Coreia do Norte. Reator nuclear parece estar ativo, diz AIEA

por Carla Quirino - RTP

Desde 2018 que não havia evidências de descargas de água de refrigeração, perto da central nuclear norte coreana, usada para produção de plutónio. A Agência Internacional de Energia Atómica diz que desde julho deste ano há pistas de novas descargas.

A entidade de vigilância nuclear das Nações Unidas revela-se preocupada com as novas evidências da descarga de águas, uma vez que indiciam que a unidade de produção de plutónio possa ter reiniciado as operações.

"A continuação do programa nuclear da República Popular Democrática da Coreia é uma violação clara das resoluções relevantes do Conselho de Segurança da ONU e é profundamente lamentável", acrescentou o relatório, citado na CNN.

O documento da AIEA descreve a existência de "sinais de atividade no laboratório radioquímico próximo", entre meados de fevereiro até ao início de julho.

A central era usada para produzir combustível nuclear, e o laboratório radioquímico reprocessava as barras de combustível em plutónio que pode, teoricamente, ser utilizado no fabrico de armas nucleares.

Estas instalações estão localizadas no conhecido complexo nuclear de Yongbyon, na Coreia do Norte.

Embora não seja possível confirmar se está a ocorrer a atividade de transformar o combustível nuclear em plutónio, Rafael Grossi, diretor geral da AIEA, disse em junho que as evidências eram consistentes "com o tempo necessário para uma campanha de reprocessamento".

Se o laboratório químico está a reprocessar o combustível, pode ser indicador de que a central nuclear o tenha produzido recentemente de forma secreta, ou tinha esse combustível em armazenamento.

Para o especialista em armas Jeffrey Lewis, este relatório é um sinal para lembrar o Presidente norte-americano Joe Biden que tem pela frente uma Coreia do Norte com armas nucleares, o que implica muitos desafios nas relações entre os dois países.

"Um dos problemas que tivemos com a Coreia do Norte é porque tem sido usual nos últimos anos, as pessoas do meio estarem acostumadas com a ideia de uma Coreia do Norte com armas nucleares. E entretanto esqueceram-se disso. A produção pode ter acontecido, e nós só verificamos de vez em quando" sublinhou Lewis.

A agência tem sido forçada a monitorar as instalações nucleares norte coreanas remotamente, porque em 2009 os inspetores da AIEA foram expulsos do país.

As negociações em Hanói, entre o ex-presidente americano Donald Trump e o líder norte-coreano Kim Jong Un fracassarem e desde 2019 as relações entre Washington e Pyongyang tem estado congeladas.

Nas conversações na capital do Vietname esteve em discussão o desmantelamento do complexo de Yongbyon em troca de levantamento de sanções económicas.

Atualmente, com as fronteiras fechadas para controlar a pandemia e as dificuldades em garantir relações comerciais com a China, o regime de Kim enfrenta um país empobrecido e uma crise alimentar.
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