com as centrais elétricas a carvão, travar e reverter a desflorestação e reunir o dinheiro necessário para os países mais pobres poderem fazer o mesmo.
"Receio que já seja tarde demais"
"Podemos levar a sério as alterações climáticas", frisou Boris Johnson. "Nós temos as tecnologias para desativar esta bomba-relógio".

Contudo, o líder britânico expressou o seu receio de que "seja tarde demais relativamente a algumas coisas". Mas "uma a uma e com cada vez mais rapidez e eficiência, podemos começar a fechar estas câmaras que queimam hidrocarbono".

O mundo desenvolvido, segundo Johnson, deve reconhecer "a responsabilidade particular que temos para ajudar todos os outros a fazerem" a transição para as energias verdes.

"Temos a obrigação de encontrar os fundos" necessários para enfrentar as alterações climáticas e tornar as sociedades mais verdes. "Mas não teremos sucesso apenas com gastos governamentais. Podemos investir milhares de milhões, mas a tarefa agora é ajudar os outros países a descarbonizar".

Boris Johnson considera que "temos a tecnologia e podemos encontrar o financiamento", mas que a questão hoje é "se temos a vontade".

A maioria dos políticos e governantes anunciam sempre o que vão fazer em 2050 ou 2060, mas esses, disse Boris, têm em média mais de 60 anos e serão as gerações futuras que ainda não nasceram que vão julgar os líderes mundiais de hoje.
"Não podemos falhar as nossas promessas, porque se falharmos eles não nos vão perdoar, eles saberão que Glasgow foi o ponto de viragem histórico em que a história não mudou".

"Vão julgar-nos com azedume, com ressentimento e será superior do que afirmam os ativistas de hoje. A COP26 não pode ser o fim da história das alterações climáticas".

É preciso assumir "compromissos reais", mas até lá os gases de efeito de estufa "continuarão a fumegar das chaminés industriais", as "vacas vão continuar a emitir gases nos pastos", os automóveis a combustível "vão continuar a poluir nas estradas e nas cidades" e "nenhuma conferência vai mudar isso".

"Mas esta COP26 não será o fim das alterações climáticas. Pode e deve marcar o início do fim".

O primeiro-ministro britânico quer que nos próximos dias, durante a cimeira climática, os líderes mundiais têm de se "dedicar a esta extraordinária verde": não apenas prosseguir com a transição verde e criando novos empregos nas tecnologias verdes, mas "temos de fazer o suficiente para salvar o planeta e a nossa forma de vida".

"Sim, vai ser difícil. Mas sim, nós conseguimos fazê-lo", rematou.

Boris Johnson abriu a cimeira de líderes mundiais incluída na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), que se se realiza até 12 de novembro em Glasgow, Escócia.

Mas os líderes de alguns das nações mais poluidoras não estão presentes: entre eles o Presidente do Brasil, da Rússia e da China.
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