Coronavírus. DGS reforça linha SOS 24 e coloca três hospitais em alerta

por RTP

Em Portugal, nas últimas 24 horas, houve três possíveis casos de coronavírus, mas já foram despistados. A Direção-geral da Saúde já tem um plano de contingência preparado. A Linha SOS 24 foi reforçada e há três hospitais em alerta.

Já tivemos três casos possíveis, um deles esta noite e os outros ontem, de pessoas que tinham a preocupação, perante sintomas e vindas da China. Esses casos não foram validados, não passaram pelo crivo médico e seguiram a sua vida normal”, afirmou Graça Freitas.

Segundo a diretora-geral da Saúde, “neste momento, com o nível de risco que temos, o Ministério da Saúde, a Direção-geral da Saúde e os seus parceiros, incluído parceiro fora do Ministério da Saúde, estão organizados para poder dar resposta à solicitação da Organização Mundial de Saúde que é conter um possível caso que entre em Portugal evitando a propagação para outros países”.

Antes destas declarações, a diretora-geral da Saúde tinha afirmado, no programa Bom Dia Portugal, que existe um plano de contingência.

Temos um plano de contingência que já foi testado nos exercícios que fazemos. Nós já tivemos a gripe pandémica, já tivemos a SARS, as crises de África com o ébola. Temos estado a testar o dispositivo”.

Quando há conhecimento de “uma situação destas reunimos um grupo de especialistas, que sabem desta matéria e que sabem dos planos de contingência, e adaptamos as medidas à nova situação”.

Criámos dois canais principais de atuação. O canal virado para a população onde comunicamos com transparência qual é a situação e damos em comunicados os conselhos dos especialistas”, esclareceu.

Graça Freitas explicou que “se uma pessoa vier de Wuhan, ou de outra zona afetada da China, com sintomas que no início parecem uma gripe, o que confunde agora com esta altura do ano, deve ligar para a Linha SOS 24, dizer os sintomas e que fez uma viagem e a linha encaminha”. O número da Linha SOS 24 é: 808 24 24 24.

Ir diretamente para uma urgência, não é boa ideia”, alertou.

A diretora-geral da Saúde garantiu que o país tem meios necessários. “Temos meios como tivemos para a pandemia da gripe. Há uma primeira fase, que todos os países mais desenvolvidos têm capacidade de conter os vírus. Identificá-los precocemente”, sublinhou.

“Nessa fase de contenção, todos os países mais ricos têm capacidade de conter. Depois quando aconteceu a pandemia, passamos para uma fase que se chama de mitigação, que é fazer tudo para diminuir a transmissão”. Os três hospitais de referência são o São João, no Porto, que tem capacidade de ficar com adultos e com crianças. E em Lisboa, o Curry Cabral para adultos e a Estefânia para crianças.

Segundo Graça Freitas, “há uma linha médica, que são médicos que apoiam outros médicos, para validar os casos enviar a um dos três hospitais de referência

“De acordo com a evolução do vírus, nós vamos ativando medidas. De isolamento, de contacto com as pessoas que contactaram com o doente. E pedir-lhes que fiquem em quarentena”.

“Há uma escalada de medidas, há medida que escala o risco”, acrescenta.
Possibilidade de pandemia
A diretora-geral da Saúde afirma que não há conhecimento sobre a possibilidade de se poder passar para uma pandemia.

É muito precoce. Para as pandemias são precisas várias coisas. Uma delas é esta capacidade de os vírus se transmitirem de uma pessoa para outra. E está a acontecer apenas num cluster que teve origem em profissionais de saúde infetados, pensa-se a partir de um único doente, quando ainda não se sabia qual era o diagnóstico”.

O vírus está aqui a ter vários comportamentos. O comportamento de dar doença de pessoa a pessoa, mas também o comportamento animal- pessoa”, acrescentou.

Segundo Graça Freitas, “ainda não sabemos exatamente como é que isto se está a passar. É prematuro dizer qual será a extensão. O que nós sabemos é que se se tomarem medidas de contenção rápidas em poucos meses podemos controlar até zero casos a doença”.Surto está concentrado numa cidade
Na China continuam a aparecer novos casos de infeção por coronavírus. “Pelo menos cerca de 850 estão confirmados. Há 26 mortos também confirmados”.

Obviamente que este grande surto está concentrado na cidade de Wuhan, onde começou. A China tomou medidas em relação a isso. Portanto, até à data, penso que encerrou cinco cidades, que no conjunto têm 24 milhões de habitantes”, acrescentou Graça Freitas.

Para a diretora-geral da Saúde, “esta é uma medida drástica de contenção, ou tentativa de contenção deste vírus àquela zona. No entanto, já foram exportados casos para vários países”.

Neste momento há 10 países que receberam casos isolados, que estão a ser contidos, para não dar origem a novas cadeias de transmissão. E essa é que é a chave da questão”. Além da China, são conhecidos casos nos Estados Unidos, Singapura, Vietname, Tailândia.

Graça Freitas esclareceu que ainda não é conhecido o animal que transmite o vírus e esse desconhecimento aumenta o perigo da estirpe.

“Há aqui um dado que é muito importante. Nós ainda não sabemos qual é o reservatório do vírus. Há teorias, hoje saiu um estudo a dizer que serão as cobras, que eram vendidas naquele mercado. Outros dizem que o reservatório poderão ter sido os morcegos e depois passar dos morcegos para outro animal”.

“Esta questão de um vírus se adaptar a várias espécies indica que é um vírus potencialmente agressivo. Porque tem capacidade de passar de um animal para o outro, como de um animal para pessoas”, explicou.

O facto de ainda não ser conhecida a origem é uma fragilidade. “Porque não conhecendo o reservatório, onde estão os vírus habitualmente, as medidas de contenção tornam-se mais complexas”.

“O coronavírus é uma família de vírus, alguns são habituais entre a espécie humana. Todos os invernos nós temos constipações provocadas por coronavírus e de vez em quando emerge um novo coronavírus”, elucidou.
Outros casos de coronavírus
Graça Freitas recordou que não é a primeira vez que os vírus surgem na China e se alastra para outros países.

Em 2003, emergiu a pneumonia atípica ou SARS, que saiu depois da China para vários países e chegou a Toronto, no Canadá. Foi possível com um movimento mundial de contenção do vírus interromper a transmissão. Houve, pelo menos, oito mil casos e 800 mortes. Dez por cento das pessoas morreram. Esse foi um episódio que o mundo conseguiu controlar”.

Depois, em 2012 apareceu um novo coronavírus no Médio Oriente, esse transmitido de camelos a pessoas. Mas que exportou depois um caso para a Coreia e na Coreia deu um surto com 186 casos e 38 mortos”.

A diretora-geral da Saúde frisa que “o problema não é só os focos, quando se passa dos animais para as pessoas. É perceber se a partir dessa altura, o vírus se adapta à espécie humana e vai passando de pessoa para pessoa”.

“Agora na China, as autoridades disseram que na cidade de Wuhan, o vírus teve essa capacidade, de passar de uma pessoa para outra pessoa”.
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