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Covid-19. Devemos ou não usar máscara? Uma diferença entre oriente e ocidente

por Inês Moreira Santos - RTP
Alberto Lingria - Reuters

As recomendações oficiais só incluem profissionais de saúde, pessoas infetadas ou pertencentes aos grupos de risco. Mas há uma dúvida recorrente desde o início da pandemia da Covid-19: devemos ou não usar máscara para nos protegermos?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que o uso de máscaras pode dar um falso sentimento de segurança e fazer esquecer outras medidas de prevenção e proteção contra o novo coronavírus.

Em Portugal a postura é semelhante. A Direção-Geral de Saúde (DGS) reitera que o uso de máscara deve ser ponderado considerando o risco de exposição, e que o uso generalizado deste tipo de proteção está ainda em estudo, sendo, por isso, a melhor medida para conter o contágio o distanciamento social.

Mas as opiniões divergem, tanto entre especialistas com entre continentes.

Nos países asiáticos a máscara é quase uma peça de roupa e os especialistas apelam ao uso como proteção essencial. Mas na maioria dos países ocidentais as recomendações são contrárias, sendo muitas vezes desaconselhado a pessoas que não estão infetadas nem têm contacto com doentes.
Não usar máscara é "errado"?

Não há consenso sobre esta questão, mas a verdade é que os países ocidentais, nomeadamente Portugal, têm sido alvo de críticas por parte das autoridades de saúde chinesas por não imporem o uso de máscara às populações.

O diretor-geral do Centro Chinês de Controlo e Proteção de Doenças, George Cao, disse numa entrevista à revista Science que "o grande erro nos EUA e da Europa é o facto de as pessoas não estarem a usar máscaras".

Yang Huichuan, vice-presidente da Cruz Vermelha da China, quando foi a Itália para aconselhar as autoridades de saúde italianas ficou "chocado", segundo El País, com a falta de medidas de prevenção.

Na altura, Huichuan criticou o facto de "os transportes públicos continuarem a funcionar" e haver "muitas pessoas na rua", em jantares ou "em festas nos hotéis".

Além disso, o responsável pela entidade de saúde chinesa não compreendia como é que o uso de máscara em Itália não era obrigatório, principalmente na região mais afetada pelo vírus.

A Coreia do Sul, por exemplo, assim que surgiram os primeiros casos de infetados perto das suas fronteiras, recomendou à população que se isolasse e que usasse máscara até dentro de casa.

Nos países do ocidente as recomendações não têm sido as mesmas, o que deixa a dúvida.

Contudo, nem na Europa há unanimidade de opiniões. A Áustria, a Eslováquia, a República Checa e a cidade alemã Jena decidiram que o uso de máscara é obrigatório, principalmente para ir à rua ou ao supermercado.

O pressuposto é o mesmo: para além de ser uma forma de evitar a transmissão em massa, é preferível ter alguma coisa a cobrir a cara do que não ter nada.

A República Checa, por exemplo, alega que o uso de máscara é importante porque pode prevenir que pessoas infetadas mas assintomáticas - que podem nem saber que estão infetadas pelo novo conronavírus - não transmitam a outras pessoas. Ou seja, pode diminuir a probabilidade de contágio.
Máscaras para todos?

O debate sobre o uso de máscaras vai para além das diferentes recomendações dos países do oriente e do ocidente.

Há quem considere que a questão passa por, possivelmente, não haver máscaras para toda a gente. E, na verdade, neste momento não há.

No início da pandemia a procura disparou em vários países - incluindo no países europeus que estavam longe de ser afetados, na altura -, levando à rutura de stocks. Nos supermecados, nas farmácias, drogarias e até nos hospitais e nas instituições de saúde (onde o uso deste tipo de proteção é imprescindível) deixou de haver máscaras, gel desinfetante, luvas ou até álcool etílico.

No entanto, as recomendações da OMS para um uso não generalizado de máscaras são, em teoria, diferentes.

"O uso de máscara não garante por si só proteção se não for combinado com outras medidas", reiterou na segunda-feira o porta-voz da OMS.

"As pessoas com sintomas [da Covid-19] devem usar máscaras para proteger os outros, assim como as pessoas que cuidam de doentes e estão mais expostas ao vírus", disse Tarik Jasarevic, lembrando, no entanto, que o uso de máscaras é indispensável para profissionais de saúde, que não podem trabalhar sem elas e que enfrentam já em muitos países problemas devido à escassez provocada pelo aumento da procura.

Segundo a OMS, as pessoas infetadas e com sintomas devem usar uma máscara cirúrgica - a mais simples -, visto que esta não previne a "aspiração" do vírus mas evita que sejam expelidas gotículas como saliva.

Já as máscaras com filtro devem ser apenas usadas, de acordo com as recomendações da OMS, por pessoas que estão em risco de exposição ou que cuidam de pacientes infetados. Por isso, são as preferencialmente usadas pelos profissionais de saúde.

Numa altura em que o uso de máscara se tem tornado num tema constante na opinião pública, a OMS veio relembrar, na semana passada, que o vírus não é transmitido pelo ar e que, exceto em situações hospitalares, é quase impossível respirá-lo desde que se mantenha a higiene frequente das mãos, a etiqueta respiratória, com lavagens frequentes de mãos, etiqueta respiratória e a distância de segurança recomendadas pela entidade, assim como pelas autoridades europeias e norte-americanas.

Além disso, as máscaras não são sempre usadas corretamente. Às vezes não são bem colocadas na cara, as pessoas podem ter a tendência de tocar com mais frequência na cara, e sabe-se que o coronavírus entra no organismo através das mucosas dos olhos, nariz e boca.

Mas, mais uma vez, a postura da OMS e das autoridades dos países ocidentais contrasta com a postura dos especialistas asiáticos.

Sui Huang, investigador do Instituto de Sistemas de Biologia (ISB), escreveu num artigo que "a recomendação oficial nos Estados Unidos (e noutros países ocidentais) de que a população não deve usar máscaras foi motivada pela necessidade de garanti-las para os profissionais de saúde".

"Não há suporte científico para alegar que "as máscaras não são eficazes". Antes pelo contrário, tendo em vista o objetivo declarado de achatar a curva, qualquer redução adicional, ainda que parcial, na transmissão seria bem-vinda, incluindo o usos de máscaras cirúrgicas simples ou máscaras que não criariam um problema adicional de stock".

A dúvida vai continuar enquanto não houver consenso. Mas, é de frisar, que a maioria dos especialistas - do ocidente ou do oriente - concordam em alguns pontos: as máscaras por si só não são eficazes; e as pessoas não devem comprar e armazenar em quantidades desnecessárias, dando prioridade a quem, como os profissionais de saúde, relamente precisa de as usar.
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