Covid-19. Autoridades sanitárias de Espanha em busca dos assintomáticos

por Carlos Santos Neves - RTP
O Governo espanhol quer estender os testes a todos os sectores essenciais Sergio Perez - Reuters

As autoridades de saúde da Espanha tencionam, nos próximos dias, alargar os testes para a despistagem de infeção pelo novo coronavírus a todos os sectores considerados essenciais. Haverá milhões de testes a distribuir pelas diferentes comunidades do país. O objetivo é encontrar infetados assintomáticos, que são também agentes de contágio.

Trabalhadores da saúde, funcionários de lares de idosos, agentes das forças de segurança, motoristas, trabalhadores do ramo da alimentação constituem “um fluxo de transmissões silenciosas do coronavírus”, lê-se na edição on-line do jornal espanhol El País. E é sobre estes profissionais que incidem as atenções do Governo do país vizinho.
Espanha regista mais de 12 mil vítimas mortais da Covid-19. É visível uma tendência de achatamento.
De acordo com o diário, são duas as linhas de ação. O plano passa por conduzir testes em massa que permitam localizar estes casos assintomáticos. Depois, haverá que preparar estruturas de isolamento, evitando assim o contágio de pessoas próximas.

No domingo, o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, apelou aos presidentes dos executivos autonómicos para façam chegar a Madrid, até 10 de abril, uma lista de infraestruturas públicas e privadas que permitam alojar infetados sem necessidade de hospitalização, incluindo os denominados “positivos assintomáticos”.

Fernando Grande-Marlaska, ministro espanhol do Interior, sublinhou que será tido em conta o aconselhamento médico nesta estratégia de confinamento. Mas não excluiu a possibilidade de o Governo o tornar obrigatório.

“Suponho que uma voluntariedade manifesta, se fosse necessária, seria algo exequível. Se não, estudar-se-iam todas as opções legais, porque o princípio fundamental é manter a saúde pública. Com estrito respeito pelos direitos fundamentais”, sublinhou o governante, citado por El País.
“Arcas de Noé”
O sistema imita, de certa forma, o dispositivo chinês das chamadas “arcas de Noé”, hospitais que as autoridades do país asiático dedicaram ao isolamento de casos mais leves da infeção pelo SARS-CoV-2, travando assim a sua propagação.

Igualmente citada pelo diário espanhol, María José Sierra, do Centro de Coordenação de Aletas e Emergências Sanitárias, a próxima fase de resposta à pandemia, em Espanha, passa pela detenção precoce e isolamento de todos os casos com ou sem sintomas iniciais.

“Por vezes não se pode fazê-lo nos domicílios. Estão em cima da mesa todo o tipo de opções e uma seria algum de tipo de instalações”, afirmou a responsável.

Os testes em massa para os serviços ditos essenciais vão começar a ser implementados já esta semana.

Para pôr em prática esta medida, o Governo de Sánchez diz ter acautelado cinco milhões de testes serológicos, que detetam anticorpos no sangue e apresentam uma sensibilidade de 64 por cento na fase de sintomas iniciais e de 80 por cento ao sétimo dia da infeção pelo novo coronavírus. Constituem um complemento aos testes PCR (proteína C-reativa), “a base da estratégia”, segundo Madrid.

A figura da hospitalização obrigatória, explica El País, está consagrada na lei e pode ser adotada mediante aprovação de um juiz. Foi já empregue por dezenas de ocasiões nas últimas duas décadas em Espanha, visando doentes com tuberculose multirresistente. É a Lei de Medidas Especiais de Saúde Pública, datada de 1986, que estabelece esta possibilidade em caso de “perigo para a saúde da população”.

A cidade chinesa de Wuhan, ponto de origem da pandemia, teve um total de 16 hospitais arca de Noé em funcionamento. Estas estruturas, instaladas em pavilhões desportivos ou centros de conferências, mantiveram internadas 13 mil pessoas. Os últimos dois foram fechados no passado dia 10 de março.

Espanha registou mais 637 mortos nas últimas 24 horas. É o número mais baixo de vítimas mortais desde 24 de março. No total, morreram 13.055 pessoas em Espanha desde o início da pandemia.

O número de casos fixou-se nos 135.032, quando no domingo era de 130.759.
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