Covid-19. Reino Unido receia mais de 120 mil mortes no inverno

O Reino Unido é o país mais afetado pela Covid-19 na Europa. Mas se houver uma segunda vaga de infeções no inverno, os especialistas receiam que possa "​​ser pior" do que a primeira e que as vítimas mortais superem as 120 mil.

RTP /
Yves Herman/Reuters

Os dados mais recentes, relativos ao Reino Unido indicam que o país já contabiliza mais de 291 mil casos de infeções e 44.915 mortes devido à Covid-19. Mas o governo britânico deve começar a preparar-se para um potencial segunda que pode ser mais grave que a primeira.

O alerta partiu de um grupo de cientistas britânicos que receia que, no pior cenário, o novo coronavírus possa matar cerca de 120 mil pessoas só nos hospitais, no próximo inverno.

A Academia de Ciências Médicas divulgou, esta terça-feira, um relatório a apelar a uma "preparação intensiva" dos hospitais e do Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês), durante os meses de julho e agosto, para garantir que no inverno os serviços de saúde não ficam sobrelotados ou sem capacidade de dar resposta.

Segundo os 37 especialistas e autores deste documento, sem uma ação imediata e urgente, uma nova vaga de casos, no inverno, pode sobrecarregar o NHS quando os serviços de saúde já estiverem lotados por doentes com gripe e outras doenças sazonais.

A transmissão do novo coronavírus pode aumentar no inverno, quando as pessoas passam mais tempo juntas em espaços fechados, e uma segunda onda da pandemia "pode ​​ser mais grave do que a que acabamos de passar", disse à Reuters Stephen Holgate, professor e co-autor principal do relatório.

"Isso não é uma previsão, é uma possibilidade", afirmou. "As mortes podem ser superior numa nova onda de Covid-19 neste inverno, mas o risco disso acontecer poderá ser reduzido se agirmos imediatamente".

No pior cenário, os especialistas prevêm que haja uma variação entre 24.500 e 251.000 mortes por Covid-19 apenas em hospitais, atingindo o pico em janeiro e fevereiro. Se as previsões de 120 mil mortes estiverem certas, no inverno Reino Unido terá, pelo menos, o dobro do número da primeira vaga da pandemia.

Esta estimativa, no entanto, não considera restrições, tratamentos ou vacinas, e não inclui as mortes previstas na comunidade nem em lares de terceira idade.

O relatório "Preparando um inverno desafiador 2020/2021" foi solicitado por Patrick Vallance, principal consultor científico do governo britânico, para modelar um cenário "razoável" no pior caso.

Considerando o "alto grau de incerteza", este modelo "estima 119.900 mortes hospitalares entre setembro de 2020 e junho de 2021".

"Com um número relativamente baixo de casos de Covid-19, neste momento, esta é uma oportunidade para nos ajudar a preparar o pior que o inverno pode causar", acrescentou Holgate.

O pior cenário "razoável" pressupõe que o valor R - o número médio de pessoas a que uma pessoa infetada transmite a doença -, praticamente duplique de cerca de 0,9 na Inglaterra para 1,7 em todo o Reino Unido já em setembro.
Gripes e covid-19 podem complicar no inverno

A maioria das investigações realizadas até à data, sugerem que o novo coronavírus pode sobreviver mais tempo em condições mais frias e é mais provável que se transmita mais facilmente quando as pessoas passam mais tempo em ambientes fechados. Segundo os investigadores, o Sars-Cov-2, "muito provavelmente" mostra um padrão sazonal semelhante ao de outros coronavírus.

Por isso, os especialistas estão preocupados com o facto de o NHS estar sob extrema pressão, não apenas devido ao aparecimento de novos picos de Covid-19, mas também à gripe sazonal e à sobrelotação hospitalar normal desta época, mesmo sem haver pandemia.

A vice-presidente da Academia de Ciências Médicas, Anne Johnson, disse que uma epidemia de gripe no inverno, juntamente com um grande número de pacientes que sofrem de outras doenças e condições crónicas, aumentará a enorme pressão sobre os serviços de saúde, daí a necessidade de se preparar agora os hospitais.

"Todos os invernos, vemos um aumento no número de pessoas internadas no hospital e no número de pessoas que morrem no Reino Unido", disse Anne Johnson, também professora de epidemiologia de doenças infecciosas na University College London.

"Isso ocorre devido a uma combinação de infeções sazonais, como a gripe, e os efeitos do clima mais frio, por exemplo, nas doenças cardíacas e pulmonares", continuou. "Neste inverno, precisamos de ter em consideração a probabilidade de outra onda de infeções por covid-19 e os impactos contínuos da primeira onda. Temos que estar preparados para que também possamos sofrer uma epidemia de gripe este ano".

"A covid-19 não desaparece, por isso, todos podem ajudar a reduzir a transmissão com o distanciamento social, com o uso de máscaras, com a boa higiene respiratória e das mãos e com o nível adequado de aquecimento e ventilação das nossas casa", lembrou ainda. "Precisamos de fazer de tudo para nos mantermos saudáveis ​​neste inverno".

"Perante estes desafios, e após um ano já difícil, seria fácil sentir-se sem esperança e impotente. Mas este relatório mostra que podemos agir agora para mudar as coisas para melhor".

O relatório pede que se realize uma campanha de informação pública, uma reorganização das instalações e das equipas de saúde e assistência social para garantir zonas livres de Covid-19, e ainda aumento da capacidade do programa de "teste, rastreamento e isolamento" no Reino Unido.

Os especialistas apelam ainda ao o governo britânico que considere criar um "sistema de vigilância abrangente, quase em tempo real e para toda a população, para minitorizar e gerir uma onda no inverno".

O relatório da Academia de Ciências Médicas foi divulgado no mesmo dia em que Matt Hancock, ministro da Saúde, afirmou que o governo britânico adquiriu lotes suficientes de vacinas, sendo o "maior programa de vacinação de gripe da história".

"Precisamos levar muito a sério esta ameaça de uma nova onda de Covid-19, mas, se nos prepararmos agora, podemos fazer muito para minimizar o risco", afirmou o ministro.

O governo de Boris Johnson garante que continua alerta e "vai garantir os recursos necessários para evitar um segundo pico que sobrecargue o NHS".
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