"Côte d`Azur do Médio Oriente". Mundo critica planos de Trump para Gaza, Guterres adverte contra ideias de "limpeza étnica"

São múltiplas as reações por todo o mundo contra os planos anunciados pelo presidente norte-americano para a transformação da Faixa de Gaza numa espécie de Riviera, uma estância de férias à beira do Mediterrâneo. Palestinianos, líderes árabes e muitos países condenaram já esta ideia que Donald Trump diz que "toda a gente adora". A proposta que implicaria a deslocação da população para fora do território é agora também visada por António Guterres, com o secretário-geral da ONU a agendar um discurso em que alertará contra qualquer tentativa de "limpeza étnica".

RTP /
Foto: Bryan Dozier - Middle East Images via AFP

“Toda a gente adora” a minha ideia, sublinhava Donald Trump, ignorando as críticas que se multiplicam, até com origem nos seus próprios aliados.

Num discurso com conteúdo antecipado pelo seu porta-voz, António Guterres deverá alertar contra qualquer tentativa de “limpeza étnica” em Gaza, depois de Trump anunciar, durante a visita do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, à Casa Branca, que os Estados Unidos irão tomar conta do território e propor a saída dos palestinianos para países vizinhos.

De acordo com Stéphane Dujarric, Guterres irá dizer perante o Comité sobre o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestiniano que, “na busca de soluções, não devemos agravar o problema”. Sobre o projeto de Trump para a Faixa de Gaza, a construção de um local de turismo, o porta-voz de Guterres sublinhou que “qualquer deslocamento forçado da população equivale a uma limpeza étnica”.

“É fundamental permanecer fiel aos fundamentos do direito internacional. É essencial evitar qualquer forma de limpeza étnica”, acrescentou Dujarric, apontando que o secretário-geral insitirá na solução de dois Estados.

Ideia diferente tem Donald Trump, que defende que os palestinianos “adorariam” deixar o território devastado [pelos bombardeamentos israelitas] rumo, por exemplo, à Jordânia ou ao Egito.

Um projeto que não tardaria em provocar uma chuva de críticas. O Hamas acusou o presidente americano de “atirar petróleo para o fogo” com declarações que não “contribuirão para a estabilidade” do Médio Oriente.

Também da Cisjordânia chegou um recado para Donald Trump: “Não permitiremos que os direitos do nosso povo sejam espezinhados”, avisou o presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, por uma vez alinhado com o Hamas.

E, numa reação ao fim da tarde, a União Europeia veio já dizer que Gaza é “parte integrante de um futuro Estado palestiniano”.

“Tomamos nota das declarações do presidente Trump”, disse um porta-voz da UE à AFP, acrescentando que “a UE continua firmemente empenhada numa solução de dois Estados, que acreditamos ser o único caminho para uma paz duradoura para israelitas e palestinianos”.
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