Covid-19. Nepal pode igualar ou ultrapassar a Índia em casos de infeção

por Cristina Sambado - RTP
Navesh Chitrakar - Reuters

O crescente número de casos de infeção por SARS-CoV-2 no Nepal está a preocupar as autoridades de saúde do país asiático. Teme-se que chegue a um número de infetados semelhante ou superior à Índia. O país, que tem falta de vacinas e com uma taxa de incidência de 47 por cento, já pediu ajuda internacional urgente.

O Nepal está a registar mais de 9.700 novos casos por dia, mais de 20 casos de Covid-19 por cada 100 mil habitantes – uma incidência acumulada semelhante à Índia há duas semanas.

A possibilidade de o Nepal enfrentar uma vaga tão devastadora com a da Índia é ainda mais perturbadora. O país tem um sistema de saúde mais frágil que o seu vizinho, menos médicos per capita e uma taxa de vacinação inferior.


Os hospitais vivem o pior momento da pandemia. Com uma nova vaga de casos a levar à sobrelotação das unidades hospitalares.
À medida que o número de novas infeções aumenta no Nepal, surgem receios de que a situação seja tão grave, se não pior, do que com a Índia, com a qual compartilha uma longa fronteira.


Entre as razões que estão a contribuir para o aumento de casos no país estão os eventos de massas, como festivais, comícios políticos e casamentos, mas também a lenta resposta do Governo e uma complacência generalizada da população face à pandemia.

A longa fronteira entre o Nepal e a Índia é apontado como outro fator determinante para o aumento de infeções. Muitos nepaleses têm os seus negócios na Índia e vice-versa, o que significa uma elevada circulação na fronteira.

O primeiro-ministro, KP Sharma Oli, que foi criticado pela forma como estava a lidar com a pandemia, pediu ao exército qua ajudasse a administrar as instalações de emergência para aliviar a pressão sobre o sistema de saúde.

Com um número de vacinas disponíveis a diminuir e os hospitais sobrelotados, surtos graves atingiram a capital, Katmandu, e as regiões do sudoeste e oeste do país.Em abril, o número de novos casos de Covid-19 no Nepal aumentou de cerca de 100 por dia para mais de oito mil.

No início da semana, KP Sharma Oli apelou à comunidade internacional por vacinas, depois de as autoridades de saúde terem alertado que a população que já tinha recebido uma primeira dose da AstraZeneca necessitava urgentemente da segunda dose.

A campanha de vacinação aleatória do Governo, com pessoas em longas filas na capital, foi responsabilizada pelo aumento da transmissibilidade do novo coronavírus.

Uma das áreas mais atingida fora de Katmandu foi a cidade de Nepalgunj no distrito de Banke, perto da fronteira com o estado indiano de Uttar Pradesh, que sofreu um fluxo repentino de milhares de imigrantes nepaleses que regressavam da Índia antes do encerramento da fronteira entre os dois países.
Previsão horrível do futuro no NepalNecessitamos de agir agora e rapidamente para ter esperança de conter esta catástrofe humana, afirmou Alexander Matheou, diretor da Federação da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho para a Ásia-Pacífico, ao jornal The Guardian.

Já Netra Prasad Timsina, presidente da Cruz Vermelha no Nepal, considera que “o que está a acontecer na Índia é uma previsão horrível do futuro no Nepal se não conseguirmos conter este aumento da doença que está a matar a cada minuto”. País com uma logística difícil“Em Katmandu, muitas pessoas estão a ficar em casa devido à rapidez com que o vírus se está a disseminar. Ao mesmo tempo há longas filas em hospitais e farmácias”, disse Nripendra Khatri, da Catholic Relief Services. “Devido aos bloqueios nas grandes cidades, o acesso aos transportes e aos medicamentos também é afetado. Os crematórios em todo o país estão perto da lotação e os familiares não conseguem realizar a última cerimónia de maneira adequada”, acrescentou.

Segundo Nripendra Khatri, “o Nepal é um país difícil para a logística, especialmente parra equipamentos médicos especializados. O nosso país não tem costa marítima e os suplementos costumam vir da Índia por terra, mas agora a Índia necessita de todos os seus equipamentos médicos”.

“Isso significa que tudo tem de passar pelos aeroportos e todos os voos comerciais foram suspensos, exceto dois voos semanais com Nova Deli. Quando os equipamentos chegam a Katmandu, necessitam de ser distribuídos através de um país de montanhas”.

A muitos lugares só se consegue chegar por estradas de terra ou a pé. Responder a esta crise e garantir que aldeias remotas tenham acesso aos equipamentos é uma tarefa gigantesca” , frisou Nripendra Khatri.
É como se estivéssemos numa zona de guerra
O país, de cerca de 30 milhões de habitantes, tem apenas cerca de 1.600 camas de cuidados intensivos e menos de 600 com ventiladores. Existem 0,7 médicos por 100 mil pessoas, uma taxa inferior à da Índia.

A maioria dos hospitais públicos está sobrecarregada e a população mais pobre não consegue pagar pelos cuidados médicos nas unidades hospitalares privadas.

“É como se estivéssemos numa zona de guerra”,
descreveu o médico Sher Bahadur Pun, chefe da unidade de pesquisa clínica do hospital Sukraraj Tropical, ao Kathmandu Post, acrescentando que os doentes estavam a ser tratados no chão do pátio da unidade hospitalar.

Tal como a Índia, o Governo nepalês permitiu que uma série de grandes festivais religiosos, incluindo o Pahan Charhe, que ajudou a propagar a doença.

Os órgãos de comunicação social nepaleses alegam que as tentativas tardias do Governo para obter vacinas do Serum Institute da Índia foram conduzidas por intermediários em troca de elevadas comissões.
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