Covid-19. Dexametasona incluída na lista espanhola de "medicamentos essenciais"

Um recente estudo espanhol concluiu que o uso de corticoides, como a dexametasona, em doentes hospitalizados aumenta a probabilidade de sobrevivência à infeção por Covid-19 em 50 por cento, ao passo que entre os antivirais não foi associada nenhuma melhoria. A dexametasona faz parte da lista elaborada pelo ministério da Saúde espanhol de medicamentos essenciais para assegurar o stock durante a pandemia.

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Yves Herman - Reuters

O estudo desenvolvido por especialistas da Sociedade Espanhola de Farmácia Hospitalar (SEFH) é já uma das maiores investigações sobre a Covid-19 até ao momento.

Mais de cinco mil doentes com infeção grave e hospitalizados em 174 hospitais foram acompanhados durante o tratamento. Ao fim de 28 dias, a taxa de mortalidade foi de 17,8 por cento.

O estudo concluiu que o uso de corticoides – incluindo a dexametasona cuja eficácia foi aprovada recentemente pela Universidade de Oxford – a partir da primeira semana de hospitalização reduz a mortalidade por Covid-19 até 50 por cento.

Ao jornal espanhol El País, Jesús Sierra, coordenador do Registo Espanhol de Resultados de Farmacoterapia frente à Covid-19 da SEFH explica que o fármaco metilprednisolona tem sido bastante utilizado em Espanha, mas no estudo não foram observadas diferenças entre os diferentes corticoides.

Sierra admite, porém, que em muitos casos, os imunossupressores foram administrados aos pacientes desde o primeiro dia e que em apenas seis por cento dos casos, a sua utilização foi prescrita a partir da primeira semana de internamento, altura em que a sua utilização é recomendada, dado que na generalidade dos casos a infeção agrava, com um forte aumento da inflamação.

A Organização Mundial da Saúde já veio alertar para o uso concreto da dexametasona apenas em utentes que estejam numa situação muito grave e mediante acompanhamento médico. “Isto não serve para casos ligeiros nem é um profilático”, alertou o diretor-executivo da OMS, Michael Ryan, sublinhando que a dexametasona “não é um tratamento para o vírus em si”.
Lista de medicamentos essenciais
O estudo também associa um efeito de melhoria semelhante ao tocilizumabe, um medicamento biológico especificamente direcionado às citoquinas, as moléculas produzidas durante a fase inicial da resposta imunitária.

Estes três fármacos – dexametasona, metilprednisolona e tocilizumabe – juntamente com anakinra, ciclosporina e salumabe fazem parte do conjunto de imunossupressores que constam na lista de medicamentos essenciais na luta contra a pandemia, publicada este sábado pelo Boletim Oficial do Estado (BOE). De acordo com o documento, os medicamentos listados “serão aqueles que contêm os ingredientes ativos, na dose e via de administração indicadas”.

Todas as comunidades espanholas ficam, assim, obrigadas a notificar a disponibilidade destes fármacos semanalmente, para garantir o seu abastecimento.
Hidroxicloroquina é benéfica, diz o estudo
O estudo concluiu ainda que a hidroxicloroquina tem um efeito benéfico no tratamento da Covid-19. Este fármaco foi já descartado pela OMS depois de um estudo ter revelado que a sua utilização aumenta o risco de morte e também não consta na lista do ministério da Saúde espanhol.

No entanto, Jesús Sierra explica que nos ensaios em que foi utilizado, nomeadamente no ensaio clínico britânico Recovery que concluiu que o fármaco aumenta a mortalidade, a hidroxicloroquina foi utilizada em doses muito mais altas do que aquelas que são usadas nos centros espanhóis.

"Em dez dias, o paciente recebeu 9,6 gramas, enquanto a média em Espanha foi de 3,6 gramas em sete dias", explica Sierra, observando que o produto é um "anti-inflamatório muito razoável".

A investigação da SEFH sublinha ainda a ineficácia dos antivirais no tratamento da Covid-19, concluindo que a sua combinação com a hidroxicloroquina não melhora os resultados. “Assim como na gripe, os antivirais parecem não funcionar”, disse Sierra.

A hexonaparina também consta na lista de medicamentos essenciais e o estudo da SEFH observou uma redução de 30 por cento na mortalidade associada ao seu uso. A eficácia deste anticoagulante poderá estar relacionada com o facto de um dos efeitos observados na infeção por Covid-19 ser o aumento das tromboses, que ocorrem quando há formação de coágulos sanguíneos nas veias.
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