Covid-19. Austrália com novo máximo de mortes. Especialistas dizem não conseguir aferir o porquê

por RTP
Sydney Loren Elliott - Reuters

Nos primeiros 18 dias do ano, mais de 530 pessoas morreram com covid-19. Por não haver uma leitura nacional dos casos, os investigadores dizem ser uma "confusão" a interpretação das informações. Alertam para a necessidade de haver um centro que reúna o conjunto total dos dados para, após análise, se definirem as melhores estratégias para combater a pandemia. O primeiro-ministro Scott Morrison prefere concentrar-se nas taxas de hospitalização. Os especialistas discordam e insistem que os números de novos casos são importantes.

 A notificação dos registos de quem morre ou está hospitalizado por covid-19 não está síncrono no dia a dia com os dados das novas infeções nem está padronizado.

O departamento federal de saúde pública reúne algumas informações sobre idade e sexo relativas às mortes . Os estados e territórios publicam outros dados da área do governo local.

Para os especialistas, as notificações, ao serem lançadas com três semanas de atraso perde-se a real relação sobre quem morre, o que implica não se conseguir antecipar estratégias para travar os novos casos.

Adrian Esterman, professor de bioestatística e epidemiologia da Universidade da Austrália do Sul alerta para o problema das informações estarem repartidas e não existir uma centralização a nível nacional nem padronização do tratamento de dados.
"É simplesmente de loucos", afirma Esterman. "Não temos recolha nacional de dados para Covid-19, ponto final", diz ao The Guardian.
"Nós nem temos uma definição acordada das coisas para o Covid-19, o que é simplesmente uma loucura. É por isso que precisamos de um (centro nacional) na Austrália" sublinha o professor.

Os indicadores conhecidos da doença sugerem que a variante Omicron não é tão mortal quanto a Delta, mas no território australiano não se estão a fazer testes suficientes para descobrir o impacto real destes novos surtos.

Centro de testagem encerrado em Sydney | Jaimi Joy  - Reuters

Algumas vezes, as autoridades de saúde dos estados e territórios acompanham aqueles que não foram vacinados, parcialmente vacinados ou totalmente vacinados quando morreram, mas não há dados nacionalmente consistentes.

Também não está clarificado quando ou se um reforço será necessário para ser declarado "totalmente vacinado".

Esterman alerta para outra dificuldade com os dados de óbito. Os médicos ao assinarem o atestado de óbito "precisam de saber a causa da morte, e muitas vezes isso não é óbvio", afirma.

"Por exemplo, se alguém morre com uma doença pulmonar grave e teve Covid-19, foi o Covid ou o Covid incidental? Algumas pessoas morrem de Covid, outras morrem com isso. É sabido que muitas condições podem aumentar o risco de ser hospitalizado ou morrer. Não ser vacinado cria o maior risco. A idade de uma pessoa, se ela fuma, se sofre de cancro, imunodeficiência, diabetes, obesidade grave, doença cardíaca ou hepática, se é do sexo masculino ou se está grávida, tudo isso aumenta o risco", sustenta Esterman.

Outras variáveis como pessoas em tratamento que suprimem o sistema imunológico, também aumenta o risco de morte.

Os aborígenes e os ilhéus do Estreito de Torres estão em maior risco, assim como as pessoas com deficiência diz o especialista.
Estabelecer um padrão para reportar dadosScott Morrison, primeiro ministro australiano pretende que se façam alterações na forma como as mortes associadas a doença Covid-19 são registradas.

"As pessoas morreram ou estão hospitalizados por algum outro motivo e é por isso que foram admitidos, e foram testados e foram diagnosticados com Covid", disse Morrison, no início de janeiro.

"Então, precisamos definir um padrão relativamente aos registos, porque essas são as principais coisas que temos que rastrear agora" declarou o primeiro ministro.

Esterman recorda que "raramente sabemos o estado de vacinação daqueles que morrem, ou se eles têm Delta ou Omicron. As autoridades estaduais, às vezes, mencionam a situação vacinal dos que morrem, mas não há um registro consistente".

Caso houvesse uma notificação clara "seria possível comparar registros de vacinação com atestados de óbito", acrescenta.

Brendan Crabb, diretor do Burnet Institute concorda com Esterman, sustentando que "precisamos de uma maneira de coordenar os dados de doenças infecciosas nacionalmente de uma forma que seja útil para a população australiana em tempo real e para planeamento futuro".

Crabb diz-se preocupado com a redução da testagem, rastreamento, isolamento e quarentena. A ventilação adequada para evitar a transmissão aérea também é "grosseiramente mal feita", adverte.
Morrison defende que os números de casos não importam atualmente e sublinha: "devemo- nos concentrar nas taxas de hospitalização".
Crabb refuta a ideia do primeiro ministro e afirma que "os casos importam".

"Se queremos reduzir as mortes, temos que reduzir os casos", diz Crab e alerta: "Os casos são de onde vêm as mortes".
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