Covid-19. Governo brasileiro defende-se de polémica provocada por "slogan" nazi

O secretário da Comunicação Social da Presidência da República (Secom) do Brasil defendeu-se de uma polémica iniciada por causa de um "slogan" usado num vídeo institucional do governo, comparado a um lema nazi.

Mário Aleixo - RTP /
Depois da divulgação do vídeo com conotações nazis, o secretário da comunicação do governo brasileiro veio a público procurar emendar o ato comprometedor André Borges - EPA

Em causa está um vídeo institucional para divulgar as principais ações adotadas pelo Governo brasileiro no combate à crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, no qual se utiliza a frase "O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil".

Para muitos críticos, a frase evoca a inscrição à entrada do campo de concentração de Auschwitz, "O trabalho liberta".

"Abomino esse tipo de ilação canalha, sobretudo nos tempos difíceis pelos quais estamos passando. Esquecem os ensinamentos judaicos recebidos por mim e por boa parte da minha equipa, e da tradição de trabalho do povo judeu de lutar pela sua liberdade económica", escreveu Fabio Wajngarten na rede social.

Na rede social Twitter, o responsável da comunicação social da presidência, Fabio Wajngartena, acusou os críticos de "analfabetismo funcional" e de fazerem uma interpretação equívoca para "associar o governo ao nazismo", acrescentando que ele próprio é judeu.

O responsável da Secom defendeu ainda que a comparação banaliza a história, considerando que "acusar injustamente de nazifascismo tira o peso do termo".

"Se todos são nazifascistas, ninguém é, o que muito interessa aos criminosos, que passam a ser vistos como pessoas comuns", afirmou.

"É a isso que se prestam alguns políticos e veículos dos `media` na busca por holofotes a qualquer preço", acusou.

O vídeo, que foi partilhado nas redes sociais pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, começa com a frase "parte da imprensa insiste em virar as costas aos factos, ao Brasil e aos brasileiros", mostrando vários títulos publicados na imprensa brasileira sobre a gestão do Governo de Bolsonaro desde o início da pandemia, para depois enumerar algumas das ações do Executivo no combate à pandemia da covid-19.

O vídeo termina com as frases "O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil. Juntos, vamos continuar fazendo deste país uma grande nação".
Antecedentes
Esta não é a primeira vez que membros do governo brasileiro são acusados de usar referências nazis.

Em janeiro, o então secretário de Cultura, Roberto Alvim, foi exonerado por Bolsonaro, depois de ter feito um discurso em que citava Joseph Goebbels, ministro da propaganda da Alemanha nazi.

Na altura, o ex-secretário defendeu que se tratava de uma "coincidência retórica" entre os discursos.

Mais recentemente, há algumas semanas, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Ernesto Araújo, foi instado a pedir desculpas à comunidade judaica no país por ter comparado as medidas de distanciamento social impostas pelos governadores brasileiros para combater a covid-19 com os campos de concentração nazis.
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